História do Cinema Pernambucano

6485

O cinema produzido em Pernambuco em sua maior parte delimitou-se aos filmes feitos em Recife. Iniciando-se com o Ciclo do Recife, na era do cinema mudo, atravessou períodos em que nada foi produzido, até que na década de 70 chega o movimento dos filmes produzidos em Super-8. Hoje em dia temos grande destaque no cinema produzido no Estado, mas uma grande história está por trás de tudo isso. Vamos a ela?

O CICLO DE RECIFE

A filha do advogado (1927)

Tudo começou em 1922 quando os pernambucanos Hugo Falângola e J. Cambiére trouxeram a primeira câmera da Itália para o Recife. Ela era usada para fazer documentários sobre o governo. Esses documentários eram passados antes dos filmes. Mas eles tencionavam fazer um pólo cinematográfico na cidade, a exemplo do que começava a se delinear também em outros locais como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo e iniciam o Ciclo do Recife.

Compõem o Ciclo filmes produzidos na cidade na década de 20 e que tem como pioneiros, Ary Severo, Jota Soares, Edson Chagas. Os primeiros filmes tiveram influência direta do que era produzido no mundo. Segundo Eduardo Duarte:

“Os pioneiros do Ciclo de Recife tem um cardápio sortido de obras cinematográficas das mais diversas nacionalidades. (…) O fluxo dessas obras permite ampla troca de influências, tanto que, em alguns filmes europeus, pode-se encontrar o cowboy americano. O drama final feliz é universal nas telas. Independente do surgimento de vanguardas, o cinema chamado burguês sempre teve o seu espaço cativo. É essa estética que é absorvida pela produção cinematográfica pernambucana”.

Assim sendo, os filmes imitavam muito do que era feito lá fora, reproduzindo roupas, costumes e gêneros e ignorando traços da cultura regional. No filme “Herói do século XX”, de Ary Severo, por exemplo o personagem principal imita o ator americano Buster Keaton.

Ary Severo em Herói do século XX

Aitaré da Praia, um filme que traz a história de um pescador, já surge com uma estética mais regional. Esse filme, segundo Alex Viany é “uma grande afirmação do cinema genuinamente nacional” (VIANY, Alex. Introdução ao Cinema Brasileiro. Rio de Janeiro, Alhambra – Embrafilme, 1987). Estão presentes elementos culturais pernambucanos como a pesca, os cenários, mas a influência do cinema americano é muito presente nas vestimentas: os pescadores aparecem de calça e duas camisas, e as mocinhas desfilam com meias de seda na praia. Isso mostra que os primeiros realizadores ainda não estavam muito ambientados com a questão estética.

Outra problemática nesse período de filmes mudos são as legendas. Estas deveriam servir de apoio, mas não. As cenas que deveriam ser auto-explicativas acabam não sendo suficientes e o uso excessivo de legendas são utilizadas. Além disso o uso da linguagem excessivamente culta com palavras rebuscadas não facilita muito a vida de quem assiste aos filmes.
Retribuição (1923)
Filmes importantes do ciclo: Retribuição (1923); Aitaré da Praia (1925); Um ato de humanidade (1923); Jurando vingar (1925); Filho sem mãe (1925); Grandezas de Pernambuco (1925); Histórias de uma alma (1925); Herói do século vinte (1926); A filha do advogado (1927); Sangue de irmão (1926); Reveses (1927); Destino das rosas (1929); No cenário da vida (1930, dentre outros.Na década de 30 com a chegada do cinema falado, cria-se uma falsa expectativa de que finalmente o cinema recifense vai decolar com a chegada do som. Mas o mesmo não ocorre, já que até mesmo grandes produtores americanos sofrem para se adaptar aos novos tempos. Muitos cinemas, sobretudo os de interior acabam sendo fechados, por falta de investimento na nova tecnologia, mesmo que os filmes lançados ainda não tenham grande qualidade de som. Assim também ocorre com o Ciclo do Recife, que não consegue se manter após a chegada do som.

Poucos filmes foram produzidos durante o período que vai de 1930 a 1969, e algumas dessas poucas produções foram perdidas, como “O Coelho Sai”, de Firmo Neto.

MOVIMENTO SUPER 8

O formato Super-8 ganhou esse nome por ter 8 milímetros de largura e foi desenvolvido nos anos 60 e lançado pela Kodak. Esse formato permite a gravação de som sincronizado com a imagem.O movimento teve início em 1973 em Pernambuco e apesar de durar pouco tempo, teve tanto destaque quanto o Ciclo do Recife, com a diferença de que aqui já existia um cunho bem nacionalista, mas restrito a festivais nacionais de curta metragem. Desses se destacam Caboclinhos do Recife (Fernando Spencer), Bajado, um artista de Olinda (Fernando Spencer e Celso Marconi). Outros diretores que se destacaram são Athos Cardoso, Celso Marconi e Jomar Muniz de Brito.

CINEMA CONTEMPORÂNEO

 A grande retomada do cinema pernambucano aconteceu em 1997 com a realização do filme Baile Perfumado, de Lírio Ferreira e Paulo Caldas. De lá para cá o Pernambuco coleciona grandes sucessos e críticas, com cineastas consagrados nacionalmente. Destaque para Claudio Assis (Febre do Rato e Amarelo Manga), Marcelo Gomes, Marcelo Lordello, Kleber Mendonça Filho, Gabriel Mascaro, Daniel Aragão e Leonardo Lacca.

É difícil considerar o cinema feito em Pernambuco como regionalista, já que ele foca em temas universais e ultrapassa os regionalismos. Por isso os cineastas desta terra são considerados no momento os mais profícuos do Brasil, inspirando tantos outros filmes produzidos fora desse eixo, como é o caso de Lula Buarque de Hollanda, que se falou em entrevista recente no CinePE ter se inspirado nas produções mais recentes de Pernambuco para realizar seu mais recente filme, “Vendedor de Passados”.

FONTES CONSULTADAS

DUARTE, Eduardo: Cinema: a estética do ciclo do Recife.
FIGUERÔA, Alexandre. Cinema Pernambucano: uma história em ciclos. Recife: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 2000.

Comente Aqui!