Segundo biografia, Judy Garland “estava vivendo em tempo emprestado”

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* Resenha publicada inicialmente em 2000 no blog Purviance.

Pensei numa palavra para definir esse livro. A única que me veio foi “cru”. Esse é um livro cru. Não no sentido de ser indigerível, nem de ser áspero e cruel com o biografado. Ele é cru no sentido de afastar-se no ponto exato, de mostrar de forma quase imparcial a história dessa magnífica atriz. Durante três semanas posso dizer que convivi com Judy. Acompanhei cada fase de sua vida, desde sua infância, com sua estréia nos palcos aos 2 anos, até a idade adulta, quando tinha medo deles.

“Baby Gumm”, uma criança destinada ao sucesso

Shipman nos deixa espaço para pensar se gostamos, simpatizamos, amamos, odiamos ou seja lá o que for. Ele mostra como uma realidade específica pode transformar um espírito sensível como o de Judy. No início uma jovenzinha humilde, que escutava a todos, que se deixava levar pela mãe, que tinha medo, traumas (sentia-se gorda, imensamente gorda e feia), que se ressentia quando lhe desprezavam (ficou 1 ano encostada na MGM porque ela não sabia o que fazer com uma pré adolescente que cantava com voz de adulta). Uma mulher que sorria quando as coisas pareciam piorar, que no fundo do poço ainda levantava e dizia: “bem, o bom é que pior não fica…”, e sorria e começava tudo de novo, fazendo dos fatos uma piada a ser contada aos outros.

A mesma pessoa que acabava prejudicando os estúdios (com o tempo passou a ficar instável, faltava nas filmagens, chegava tarde, adoecia, engordava e emagrecia, dava shows de estrelismos) sabia reconhecer quando estava errada, e pedia desculpas em público. E era difícil, realmente difícil resistir quando ela fazia isso.

Essa mulher “descontrolada” amava cantar. Amava muito, mas muito mais do que interpretar. Aos dois anos ela pulou no palco e saiu carregada de lá. Por ela ficaria a noite toda. Foi a primeira vez que sentiu os aplausos, e viciou. E como ela amava o público. E como os tratava bem, sentia-se em êxtase quando os aplausos lhe cercavam. Muitas vezes cantava mais de quatro vezes a última música, e , como criança, tinha que sair carregada do palco (dessa vez exausta e abalada por conta da mistura de drogas que ingeria para conseguir ficar de pé).

Uma jovem e elegante Judy no final da década de 40.

A medida que sua vida vai se extinguindo (numa mistura de anti depressivos, controladores de peso, soníferos e bebidas), as dívidas (quando morreu tinha 4 milhões de dólares em dívidas) e os processos contra ela aumentando ela ainda seguiu, tropeçando. É difícil o último capítulo, que narra seus últimos tempos, já sem casa, com um marido que lhe explora, e uma filha que, assim como ela própria (que rejeitou a sua até o fim da sua vida), não se dá bem com a mãe.

Dormindo de casa em casa, de favor, até que um dia encontra a morte, não se sabe se por acidente, ou se de propósito. Segundo seu médico, “Ela estava vivendo em tempo emprestado. Quando examinei Garland há oito anos, ela estava com cirrose nos rins. Achei que seria muito bom ela durar uns 5 anos. Ela viveu três a mais do que imaginei.”

Livros bajuladores não nos fazem sentir que estamos conhecendo a verdadeira face do biografado. Bem, confesso que para mim é difícil distanciar-me, principalmente quando se trata de alguém a quem cativo. Mas acabo admirando quem consegue isso. Quem puder, quiser ou conseguir…

Livro: SHIPMAN, David. Judy Garland: a primeira biografia completa. Record, 1997

O livro está esgotado nas livrarias. Porém, é possível encontra-lo na Estante Virtual. Clique na imagem para verificar os vendedores disponíveis:

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