Olivia de Havilland chega aos 101 Anos

19592

Olivia de Havilland chega finalmente aos 100 anos. A inesquecível Melanie de E o Vento Levou carrega uma história rica de amores, fama e paixão pela vida.

Enquanto todas as atrizes buscavam freneticamente o papel de Scarlett O’Hara de E o Vento Levou, Olivia de Havilland era escolhida para interpretar Melanie, a doce e invejada amiga da protagonista. A meiguice emprestada por Olivia tornou sua personagem inesquecível, dentro de um elenco que se tornou icônico. Passadas décadas desde a estréia do filme, apenas Olivia e Mickey Kuhn (que na época tinha 7 anos) permanecem vivos.

As irmãs em um restaurante de Nova York em 1962
Olivia de Havilland com a mãe e Joan Fontaine

É curioso que uma das maiores atrizes americanas tenha nascido em Tóquio em 1 de julho de 1916. Sua mãe, Lilian Fontaine, também era atriz, e sua irmã mais nova, Joan, também seguiria seus passos. O relacionamento entre as duas sempre foi conturbado, como tratamos na matéria em que falamos sobre ambas, e a melhor solução foi mesmo a separação após tantos embates. A imprensa, ávida pela história das irmãs vencedoras do Oscar dificilmente as deixaria esquecer das visgas que possuíam.

Olivia mudou-se com a família ainda criança para a Califórnia. Quando participava de uma peça na faculdade, foi vista por Max Reinhardt. Impressionado com a jovem ele a chamou para participar de “Sonho de uma Noite de Verão” (1935).  A atuação de Olivia lhe rendeu um contrato de sete anos com a Warner.

“Sonho de uma Noite de Verão” (1935)
A Midsummer Night’s Dream (1935)

Em 1934 Olivia conheceria o seu par mais constante da primeira fase de sua carreira. Com O Capitão Blood (1935) ela iniciaria uma parceria sólida com Errol Flynn. Foram oito filmes entre 1935 e 1941 e a química entre os dois era visível em tela. Depois de negar durante anos sobre um possível romance entre os dois, ela falou finalmente sobre o relacionamento que tinha com o ator, afirmando que não gosta de falar sobre o assunto, sobretudo por causa da fama de mulherengo que Errol tinha, mas reconhece que se sentia atraída por ele, e que chegaram a se apaixonar. Porém, o casamento dele com a atriz Lili Damita impediu que o romance fosse longe.

A dupla se reencontraria mais tarde na França, dois anos antes da morte dele em 1959. A princípio ela não o reconhecera, pois anos de bebida o fizeram envelhecer precocemente. Mas aquele olhar permanecia o mesmo da época em que atuaram juntos. Flynn morreu de um ataque cardíaco aos 50 anos, se tornando inesquecível nos filmes de capa e espada.

Ao lado de Errol Flynn em Captain Blood (1935)
Novamente com Errol Flynn em Dodge City (1939)

Sua interpretação da doce Melanie em E o Vento Levou marcaria sua carreira de forma significativa e por ela seria indicada ao seu primeiro Oscar de atriz coadjuvante. Não ganhou, mas a marca impressa de sua personagem a alçaria ao patamar de uma das atrizes mais completas de sua época.

Olivia tinha lido o romance de Margaret Mitchell, mas não se identificava com Melanie. Tampouco tinha ficado impressionada com a história. Foi somente após ler o roteiro adaptado que ela se apaixonou, pois nele Melanie parecia uma personagem mais real, totalmente diferente. A explicação está no fato de no livro essa personagem ser apresentada ao leitor sob a visão pessoal de Scarlett, personagem principal, e que criava uma imagem negativa dela.

It’s Love I’m After (1937)
O convite para o papel veio de George Cukor, que a tinha visto nas aventuras de Robin Hood. Após realizar os testes, veio a parte mais difícil que era convencer Jack Warner a emprestá-la para outro estúdio. As filmagens transcorreram sem grandes problemas e ela se deu bem com grande parte do elenco, sobretudo Clark Gable, em quem chegou a pregar algumas peças. Na noite da premiação do Oscar ela estava ansiosa e ter perdido o prêmio a deixou imensamente frustrada. No entanto, a perda fez com que ela repensasse seu modo de ver as coisas e seu desejo era ser mais do que uma coadjuvante. Ela ganharia o Oscar, mas como atriz principal.
Ao lado de Clak Gable, como a Melanie de E o Vento Levou (1939)

E de fato em 1941 Olivia foi indicada mais uma vez, desta vez pelo romance/suspense A Porta de Ouro. Falei um pouco mais sobre a concepção do filme aqui nesse link. Curiosamente, ela perderia o prêmio para sua irmã, Joan Fontaine, que naquele ano se destacava com sua personagem Lina McLaidlaw Aysgarth em Suspeita, filme de Alfred Hitchcock. Brigadas nessa época, Joan negou o cumprimento da irmã.

Fredric March e Olivia de Havilland posam para Anthony Adverse em fotografia publicitária para Anthony Adverse (1936)

Assim como tantos profissionais daquela época, Olivia começava a se incomodar com as ofertas oferecidas a ela. Bette Davis chegou a ser suspensa por causa desse sistema dos estúdios e Cary Grant passou a trabalhar sem contrato a maior parte de sua vida. Recusando papéis, Olivia também entrava nessa briga e impondo-se, começou a receber melhores papéis. Foi com a personagem Jody, uma mulher que é obrigada a dar seu filho para a adoção em “Só Resta uma Lágrima” que ela finalmente recebeu seu primeiro Oscar.

Comemorando seu aniversário nos bastidores de The Heiress (1949)

Tarde Demais (1950) trazia a história da herdeira Catherine Sloper, uma jovem oprimida por seu pai, que não consegue se adaptar à sociedade mas que, porém, poderá se tornar uma algoz por ter sido imensamente ferida. O filme trouxe para a atriz o seu segundo prêmio da Academia.

Ter recebido prêmios dos colegas e da crítica não a fez mudar sua linha de raciocínio, e sua visão sobre Hollywood se tornava cada vez mais amarga. A atriz estava visivelmente decepcionada com Hollywood, e a competição com sua irmã Joan Fontaine também contribuia para sua decisão. Desejava morar em um país que emanava cultura, e a França foi a melhor opção. Em 1955 Olivia decidiu mudar-se definitivamente para Paris com seu segundo marido.

Mais uma grande interpretação, dessa vez em The Snake Pit

Em 1965 se tornou a primeira mulher a dirigir o júri do Festival de Cannes. A atriz recebeu a Legião de Honra em 2010 das mãos do presidente Nicolas Sarkozy que estava visivelmente emocionado em estar na presença de “Melanie”. Em Paris ela fez muitos amigos e manteve os que fizera na América. Bette Davis e Ida Lupino estavam entre suas melhores.

Dividindo a tela com sua amiga Bette Davis em In This Our Life (1942)

Uma Vida Discreta

Olivia chegou a se apaixonar por Howard Hugles por volta de 1939. O produtor, porém, não se empolgou com a atriz, e nesse período estava envolvido com Katharine Hepburn. Devido à sua proximidade com ele, porém, a atriz desenvolveu a paixão pela aviação. Dentre seus romances, estão o que teve com o diretor John Huston.

Dentre suas melhores amigas no meio estava Bette Davis, que ela considerava a segunda maior estrela. A primeira, claro, era Greta Garbo. As duas estiveram juntas em quatro filmes. sendo o último Hush … Hush, Sweet Charlotte, de 1964.

Rodeada de artistas, Olivia se casou duas vezes, com dois escritores. A primeira em 1946, com Marcus Goodrich. Os dois tiveram um filho, Benjamin (1949 – 1991) e se separaram em 1952. O segundo, com Pierre Galante, que ela conheceu durante sua viagem a Paris onde participaria do Festival de Cannes. Devido as regras de divórcio, o casal só iria oficializar a relação em 1955 e no ano seguinte nasceria sua filha Gisele.  O casal se divorciaria em 1979.

Marcus e Olivia
Com Pierre no dia do nascimento de Gisele
Pierre, Benjamin, Gisele e Olivia
Olivia com seus dois filhos
Olivia com seus dois filhos

Encerrando um capítulo sobre a antiga discussão entre as duas irmãs, Joan falou em uma entrevista que se casou antes de Olivia, teve um filho antes dela, recebeu um Oscar e que se morresse antes sua irmã também ficaria furiosa por ela até nisso chegar antes. E de fato Joan faleceu aos 96 anos. Olivia, porém, ficou tremendamente triste com a morte de sua irmã mais nova em dezembro de 2013.

Bastante reservada quanto a sua vida privada, Olivia geralmente não gosta de homenagens. A atriz que se despediu das telas em 1988 com o televisivo The Woman He Loved se aposentou e aparece esporadicamente em alguns eventos e programas para TV. Apesar de viver sozinha com seus cuidadores, gasta bom tempo de seu dia conversando com sua filha Gisele, que vive na América. Assiste a poucos filmes atuais, e dedica-se a escrever suas memórias desde 2003. Olivia sente-se empolgada com a ideia de completar 100 anos, o que considera uma grande conquista. E é, para ela, e para nós. Uma atriz com uma bela história de vida, que viveu seus amores plenamente, foi amada e amou, e odiou em igual intensidade. Seu nome está inscrito na história do cinema que ajudou a propagar e tê-la entre nós é uma imensa honra. Viva, Olivia, você já é uma imortal.

Alguns de seus grandes momentos, dentro e fora das telas:

Olivia e Dick Powell em Hard to Get (1938)
Com Leslie Howard no romance It’s Love I’m After (1937)
A atriz posa ao lado de Marlene Dietrich
Nos sets de The Adventures of Robin Hood, 1938
Foto publicitária para Libel (1959)
Cena de The Adventures of Robin Hood
Dividindo a tela com Rita Hayworth em The Strawberry Blonde (1941)
Com Errol Flynn em The Adventures of Robin Hood
Em cena com Montgomery Clift em The Heiress (1949)
Ao lado de Henry Fonda em The Male Animal (1942)
Com o grande James Cagney em The Strawberry Blonde (1941)
Ao lado de James Stewart e Bette Davis, grandes amigos
Uma de suas melhores interpretações no suspense Lady in a Cage
Bette Davis e Olivia em Hush… Hush, Sweet Charlotte (1964). Olivia substituiu Joan Crawford
Olivia e Bette Davis nos bastidores de Hush… Hush, Sweet Charlotte (1964)
Com Angelina Jolie

Fontes:
http://www.vanityfair.com/hollywood/2016/04/olivia-de-havilland-joan-fontaine-sibling-rivalry
http://www.ew.com/article/2015/01/29/olivie-de-havilland-gone-with-the-wind
http://www.independent.co.uk/arts-entertainment/films/features/sibling-rivalry-hollywoods-oldest-feud-828301.html

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