Robert Bresson: O Mestre do Minimalismo

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Robert Bresson tem uma filmografia consideravelmente pequena, se considerarmos a sua contribuição para a cinematografia mundial. Ele é creditado quatorze vezes na direção em quase cinco décadas de carreira que se iniciou com o lançamento de Affaires Publiques (1934). O filme destoa de toda a obra bressoniana por causa do seu estilo, bem distante do que ele desenvolveria tempos depois e foi considerado perdido até um bom tempo atrás. Um dos motivos que faziam com que seus projetos demorassem a estrear era o caráter pouco comercial de suas obras que consequentemente não conseguiam atrair financiadores.

Antes de se tornar um diretor, Bresson se formou em Artes Plásticas e se dedicava à pintura. Seu caráter subversivo fez com que fosse preso em um campo de concentração durante a segunda guerra mundial. Ninguém sai imune de uma guerra, e isto de fato serviu para ampliar sua visão espiritual, tão presente em seus filmes.

Bresson durante as filmagens de A Grande Testemunha
Dentre as temáticas preferidas do diretor estão a solidão exacerbada de seus personagens, as dificuldades em manter uma comunicação, a força do destino e da culpa que assola tantos deles em cenas por vezes fragmentadas, e o desejo da morte como única possibilidade de libertação. E apesar de preferir usar atores não profissionais, conseguia causar através de suas histórias e personagens um sentimentalismo e reflexões poucas vezes vistos.

Em 1975 o cineasta escreveu algumas reflexões sobre a arte de fazer filmes em “Notas sobre o Cinematógrafo”, assim chamado em homenagem aos Irmãos Lumière e seu cinematógrafo. Nela ele explicita seu pensamento acerta das produções, linha de interpretação e modelos (os atores não profissionais). O caráter minimalista dessas anotações acabaram por influenciar um movimento que surgiria muitos anos depois, o Dogma 95, assinado por Thomas Vintenberg e Lars Von Trier. Outro cineasta influenciado por sua obra foi o russo Andrei Tarkovsky.

Com François Truffaut em Cannes 1967
No livro ele se posiciona também contra as expressões teatrais utilizadas também no cinema, preferindo causar sensações através das imagens apresentadas. Segundo o diretor, “o cinema não é um espetáculo, mas uma escritura”. As conclusões seriam tomadas pelos espectadores, evitando muitas explicações que poderiam atrapalhar a mensagem, que muitas vezes são apresentados em cenas fragmentadas e cortes rápidos. O uso de closes aproximam o personagem do espectador, causando uma intimidade maior.
Se você quiser conhecer um pouco mais sobre sua obra, vale a pena ver alguns de seus filmes principais que na sua grande maioria foi lançada no Brasil. Também não deixe de ler “Notas sobre o Cinematógrafo”, assinado por ele mesmo e o livro “Bresson – ou O Ato Puro das Metamorfoses”, do crítico e ensaísta Jean Sémolué que faz um estudo sobre a obra do cineasta.
As Damas do Bois de Boulogne (1945): Na década de 40, Hélene, uma mulher da alta sociedade, é abandonada pelo amante e para se vingar, convence a prostituta Agnes a seduzí-lo e fazê-lo se apaixonar. Porém, ele acaba se casando com a mulher e Hélene resolve contar o passado de Agnes.Baseado em “Jacques o Fatalista”, e teve o roteiro feito por Jean Cocteau. Com María Casares.

Diário de um Pároco de Aldeia (1951):  Nomeado para a paróquia de Ambricourt, uma pequena aldeia da França, um jovem padre não é bem recebido pelos moradores. Com a saúde debilitada, por problemas no estômago, ele tenta lidar com a situação, contando com o auxílio de um padre do vilarejo vizinho. Com Bernard Hubrenne.

Pickpocket – O Batedor de Carteiras (1959): Michel é um homem amargurado e depressivo que tenta sua sorte nas ruas de Paris, roubando bolsas e carteiras. Filmada de uma forma inteiramente impessoal e controlada, como um teatro de marionetes, toda a tensão do filme não está no que ocorre durante as cenas, mas no que não ocorre.

O Processo de Joana D’Arc (1952): Robert Bresson reconstituiu a prisão, o julgamento e a execução da mártir Joana D’Arc, baseando-se exclusivamente em documentos históricos. Austero, sóbrio e revelador, Bresson recorreu a atores não-profissionais para mostrar o martírio dessa figura histórica do século 15.
A Grande Testemunha (1966): Uma obra de enorme cariz simbólico, onde a concepção humana e espiritual das personagens, virtudes, receios e defeitos, é encompassada pelo olhar e presença de um burro, de seu nome Balthazar, que surge quase como uma figura de matriz religiosa. Não é um burro qualquer. No circo descobrem-lhe qualidades extraordinárias, como uma inteligência rara que lhe permite resolver difíceis operações de multiplicar. Intemporal, pela reflexão que provoca e pela universalidade que evoca.

Mouchette (1967): Uma jovem garota francesa solitária, desprezada pelo pai e com a mãe doente, se envolve com um forasteiro que a usa como álibi do assassinato de um policial.

Uma Mulher Delicada (1969): Baseado em obra de Dostoiévski. Através de flashbacks, o filme mostra a história de uma mulher frustrada por não conseguir se adaptar ao comportamento e caráter do marido, o que a leva ao suicídio.

Quatro Noites de um Sonhador  (1971): Homem solitário encontra uma moça chorosa que pensa em se matar à beira de uma ponte e se apaixona perdidamente por ela, que, por sua vez, ama outro homem, quiçá indigno de seu amor. Baseado em “Noites Brancas” (1848), romance de Fiodor Dostoievski.

O Diabo, Provavelmente (1977): Charles é um adolescente que vaga pela cidade sem futuro aparente, rejeitando o superficial estilo de vida moderno. Quando sua família, amigos e psiquiatra não conseguem ajudá-lo a achar um caminho, ele começa a se relacionar com duas mulheres e um hippie.

O Dinheiro (1983): Uma nota falsa de 500 francos é fabricada, e cai nas mãos de um jovem cuja mesada foi cortada. Como num efeito caótico, a nota vai passando de mão em mão, e sua importância vai aumentando, até que explode nas mãos de um empregado de uma petrolífera, que é detido e perde o emprego. Mas a espiral não pára, e esse acontecimento vai crescendo, levando-o ao endividamento, vida do crime e assassinato.

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