Judy Garland era uma adolescente de 13 anos quando cantou “Dear mr. Gable”, uma adaptação de uma famosa música no filme Broadway Melody, de 1938. No filme, sua personagem escreve uma carta para seu grande ídolo Clark Gable, exaltando sua paixão e como a imagem dele pode lhe levar a dois extremos de felicidade ou tristeza. Era o efeito que Gable causava no público em geral. Amado pelas mulheres e admirado pelos homens, se tornou um fenômeno uma década depois que galãs como Douglas Fairbanks ou Rodolfo Valentino perdiam espaço. Gable e seus personagens traziam o ideal do sonho americano, a coragem e sensualidade que o faziam objeto de desejo de tantos.
O jeito canalha assumido tanto na vida privada quanto nos filmes atraía atenções em uma época em que o macho alfa era visto com muita aceitação. E assim ele trazia sempre a mesma expressão de um único personagem, adaptado para os diversos filmes em que participou. E não eram poucos. Segundo o IMDB, mais de 83 participações entre 1923 e 1961, grande parte como protagonista. O fato é que o mercado designava determinados atores para determinados papéis. E Gable encaixava-se bem no que se propunha fazer.
Em um de seus primeiros filmes, “Uma alma livre”, ele aparecia maltratando uma mulher rica, interpretada por Norma Shearer. Seguiram-se Greta Garbo, Jean Harlow, Joan Crawford, Barbara Stanwick, Ava Gardner, Marilyn Monroe, Mary Astor, Grace Kelly. Incapazes de pequenas gentilezas, seus personagens esbanjavam charme, mas também tapas, empurrões, beijos roubados, palavras duras, que incrivelmente arrebatavam fãs e mais fãs a cada filme que viesse. Falamos de outros tempos.
Após duas tentativas frustradas de casamento, Clark casou-se com Carole Lombard, uma atriz de sucesso, comediante dentro e fora das telas. Ele usara muitas mulheres para subir na carreira (dizem que homens também), e quando conquistou o estrelato , foi ao lado de Carole que buscou a felicidade. Felicidade esta que terminaria quando ela, ao voltar de uma campanha, teve morte instantânea ao seu avião se chocar contra montanhas, perto de Las Vegas.
Ela tinha 32 anos e os dois tinham três anos de casados. Gable se alistou no exército para fugir da dor que sentia, e pelo remorso de tê-la incentivado a embarcar naquele avião rumo a morte. Com o fim da guerra, Gable, quase na meia idade, voltou para Hollywood, inseguro quanto a sua vida e carreira. Foi um pouco difícil retornar aos holofotes, com fãs, jornalistas e equipes de cinema no seu encalço. Trabalho, trabalho, trabalho.
Seu nonagésimo filme seria Os Desajustados, ao lado de Marilyn Monroe e Montgomery Clift. Marilyn era fã dele desde a infância, quando fantasiava que Clark era o pai que ela não conhecera. O filme era pesado, pois os três atores principais passavam por momentos delicados em sua vida. Clark jamais se erguera depois da morte da esposa, Montgomery ainda sofria de dores físicas e psicológicas de um acidente que sofrera anos antes e Marilyn passava por uma piora em seu estado psicológico. Duas semanas depois de terminar o filme, Clark morreu de ataque cardíaco aos 59 anos. Quatro meses depois nascia seu filho.
Clark começou no cinema como o protótipo do homem que maltrata as mulheres, tornando-se uma figura de inegável magnetismo.