Tudo que o Céu Permite, de Douglas Sirk, no Janela de Cinema do Recife

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A Era de Ouro de Hollywood não poderia ficar de fora do X Janela Internacional de Cinema, que acontece no Recife nesta semana. O Cinema São Luiz e o Cinema do Museu receberam um dos mais importantes filmes da carreira do alemão Douglas Sirk, Tudo que o Céu Permite.

As cores saturadas do Technicolor preencheram as telas durante duas sessões, que como de costume, levou ao cinema cinéfilos de primeira viagem e, claro, fãs do filme, que o receberam com aplausos.

Tudo que o Céu Permite conta a história de Cary, uma viúva que vive uma vida entediante e de aparências numa pequena cidade americana, que ao se apaixonar por um jovem jardineiro, enfrenta uma repressão inesperada do seu entorno social e de sua própria família.

A presença marcada do romance e do melodrama não impede Douglas Sirk de ir longe, e se tematicamente temos um filme rico, esteticamente não deixa nada a desejar. O diretor de fotografia Russell Metty exalta as cores da alta sociedade americana, mas também as das estações, já que a história de amor de Cary e Ron tem início num simpático outono e caminha aos poucos para um inverno gris.

Sendo um longa americano de 1955, Tudo que o Céu Permite soa ainda mais poderoso. Sua crítica à sociedade e ao papel que a mulher exerce nela até hoje é assunto de muito debate, na metade do século XX então…

Cary, interpretada genuinamente por Jane Wyman, precisa abrir mão de sua felicidade para não ferir o orgulho dos amigos, inimigos, vizinhos, e até seus filhos, que são absurdamente egoístas. Nem o metido Ned (William Reynolds) nem Kay (Gloria Talbott), com toda sua polpa de intelectual, fazem um esforço para compreender a mãe, que se sente num meio do fogo cruzado, dividida entre a vida que sempre levou com a que pode ter a partir de agora se casar com Ron (Rock Hudson).

E Sirk e Metty não abrem mão de usar seu arsenal de boas ideias ao colocar Cary refletida na televisão que ganha de presente do filho, quando a mesma sempre se negou a comprar uma… segundo ela é o que falta para uma mulher velha e solitária. Aliás, o significado da tv na obra é um das mais geniais, pois resume muito bem uma grande questão do filme, o que se espera de uma mulher na época que a tecnologia chegava aos EUA.

Tudo que o Céu Permite é um verdadeiro marco do cinema clássico, da filmografia de Douglas Sirk e do cinema de melodrama, que tem o cineasta como “mestre”. O cinema de Sirk ganhou diversos adeptos nos anos que se seguiram, desde Rainer Werner Fassbinder (O Medo Consome a Alma) à Mike Leigh (Segredos e Mentiras) até Todd Haynes (Carol).

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