Natalia Pavlovna Paley fugiu ao lado de sua mãe e irmã, e se tornou uma conhecida socialite nos Estados Unidos. Conheça a história da Romanov que se tornou atriz.
Natalia Pavlovna von Hohenfelsen nasceu em 5 de dezembro de 1905. Era filha do grão duque Paul Alexandrovich, irmão do imperador Alexandre III e tio de Nicolau II, último czar da Rússia. Sua mãe era a condessa Olga Paley. O casamento de seus pais não foi inicialmente aceito pelo czar, já que tanto Alexandrovich quanto Olga tinham sido casados anteriormente com outras pessoas. A união causou grande escândalo dentro da família.
Olga e Alexandrovich tiveram três filhos: Vladimir Pavlovich Paley (1897–1918), Irina Pavlovna Paley (1903–1990) e Natalia (1905 – 1981). Com a recusa do czar, o casal e filhas passaram a morar em Paris, onde Natalia nasceu em meio a grande luxo e acesso à cultura. Foi somente em 1912 que a família recebeu o perdão de Nicolau II e pode retornar à Rússia. Em 1914 passaram a morar em um luxuoso palácio em Tsarkoe Selo.
Quando Nicolau II foi preso, era incrível, mas os familiares pareciam não ter noção do perigo que chegava. A família de Natalia resolveu permanecer no palácio, mesmo em meio às revoltas e eminente queda. As condições em meio às agitações se tornavam cada vez piores. Aos poucos começaram a passar por dificuldades, sendo forçados a mudarem para outra casa quando os suprimentos e aquecimentos foram tirados. Posteriormente a casa foi transformada em museu.
Vladimir, irmão de Natalia, foi capturado junto com outros parentes e enviado para o exíliio russo. Em 1918 o mesmo foi executado com 21 anos de idade. Seu pai, Alexandrovich, também foi preso. Olga se mudou para mais perto, na esperança de ver ainda seu marido, mas ele foi executado em janeiro de 1919. Seu corpo foi jogado em uma vala comum, junto a outros corpos da família.
As meninas Natalia e Irina permaneceram sob os cuidados de uma governanta. Devido ao clima geral, Olga decidiu que era hora de fugir com as garotas de 12 e 14 anos. Após uma assustadora fuga que durou vários dias, as três conseguiram chegar à Finlândia, partindo para Suécia e depois se estabelecendo na França.
Olga vendeu suas jóias de valor e comprou uma casa em Biarritz, França. As filhas foram enviadas para uma escola na Suíça, mas Natalia não conseguia interagir com seus colegas devido aos traumas vividos e a perda do pai:
” Eu tinha enfrentado a morte, tão perto. Meu pai, meu irmão, meus primos, meus tios, executados, todo o sangue de Romanov espirrou na minha adolescência. Isso me deu um gosto por coisas tristes, poesia, a antecâmara gelada e relâmpago da morte. ” Fonte
Natalia, mesmo assim, seguiu sua vida. Conheceu Lucien Lelong em um bazar. Ele era um costureiro francês que já tinha sido casado e lhe ofereceu um trabalho em uma de suas lojas. Ela passou a trabalhar no departamento de perfumes. Sua beleza foi notada por todos e ela logo iniciou uma carreira como modelo.
Lucien lhe propôs casamento. Natalia aceitou, pois a união seria útil para ambos: ele havia sido um herói de guerra e ela tinha o sangue nobre e podia elevar os negócios. Há rumores que o casamento jamais teria sido consumado, pois Lucien era homossexual.
A modelo foi bastante requisitada, posando para fotógrafos famosos de sua época. Mas seu casamento estava fadado ao fracasso após um tempo. Ainda casada, ela iniciou um romance com o dançarino Serge Lifar e depois com Jean Cocteau.
Já separada, Natalia começou a estudar atuação com Eve Francis. Neste mesmo ano estreou no cinema em L’epervier (1933) e em seguida The Private Life of Don Juan (1934). Nesse período partiu para os Estados Unidos e conseguiu fazer uma pequena participação em Sylvia Scarlett (1935). A atriz não chegou a ser creditada, mas ficou muito amiga de Katharine Hepburn, estrela do filme.
Sua carreira como atriz não teve muito futuro e ela ainda chegou a participar em mais um filme na França antes de se aposentar das telas. Mesmo assim, decidiu fixar residência em Nova York. Foi lá que conheceu o produtor John C. Wilson, antigo amante de Noel Coward. Os dois se casaram em 1937, e mais uma vez Natalia entrava em uma relação de conveniência.
Mas ao contrário do primeiro marido, John era um excelente amigo. Gostavam de desfrutar da companhia um do outro e costumavam viajar constantemente. Em 1941 ela se tornou cidadã americana e uma das figuras mais requisitadas nas festas. Sua fama lhe valeu um convite para trabalhar como promotora da casa de moda Mainbocher.
Como seu casamento era de conveniência, ambos estavam abertos para ter seus relacionamentos com outras pessoas. Assim, Natalia teve um longo relacionamento com o escritor Erich Maria Remarque, e serviu de inspiração para seu romance Shadows in Paradise.
John faleceu em novembro de 1961, aos 62 anos. Tinha passado os últimos anos muito debilitado devido a demência. Sua partida deixou Natalia mais abalada do que todos esperavam. Ela se retirou da sociedade e passou a viver de maneira discreta. Recusava todos os convites e não recebia visitas. A companhia daquela mulher tão requisitada passou a ser seus animais de estimação e sua diversão um aparelho de tv.
Mas Natalia também começava a apresentar problemas de saúde. Tinha diabetes, e gradualmente começou a perder a visão. Com a cegueira, ficou ainda mais amargurada e se negava a receber até parentes.
Em 1981 Natalia sofreu uma queda no banheiro, fraturando o fêmur. Internada às pressas, passou por uma cirurgia, mas não conseguiu sobreviver. Faleceu em 27 de dezembro de 1981 aos 76 anos. Tinha fim uma parte da história.