Henry Mancini, o compositor de Moon River

2239

Texto de Magda Miranda
Nascido Enrico Nicola Mancini em Cleveland (Ohio), Estados Unidos no dia 16 de abril de 1924, Henry Mancini, como passou a ser conhecido pelo seu nome artístico, foi o compositor, pianista e arranjador de maior projeção no cinema, desde cedo soube que seu caminho era a música. Seu pai, Quinto, um imigrante italiano, também era músico e o instrumento que tocava era a flauta. Sua mãe se chamava Anna e também era italiana, seus pais eram provenientes da cidade de Abruzzo na Itália.

Desde os 12 anos o menino Enrico passa a estudar música, primeiramente através do seu pai, iniciando-se na flauta e no piano. Em pouco tempo começou a se interessar por arranjos. Apesar de ter passado fases importantes de sua vida em Aliquipa, Pensilvânia, passa a estudar música na Juilliard School of Music, em Nova York (1942). Anos mais tarde fez especialização em Música para Cinema tornando-se pupilo do compositor italiano Mario Castelnuovo-Tedesco.

Serviu ao exército durante a Segunda Guerra Mundial, mas trocou a infantaria pela banda. Nesse período se tornou arranjador e pianista da Orquestra de Glenn Miller. Foi também através da música que ele conheceu sua esposa Ginny O’Connor, quando atuava como pianista em Los Angeles. Com ela teve três filhos: Christopher e as gêmeas, Felice e Monica.

Entrou para a Universal Studios na década de 50 onde começou a fazer arranjos e a compor para filmes como “Creature from the Black Lagoon” e “The Glenn Miller Story”(ambos de 1954), deste último uma indicação ao Oscar.

Henry Mancini teve sua própria orquestra, que logo passou a ser contratada pela RCA Victor, depois pela BMG. Reza a lenda que todos os cantores do coro da orquestra eram contratados por Ginny O’Connor, sua esposa que também era cantora. A orquestra de Henry Mancini gravou mais de 90 álbuns. Durante os anos de 1972 e 1973 Mancini tinha seu próprio programa semanal de variedades e música na TV americana, “The Mancini Generation”, com seus 40 músicos, sendo que cada programa tinha duração de 30 minutos. Durante sua vida também escreveu dois livros: um sobre música (um livro técnico sobre orquestração e música popular) e o outro sua autobriografia. O livro sobre música se chama “Sound and Scores”, publicado em 1962, sua autobiografia se intitulou “Did They Mention the Music?” (1989) com a cooperação de Gene Lees.

Mas foi o mesmo o cinema que imortalizou as obras de Henry Mancini. Entre as suas trilhas sonoras mais conhecidas e de sucesso absoluto estão: “Moon River”, a canção tema do filme Breakfast at Tiffany’s/Bonequinha de Luxo (1961) e “The Pink Panther Theme” para a A Pantera Cor-de-Rosa (direção de Blake Edwards) e “Charade” de 1963 bem como o famoso “Charlie’s Angels theme song” da série Americana “Charlie’s Angels”(1976), conhecido no Brasil como As Panteras.

Henry Mancini, Breakfast at Tiffany’s e Audrey Hepburn

A música “Moon River” que faz parte da trilha sonora de “Breakfast at Tiffany’s (1961) foi composta por Johnny Mercer e Henry Mancini especialmente para a voz da atriz Audrey Hepburn. Mancini já tinha ouvido Audrey cantar no filme “Funny Face” (1957) e estudou a extensão vocal dela para o piano, em seguida começou a dedilhar até encontrar a melodia da canção, que ganharia o Oscar naquele ano. Aliás, toda as músicas de Breakfast at Tiffany’s foram compostas por Henry Mancini como: Something for Cat, Sally’s Tomato, Mr. Yunioshi, The Big Blow Out, Hub Caps and Tail Lights, Breakfast at Tiffany’s, Latin Golightly, Holly, Loose Caboose e The Big Heist; As músicas em parceria com Johnny Mercer são: Moon River e Moon River Cha Cha.

 O filme não só ganhou o Oscar de Melhor Canção como o de Melhor Trilha Sonora Original. A trilha sonora fez tanto sucesso que na época foi lançada em LP, Audrey não permitiu que Mancini a publicasse com a música Mon River interpretada por ela, fato que o desapontou um pouco, mas compreendeu Audrey e atendeu-a prontamente. Sobre Mon River, Mancini chegou a mencionar que de todas as gravações e versões da música, a sempre mais linda foi a original interpretada por Audrey Repburn em voz e violão. Além de Breakfast at Tiffany´s, Audrey ainda participou de mais três filmes com trilhas sonoras de Mancini: Charada (Charade, 1963), Uma Estrada para Dois (Two For the Road, 1967) e Um Clarão nas Trevas (Wait Until Dark, 1967).

Blake Edwards

A amizade com o diretor e roteirista Blake Edwards é antiga. 1958 é o ponto de partida desta parceria que levaria 30 anos, sendo requisitado por Blake Edwards inicialmente para as séries “Peter Gunn” e “Mr. Lucky”, depois para o cinema com “Mr. Cory”, “High Time”, “Operation Petticoat”, “Breakfast at Tiffany’s”, “Days of Wine and Roses”, “What Did You Do in the War, Daddy?”, “Victor/Victoria”, “Darling Lili” e muitos outros. Das mãos de Blake Edwards, Mancini levaria os três Oscars de sua vida: Melhor Canção (“Moon River”, letra de Johnny Mercer) para “Breakfast at Tiffany’s (1961), Melhor Canção “Days of Wine and Roses”, (1962) e dois para “Victor/Victoria”, em 1982: Melhor Trilha Sonora e Melhor Partitura (com Leslie Bricusse nas letras das canções).

Entre 1963 e 1993 Mancini reinava absoluto na trilha sonora da série A Pantera-cor-de-rosa também dirigida por Blake Edwards. No episódio “Pink Plunk Pink” ele aparece no final da cena aplaudindo a música tema e a própria Pantera. The Pink Panther Theme ganhou várias versões mundo afora, como a da salsa e mambo, em países como a Colômbia e samba no Brasil.

Contribuições para outros cineastas e prêmios

Costuma-se dizer que a trilhas sonoras são antes e depois de Mancini porque ele foi um divisor de águas na História da Música para Cinema. Antes de Mancini os filmes Americanos possuíam uma trilha quase sinfônica. Mancini passa a revolucionar com o mainstream jazz na trilha do filme “A Touch of Evil” (A Marca da Maldade, 1958), dirigido por Orson Welles. Depois dele, muitos outros compositores e músicos de trilhas sonoras passam a levar um trabalho diversificado para o cinema. Mancini também trabalhou para Paul Newman em “Sometimes a Great Notion” (1970) e “The Glass Menagerie”(1973) de Anthony Harvey; Howard Hawks “Hatari!”(1962); Vittorio de Sica “The Sunflower”, Os Girassóis da Rússia (1970), Norman Jewison “Gaily, Gaily” (1969); Martin Ritt “The Molly Maguires”(1970); George Roy Hill “The Great Waldo Pepper” e claro, muitos outros. Uma boa parte do trabalho de Henry Mancini foi classificada pelos críticos como easy listening.
 Em 1992 Henry Mancini fez um de seus últimos trabalhos para o cinema em “Tom and Jerry – The Movie”. Na mesma época conduziu e regeu a filarmônica de Londres, onde se apresentou o tenor Luciano Pavarotti. Henry Mancini nunca deixou de divulgar música e dedicar toda uma vida a ela. Sua família também o acompanhava no amor a música: sua esposa Ginny fundou em 1948 uma Sociedade de Cantores, organização sem fins lucrativos, que beneficia a saúde e o bem estar dos cantores em todo mundo. Uma de suas filhas, Monica Mancini também é cantora professional e Christopher, seu filho é um editor de música e promotor em Los Angeles.

Morreu aos 70 anos de câncer no pâncreas, em sua casa em Bervely Hills (Los Angeles) em 14 de junho de 1994. Na época de seu falecimento tinha acabado de trabalhar na trilha de “Victor-Victoria”, que infelizmente não chegou a vê-la encenada na Broadway. Em 1996 foi criado na Califórnia por Jack Elliot o Henry Mancini Institute, uma academia para os jovens profissionais da música, mas infelizmente esteve para fechar suas portas no ano 2000 e tendo suas atividades totalmente encerradas em 30 de Dezembro de 2006.

Henry Mancini foi indicado a 72 Grammys em sua vida, tendo ganho 20. Suas canções e trilhas sonoras obtiveram 18 indicações ao Oscar, tendo ganho 4, foi indicado a dois Emmys e ganhou um Globo de Ouro. Seu trabalho no cinema foi muito mais do que o mencionado aqui neste breve texto.

Comente Aqui!