Estranha Compulsão (1959)

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Nathan Leopold e Richard Loeb, sob a premissa de cometer um “crime perfeito”, acabaram por assassinar um jovem de 14 anos. Descobertos, tiveram seu caso exposto e o julgamento transformado em um circo midiático, diante da defesa de seu advogado Clarence Darrow. A grande questão foi a defesa de Clarence Darrow, que era estritamente contra a pena de morte. Seu discurso defendia que ambos tinham culpa, porém condená-los à morte era igualar-se aos mais terríveis criminosos. Os dois escaparam da morte, foram condenados e a história rodou o mundo em diversos livros e filmes. Enquanto Loeb foi morto ainda na prisão, o Leopold saiu após 30 anos, já casado e morrendo de causas naturais.

Nathan Leopold e Richard Loeb

Em 1948 Alfred Hithcock fez inspirado pela trama fez Rope, trazendo os atores John Dall e Farley Granger como dois jovens fascinados por Nietzsche e que matam um colega de classe apenas para mostrar superioridade. Em Rope, eles ocultam o cadáver enquanto dão uma festa para convidados que incluem os pais do rapaz morto. Primeiro filme colorido do cineasta, teve como maior destaque o plano sequência, tendo apenas oito cortes durante todo o filme.

Rope, 1948

Mas é em Compulsion que a história é levada mais à fundo e ganha traços mais biográficos. Richard Fleischer trouxe na pele dos jovens Dean Stockwell (O Menino do cabelo verde e A luz é para todos) e Bradford Dillman. Como o advogado que os defende da morte, o grande Orson Welles, naqueles filmes em que ele fez para ganhar dinheiro e investir nos seus projetos.
A questão homossexual dos dois é insinuada pela forma como Judd Steiner (Stockwell) é fascinado e faz o que pode para agradar a Arthur (Dillman). Frágil, embora seja extremamente inteligente (fala mais de 15 idiomas diferentes) entrega-se de sobremaneira a esse relacionamento, sendo capaz de fazer todos os desejos do segundo. O ciúme fica claro em algumas cenas em que Arthur, infantil e inconsequente, parece zombar de possíveis relacionamentos com mulheres por parte de Judd. Os dois realmente não parecem capazes de matar em separado, mas juntos parecem ser capazes de tudo.

Bradford Dillman e Dean Stockwell em Compulsion (1959)

A dupla é deixada um pouco de lado com a chegada do advogado de defesa. Após metade do filme, em que se configura um noir, transforma-se em um drama de tribunal com a chegada do advogado, na pele de Orson Welles. E o filme passa a ser dele. Mesmo não dirigindo, o ator e diretor enche a tela com sua presença marcante. Ele encarna no ponto exato o advogado que sabe que seus clientes são assassinos, mas com uma grande eloquência tenta convencer o juiz de que seus clientes não devem morrer.
Embora o filme de Fleishcher não seja uma descrição exata dos acontecimentos, é o mais próximo que temos do acontecido, sendo baseado no romance de Meyer Levin, não por acaso colega de classe dos homens envolvidos. Leopold ainda tentou bloquear a produção dizendo que o filme invadia sua intimidade, mas após ter falado sobre o tema exaustivamente, e ser réu confesso, não podia realmente afirmar que isso feria sua reputação. Sem dúvidas trazendo um tema fascinante, Compulsion é ainda hoje a melhor versão sobre o caso Leopold e Loeb.

Orson Welles (à direita) como o advogado de defesa Jonathan Wilk

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