Conrad Veidt pode ser um nome desconhecido por boa parte dos cinéfilos atuais. Porém, ele foi um dos atores de maior destaque entre as décadas de 20 e 40. Não fosse sua partida precoce, aos 50 anos, talvez hoje em dia fosse mais lembrado. Suas feições marcantes e forte expressão contribuíram para designarem-no para papéis de vilões e assassinos. Diferente de seus personagens, ele era conhecido, porém, por sua extrema generosidade e luta contra o nazismo. Vamos conhecer um pouco mais de sua história.
A grande guerra interrompeu sua carreira durante dois anos. Recrutado para o exército alemão, contraiu icterícia e foi afastado definitivamente em 1916. Pode então retornar aos palcos, onde aprendeu técnicas e se desenvolveu como ator. Este ano marcou também uma mudança significativa em sua vida, quando, por motivos financeiros, resolveu apostar também em filmes. E apesar de amar os palcos, o cinema definitivamente tomaria conta de seus dias. A estréia veio com Der Weg des Todes.
Em 1919 ele estava presente em Diferente dos Outros / Anders als die Andern. Dirigido por Richard Oswald, o filme foi o primeiro a falar abertamente sobre os direitos dos homossexuais, ao focar na história do violinista apaixonado por um de seus alunos. Eram tempos difíceis, e todas as cópias foram destruídas pela censura alemã em 1920. Existe hoje em dia somente uma cópia com diversos cortes.
Em O Gabinete do Dr. Caligari / Das Kabinett do Dr. Caligari (1921), de Robert Wiene, interpreta um sonâmbulo Césare. Foi o seu papel de grande destaque naquele que é considerado o maior clássico do expressionismo. Impressionando mais uma vez pela entrega ao personagem, Conrad firmou-se definitivamente como profissional, e teve seu nome reconhecido no país. Tornou-se um dos dois atores mais pagos da Alemanha, ficando atrás somente de Emil Jannings. A obra também deu início a uma série de personagens carregados de tensão.
Em 1926, Conrad conheceu o ator americano John Barrymore. Este o convidou para visita-lo em Hollywood, e quem sabe tentar a sorte em terras americanas. Ele foi muito bem recebido e logo acolhido por compatriotas como Paul Leni e Ernst Lubitsch. Com os devidos contatos, Conrad conseguiu um contrato de dois anos com a Universal.
Porém, como seu inglês era precário e seu sotaque forte, teve poucas chances naquele momento. Preferiu partir para uma carreira na Inglaterra, naturalizando-se inglês. Na Alemanha, participou de Das Land ohne Frauen (1929) o primeiro filme falado do país. A chegada do nazismo traria grandes consequências para sua vida. Após fazer uma participação na produção inglesa O Judeu Suss / Jew Suess (1934), se tornou uma persona non grata em sua terra natal. O ator foi ameaçado e chegou a ser preso. Temendo represálias, partiu com sua segunda esposa para a América. Sua filha Viola, e sua ex-esposa partiram em segurança para a Suíça. Ele jamais voltaria a vê-las.
Casablanca foi a grande surpresa de 1942. O grande clássico de Michael Curtiz, trazia no elenco nomes como Humphrey Bogart, Paul Henreid, Claude Rains, Peter Lorre e Ingrid Bergman. A obra que mostra a tensão de um homem que deve escolher entre o amor e a razão, venceu na categoria de Melhor Filme. Conrad interpreta o major Heinrich Strasser. Segundo o ator, “o personagem simbolizava a crueldade e os instintos criminosos dos assassinos nazistas”.
Conrad certa vez falou sobre como trabalha seus personagens:
“Quando recebo um novo papel, pego primeiramente o roteiro e o leio diversas vezes. Me infecto totalmente com ele. Dias depois, retiro-me e me concentro no que vem pela frente. Muito em breve começo a me sentir como o personagem que vou retratar. Me transformo nele.”
Os amigos eram unânimes ao dizer que, apesar de interpretar grandes vilões, ele era um homem pacato, modesto e calmo. No início da década de 40, o ator desfrutava de boas relações e amplo sucesso na América. Teria, sem dúvidas, uma longa carreira. Porém, foi com surpresa que todos receberam a notícia de sua repentina morte em 3 de abril de 1943. O ator estava jogando golfe, um de seus hobbies preferidos, quando sofreu um ataque cardíaco. Tinha apenas 50 anos.
Como resultado de uma forte campanha contra seu nome, sua ex-esposa e filha só souberam de sua morte algum tempo depois, pelo rádio. Suas imagens foram banidas durante um bom tempo e somente nos anos 70 seu nome voltaria a ser lembrado com o relançamento de alguns de seus filmes.
Fontes: IMDB, The life and legacy of Conrad Veidt, The Story of Conrad Veidt, Bio of Conrad Veidt, Veidt by his Contemporaries, Conrad Veidt, Findagrave.