Mala Sinha Relembra sua trajetória em Bollywood

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Com uma beleza exótica aliada a um enorme talento,  se converteu em uma das musas de Yash Chopra. Conhecida também pela parceria firmada com o diretor Guru Dutt, se tornou uma lenda no cinema indiano ao longo de duas décadas. Estamos falando de Mala Sinha.

Primeiros Tempos

Nascida de pais nepaleses em Calcutá, Mala Sinha era filha única do casal e se apaixonou pelo cinema graças ao seu pai, que a levava para as sessões nos cinemas locais. Chegando em casa, a garota imitava sequências de música que via. Seu pai, que um dia sonhou em ser cantor, viu potencialidade na filha e contratou professores de música e dança.

Mala começou a se apresentar em pequenas festas religiosas e era uma boa cantora, embora não tivesse podido soltar sua voz nos filmes em que atuaria. Isso explica-se pelo fato de na Índia a indústria cinematográfica separa os cantores dos atores. Há aqueles que seguem a carreira específica e o mercado respeita os cantores como Lata Mangeshkar ou Mukesh, que chegaram a dublar grande parte dos filmes das décadas de 50 e 60. Aos atores é destinada a dublagem e a dança, além da interpretação.

Após tê-la visto em uma de suas apresentações, o cineasta Ardhendu Bose ofereceu um teste para a garota que iniciou a carreira aos 14 anos em Jai Vaishno Devi . Ela seguiu fazendo filmes em Bengali, mas foi sua chegada ao cinema hindi que lhe abriu as portas para o sucesso.

Um grande astro com quem ela teve oportunidade de trabalhar foi Dev Anand, com quem esteve em Maya (1961). E ela seria a grande estrela da obra prima de Guru Dutt, Pyaasa (1957). A atriz estava temerosa em conhecer o grande diretor, e conta que ele sempre a deixou à vontade para aprovar suas cenas. Mala lembra-se dele também como um grande sonhador, que muitas vezes ficava perdido em seus pensamentos e passava horas olhando para o céu como em busca de inspiração.

Segundo Mala, Guru preocupava-se com cada um de seus técnicos, supervisionando cada etapa da produção e verificando pessoalmente se eles estavam bem e alimentados. O diretor e ator foi encontrado morto em seu apartamento em 1964 após uma alta dose de medicamentos e bebidas. Até hoje não se sabe se foi uma overdose acidental, embora Dutt já tivesse tentado o suicídio duas vezes antes. Aqui nesse vídeo Mala e Dutt são dublados por Mohammed Rafi, Geeta Dutt:

 

Conhecendo Raj Kapoor e se tornando musa de Yash Chopra

Mala cresceu ouvindo as histórias e assistindo aos filmes de Raj Kapoor e Nargis e tinha esperanças de um dia protagonizar ao lado de seu grande ídolo. Imagine a alegria que ela sentiu quando a ofereceram um papel ao lado dele em Parvarish (1958). A atriz não dormiu na noite anterior a que ia conhecer o ator e revisava seus textos atenciosamente.

No dia seguinte, quando os dois finalmente se encontraram, ela estava muito nervosa mas após vê-lo verificou que Raj não era apenas um grande ídolo, mas um homem extremamente gentil e carinhoso, e que lhe ajudou a se sentir mais à vontade. Raj falou em bengali com ela para que a atriz se sentisse mais à vontade. Outra boa lembrança da atriz foi de um momento em que ele, que também era diretor, interferiu na condução de uma cena.


Raj não estava satisfeito em ver que apenas ele mesmo tinha todas as atenções das câmeras (fato comum tendo em vista que ele era o grande astro naquele momento) e pediu que o diretor S. Bannerjee a colocasse no mesmo nível dele. “Raj não era apenas um grande diretor e ator, era também um grande homem”. Os dois trabalharam juntos mais duas vezes, em Main Nashe Mein Hoon (1959) e Phir Subah Hogi (1958), este último uma versão indiana de Crime e Punição, de Dostoevsky. Abaixo, uma cena dos dois em Parvarish:

 

Mala também atuou ao lado do irmão de Raj, Shammi Kapoor em Dil Tera Deewana Hai Sanam.

Yash Chopra se tornou um dos mais conhecidos diretores do cinema hindi desde que estreou com Dhool Ka Phool (1959). Foram mais de cinco décadas colecionando grandes sucessos e dirigindo algumas das maiores estrelas de seu país, e Mala Sinha foi a primeira de suas heroínas. Em Dhool Ka Phool, a interpretação de uma mãe solteira que abandona seu filho foi um grande desafio para Mala, sobretudo nas cenas do parto, já que ela nunca tinha tido um filho.

Ao lado de Rajendra Kumar em Dhool Ka Phool
Mala também viu a estréia de outro grande astro do cinema hindi: foi com ela que Dharmendra alcançou finalmente o sucesso, se tornando um dos astros mais aclamados. Mala alcançou o sucesso, mas jamais se abalou com ele. Continuava a mesma menina simples e que manteve boas amizades no meio, sempre com palavras gentis sobre seus companheiros de cena, como Sanjeev Kumar, que ela considerava um grande brincalhão. “Fora das telas ele era muito criança e adorava pregar peças nos amigos”. Da nova geração, Amitabh Bachchan era o mais sério, e jamais a deixou chegar muito perto, talvez pela diferença da idade, comentou a atriz.
Lalkar (1972)

O Fim de uma Era

Mala com sua filha

Quando estava trabalhando em Maitighar (1966), Mala se apaixonou pelo ator Chidambar Prasad Lohani. Os dois começaram a namorar durante as filmagens e acabaram unindo os laços em 1968. Mala continuou a trabalhar mesmo após o nascimento de sua filha Pratibha. Essa prática não era muito comum às atrizes indianas, muitas das quais abandonaram as carreiras para se dedicarem tão somente aos casamentos. Mas o casamento trouxe a ela uma carreira com personagens menos glamourosos. Sua carreira seguiu até 1994 quando aos 58 anos resolveu se aposentar das telas. O motivo do afastamento teria sido uma grande depressão que a atingiu com a morte de seu pai.

A atriz ao lado do marido

Seu pai foi o homem que cuidou de sua carreira desde os primeiros dias, ajudando-a com seus roteiros, seus trajes e a acompanhando às reuniões. Ele também não autorizava a atender telefones em sua ausência. Após sua morte, Mala conta que não se sentia à vontade para voltar para a frente das telas sem sua presença nos sets. “Ele era meu guru, minha força e minha fonte de inspiração”.

A atriz de 79 anos leva uma vida simples em Bandra, fazendo suas próprias compras e acompanhando também de perto sua filha Pratibhas, que se tornou uma atriz. Em entrevista recente ela reconheceu a saudade que sente das telas, mesmo se dedicando ao trabalho social. “Reduzi meu trabalho enquanto minha filha estava crescendo e quando meus pais adoeceram. Quanto a mim, estou aberta a papéis, afinal, uma artista nunca morre”.

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