Terra das Sombras (1993)

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C. S. Lewis foi um professor universitário e mais comumente lembrado como o autor das Crônicas de Nárnia. Um respeitado estudioso, produziu vários trabalhos sobre a literatura medieval e era bem amigo de outro grande escritor, J. R. R. Tolkien (O Senhor dos Anéis). Extremamente discreto, era um religioso fervoroso quando conheceu a escritora Joy Davidman por volta de 1952. Após ela mudar-se para a Inglaterra, eles se casaram em 1956.

A relação de amizade e amor entre os dois escritores se tornou tema de um filme para a TV e uma peça teatral, que posteriormente foi levada às telas como Shadowlands. Nela é possível adentrar na intimidade do relacionamento entre os dois, baseado nos relatos feitos pelo próprio Lewis em A Grief Observed, livro lançado após a morte da esposa com um pseudônimo. Engana-se, porém, quem pensa se tratar de uma história de amor convencional.

 Antes ela mais lembra aqueles antigos romances que tantas vezes lemos, e que custamos a acreditar que possa ser real. Lewis e Joy eram muito amigos, e o casamento se deu inicialmente como uma condição para que ela ficasse na Inglaterra, já que o visto da escritora havia sido negado pelo governo. Era um casamento de conveniência, falaria Lewis para seus amigos. Os dois permaneceram vivendo em casas separadas e foi somente quando Joy foi diagnosticada com câncer que a vida dos dois mudaria para sempre. Esse momento trágico fez com que o escritor finalmente percebesse o quanto precisava da presença dela, o quanto o medo de a perder o fazia um homem mais triste. O casal oficializou a relação em uma cerimônia na igreja.

Shadowlands foi filmado anteriormente em 1985, numa versão televisiva que tinha como intérpretes principais Jos Ackland e Claire Bloom (Luzes da Ribalta). Em 1993 Richard Attenborough transformou em uma versão cinematográfica, trazendo dessa vez Anthony Hopkins e Debra Winger como o casal. Attenborough, um grande diretor que admiro ~ vide Gandhi, Chaplin e Um Grito de Liberdade ~ surge aqui com seu último grande filme. Após esse ele não teria grandes destaques.
Anthony Hopkins é um ator fabuloso, mas daqueles que repetem-se constantemente nos mesmos personagens. Aqui eu vislumbro um pouco do que ele pode ser quando se transforma verdadeiramente em outro para o papel proposto. O sofrimento de Lewis, e que leva-o a duvidar de sua própria fé, é trazido em seu rosto em uma interpretação soberana. Hopkins encontrou o timing certo ao retratá-lo como um amável, porém distante professor universitário. Debra Winger também deve ser elogiada e é uma pena que uma atriz como ela, que foi indicada por seu papel, tenha sido tão pouco aproveitada em bons papéis no cinema.

Há algumas coisas que não consigo concordar, como por exemplo, apagarem pessoas reais das histórias baseadas em fatos reais. Joy na verdade teve dois filhos, e não um como mostrado no filme. Embora com um ritmo bastante arrastado para alguns, Terra das Sombras traz diálogos profundos e simbólicos, como aquele em que Lewis fala sobre o seu amor por Joy:

“Não não é a minha esposa. Não, como poderia ser? Eu teria que amá-la, não teria? Ela teria que ser mais importante para mim do que qualquer coisa no mundo. Eu teria que sofrer os tormentos dos condenados na simples ideia de perdê-la.”

Você pode conferir Terra das Sombras no dvd lançado pela Classicline. Está à venda em todas as lojas do ramo. Bom filme!

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