Stromboli (1950)

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A angústia de uma mulher que, tendo de escolher entre um campo de concentração e o casamento com um total estranho, escolhe o último. Karen (Ingrid Bergman) vê em Antonio (Mario Vitale) a esperança de dias melhores que aqueles em que vive. E assim começa sua saga. Após a cerimônia, ela é levada pelo marido para a ilha onde ele vive. Stromboli é de uma beleza isolada, de um silêncio sepulcral e de pessoas cujas personalidades foram moldadas pelo isolamento. Imediatamente Karen se vê perdida após constatar que adentrou em uma outra prisão.

O desespero toma conta de sua vida ao perceber que mesmo tentando o diálogo, todas as suas tentativas de se sentir em casa são pouco a pouco abafadas. Ela não tem o direito de ser quem é, pois cada passo seu é medido pela régua da incompreensão. As mulheres assemelham-se a aves de rapina, inertes e ausentes de cores ou energia vital. Os homens dedicam-se apenas a passar os dias até que a velhice chega. Aves de rapina sempre prontas para apontar o dedo. Todas estranham essa estranha mania de Karen por ter sua liberdade.

O que temos em Stromboli é um Roberto Rossellini inspirado e uma Ingrid Bergman entregue à personagem que em muito se diferencia daqueles feitos por ela na América. De cara lavada, vestes simples, interpretação contida e enquadramentos que contemplam o neorrealismo, vemos seu desespero ser retratado de uma maneira peculiar que nos remete diretamente ao movimento italiano surgido no pós guerra. Ingrid torna-se ainda mais gigante. Sentimos isso muito forte quando nos deparamos com os outros atores, pessoas simples e que não eram profissionais da área.

Sua Karen encontra-se presa, mas não por suas escolhas. A reflexão que temos é que estas nem sempre apresentam resultados satisfatórios. As escolhas que fazemos são decorrentes dos rumos que a vida nos oferece. E às vezes escolhemos a estrada que julgamos ser a menos ruim. Esse é o caso de Karen, isolada em uma ilha vulcânica, vendo a natureza enevar-se ao seu redor, e presa dentro de si mesma. Decididamente um filme que oferece várias e amplas leituras. Uma delas remeteria ao paralelo com o revés que teria a vida da própria atriz, enamorada do diretor e “expulsa” da América. Também Ingrid conheceria o isolamento em um novo mundo, e sofreria as consequência de “suas escolhas”.

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