Morre Ruth de Souza, aos 98 anos

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A atriz de 98 anos estava internada há uma semana. Ruth estava com pneumonia no Centro de Tratamento Intensivo do Hospital Copa D’Or, em Copacabana no Rio de janeiro.

O amor pela interpretação começou ainda na infância, quando ela teve contato com o cinema e o teatro. Foi o filme americano “Tarzan, o Filho da Selva” (1932) que despertou nela o desejo de entrar par ao meio. Também assistia a algumas peças no Teatro municipal. Um dia leu uma reportagem na revista Rio sobre um grupo de atores negros que compunham o grupo Teatro Experimental do Negro (TEN), sob a batuta de Abdias do Nascimento desde 1944. Ao procurar o ativista, entrou no grupo e teve sua primeira oportunidade. Naquele período ela não sabia, mas entrava definitivamente para a história.

Em 1946 ela faria um marco, ao se tornar a primeira atriz negra a se apresentar nos palcos do Teatro Municipal do Rio de Janeiro com a peça “O Imperador Jones”. O grupo seguiria se apresentando com vários sucessos. Imaginem o quanto foi difícil naquele momento. Antes disso o que ocorria era a apresentação de atores brancos pintados de negros (blackface), e apresentando personagens de maneira estereotipada. Paralelamente ela receberia propostas para iniciar uma carreira cinematográfica. Finalmente em 1948, foi indicada por Jorge Amado para “Terra Violenta”, adaptação para as telas de seu livro Terras do sem Fim.

Atuando em vários ramos da dramaturgia, Ruth também participou de várias radionovelas e teleteatros, sempre trazendo a marca de sua competência. Nos anos 60 começaria a se dedicar à televisão, canal pelo qual se tornou mais conhecida. Vieram contratos para a TV Excelsior e posteriormente a Rede Globo. Neste quesito, Ruth também se tornou uma pioneira, sendo a primeira atriz negra a ser protagonista em uma novela. Foi em A Cabana do Pai Tomás (1969).

Ruth relembrou em algumas entrevistas o quanto teve que se superar para vencer todos os obstáculos, e tem plena consciência de sua importância na luta contra os estereótipos sociais no Brasil. Como ela conseguiu? Ela mesma explica na entrevista concedida à UOL:
“É que eu sempre briguei e cobrei muito de todo o mundo para ter espaço. Mas foi a Janete Clair e o Dias Gomes que deram a mim e ao Milton Gonçalves a oportunidade de fazer todo o tipo de trabalho. Antes deles, era só a negra gorda alegre, feito a empregada do ‘…E o Vento Levou’. Havia muito disso no teatro, antes da televisão e do cinema. E mesmo Hollywood, só depois que Hattie McDaniel ganhou o Oscar que isso começou a mudar. Antes, os negros eram mostrados de forma ridicularizada.”

Conciliando tv, cinema e teatro, se transformou em uma das maiores atrizes de nosso tempo. Mas os caminhos não foram tão fáceis. Se em nosso tempo ainda lutamos para combater o racismo, nas décadas em que Ruth iniciou e seguiu sua carreira era ainda mais difícil. Ela se superou? Sim, e a isso somos muito gratos. Mas não deveria ser tão difícil assim. As pedras que a grande atriz teve que levar durante décadas deveriam ter sido menores. Mas maior que eles foi sua vitória em personagens que ficaram marcados por sua competência.  Por toda sua trajetória, talento e luta, nosso eterno obrigado à icônica Ruth de Souza.

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