O que terá acontecido a Baby Jane? (1962)

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Duas irmãs, inimigas, ex-estrelas de cinema, frustradas em suas vidas íntimas e públicas, convivem com seus medos e angústias no mesmo ambiente. Não só convivem: lutam entre si, rivalizam em suas derrotas, num jogo distante da briga do bem contra o mal.

Jane Hudson (Bette) brilhou antes que Blanche (Crawford), sua irmã mais velha. Baby Jane é insuportável, mas as pessoas não parecem perceber: ela é amada, doce, mas fora dos palcos destila o veneno de uma criança birrenta e mal educada. Os pais a mimavam demais da conta, deixando a irmã mais velha entregue ao seu ciúme e raiva, assistindo ao estrelato e a queda de sua irmãzinha. Graças à complacência de pais que não lhe davam limites, a jovem estrela acabou não crescendo emocionalmente: torna-se uma criança cruel e sádica.

Chega então a vez de Blanche, que se torna uma atriz de sucesso no cinema, tentando ajudar de alguma forma sua irmãzinha a voltar ao estrelato. A relação das irmãs não melhora, já que Jane não se conforma de um dia ter sido a estrela, e agora ser apenas a irmã dela. A vida das irmãs sofre mais um revés, quando ao voltar de uma festa, Blanche acaba sofrendo um terrível acidente que a deixa paraplégica. Sua odiosa (e odiada) irmã é a única que pode cuidar dela. A vida das duas torna-se então uma grande tormenta.

Jane tornara-se uma uma mulher alcóolatra, exagerada. Abandonara a si mesma. Talvez não mais responsável por seus atos de crueldade: amarrar a irmã e chutá-la, tirar-lhe o direito de receber o carinho de seu público através de cartas ou flores (que ela rasga ou joga fora). Por não ser mais a criança que cantava e era idolatrada por seu publico, tranca-se em um mundo em que todos um dia irão acordar e perceber que ainda é uma grande estrela mirim. Veste-se como Baby Jane e age como se o tempo tivesse sido aprisionado em suas mãos.

O terror de Blanche renova-se a cada dia: medo de morrer envenenada, de apanhar, de não conseguir sair viva daquela casa que é sua. Com as forças que lhe restam ela desce a escada e puxa o telefone para si: tentativa de conseguir socorro. Nada feito. Seu destino está nas mãos de Jane.

Tudo acontece de certa forma rápida. O filme conta com uma salto no tempo: a infância das duas, um breve momento que mostra o sucesso de Blanche já adulta, culminando com o acidente. E a semana fatídica, em que Jane enlouquece de vez. Jane canta desafinadamente a música “I’ve weitten a letter to daddy”, como se fosse ainda uma criança, com suas roupas cheia de laços e cabelos de cachichos. Um dos pontos mais altos do filme.

Uma disputa de titãs. De Jane e Blanche. De Bette Davis e Joan Crawford, que tão bem carregaram nos seus papéis e sem exageros, o que seria de se esperar de atrizes sem carga dramática, em papéis tão caricatos. Com este filme, Bette foi indicada para o Oscar de melhor atriz, e ainda disputou com Joan o prêmio da BAFTA. Tão famosos quanto os filmes, foram os seus bastidores: a imprensa era bombardeada com notícias que reforçavam a rivalidade das duas atrizes (a coca-cola que Bette insistia em tomar, sabendo que Joan era casada com o dono da Pepsi, por exemplo).

Fato ou não, o que importa é que jamais se viu tamanha disputa em papéis tão distintos. O que terá acontecido a Baby Jane tornou-se um daqueles filmes em que não há possibilidade de refilmagem digna, posto que não existem mais atrizes com o peso e estrutura de Bette Davis e Joan Crawford. Um filme nada familiar.

 

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