A MGM construiu uma piscina, para que ela pudesse mergulhar e mostrar ao mundo seu talento. Após a fama, desenvolveu uma carreira de sucesso como empresária. Mas jamais seria esquecida, afinal, poderia haver várias estrelas que o céu na Metro, mas apenas uma sereia.
Busby Berkeley se tornou conhecido por seus caleidoscópios humanos, criados desde a década de 30 para a companhia. Hollywood o conheceu em 1933 e sua contribuição futura para os musicais se sentiria também nos filmes estrelados futuramente por Esther Williams.
Leonina, a atriz nasceu em Los Angeles em 8 de agosto de 1921. Quinta filha do casal Bula e Lou Williams, foi entregue aos cuidados de sua irmã mais velha, Maurine, que tinha apenas 14 anos na época. Seu irmão Stanton chegou a estrelar alguns filmes do cinema mudo como A Woman Who Understood (1920) e The Forbidden Woman (1920). Em 1929 porém, após passar mal durante o almoço, o jovem de 16 anos morreria. Na época, Esther tinha oito anos.
Foi nesse período que a futura estrela entregou-se a um dos maiores prazeres de sua vida: a natação. Estar na piscina se configurou em um dos momentos mais relaxantes para ela que, em 1939 ganhava uma medalha de ouro no revezamento de 300 metros. Em sua biografia, a atriz conta sobre um estupro que sofreu aos 13 anos de idade, realizado por um amigo da família.
Aos 16 anos fazia parte da equipe do Clube de natação de Los Angeles, ganhando três campeonatos nacionais. Em 1940 fazia parte da equipe que iria para Tóquio, mas a eclosão da segunda guerra mundial cancelou seus planos e sonhos de se tornar uma nadadora internacionalmente conhecida.
Esther não sabia, mas já era observada quando chamou a atenção do showman Billy Rose. Observando sua excelente fotogenia, ele a convidou para participar ao lado de Johnny Weissmuller no San Francisco Aquacade. A atriz dedicou algumas observações sobre o nadador e ator, falando que ele tinha consciência de sua presença e se achava magnífico. Porém, ele um atleta na cama.
A Metro procurava estrelas para fazer concorrência a Sonja Henie, atleta que ganhara o ouro olímpico e agora brilhava nas telas da 20th Century Fox. Louis B. Mayer ofereceu um teste de cena para Esther, que diante das possibilidades, resolveu investir nessa nova carreira que surgia. A série Andy Hardy, estrelada por Mickey Rooney, trazia as aventuras de um jovem, seus problemas com as namoradas, os estudos e o relacionamento com seus pais. Fazia muito sucesso e Andy era o jovem que todo pai e mãe gostariam de ter. Nessa série debutaram muitas futuras estrelas como como Judy Garland (a maior parceira das telas de Rooney), Kathryn Grayson, Ann Rutherford e Lana Turner (com quem Rooney flertaria).
Diante disso, era uma grande oportunidade ser chamada para uma participação ao lado do astro que rendia tanto lucro à empresa. Quando Esther apareceu vestida em um biquini em Andy Hardy’s Double Life (1942), o público a recebeu de braços abertos. Tinha então 21 anos e interpretava Sheila, uma estudante pela qual Andy se apaixonaria.
Em A Guy Named Joe (1943) ela trabalharia pela primeira vez com Van Johnson, parceiro em mais quatro filmes. Sabendo que a química entre os dois era grande, a Metro os convocava para eventos que compareciam juntos. Havia uma esperança que os dois engatassem um romance, embora a atriz fosse casada. Mas segundo Van, nada ocorreu, pois na época ela estava bem apaixonada por seu marido Ben Gage.
Após Bathing Beauty (1944) ela finalmente seria alçada à categoria de estrela.O primeiro filme de natação de Hollywood criava um novo gênero, que seria totalmente dominado pela atriz. Antes e depois dela não houve mais ninguém. Suas habilidades atléticas eram realçadas por um carisma extraordinário e por uma beleza ímpar.
Para a realização de suas cenas, fizeram uma piscina de 90 pés com profundidade de 30. Segundo a atriz, ela era a responsável por toda a criação dos movimentos subaquáticos, ficando a cargo de Busby Berkeley a composição das cenas com chamas, fumaças e nadadoras que a acompanhavam. Esse seria o primeiro musical technicolor em que ela participaria, e o cartaz chamava a atenção para a estrela em trajes de banho.
Em suas memórias, a atriz relembra que as filmagens de Take Me Out to the Ball Game (1949), lhe foram dolorosas por causa de Gene Kelly. O astro tinha fama de ser extremamente exigente e futuramente teria problemas também com a estreante Debbie Reynolds – chegando a fazê-la chorar após horas de ensaios. Com Esther não seria diferente.
Apesar de atuar ao lado da sereia da MGM, ele lutou até o final para que ela tivesse menos destaque, e não tivesse cenas aquáticas. Uma ainda ficaria, mas a atriz guardaria a mágoa para sempre. Kelly também a desprezava constantemente e soltava piadinhas quando ela passava. A atriz, no entanto, ficou bastante amiga de Sinatra, que sempre a tratou com muita consideração e carinho.
Sua fama se estendeu na década de 50 e Million Dollar Mermaid (1952) foi seu maior sucesso. A atriz estava muito à vontade retratando nas telas a australiana Annette Kellerman. Durante as filmagens, ela se envolveu com Victor Mature, que interpretava o marido de Annette. A atriz considerava esse seu filme favorito entre os realizados durante sua vida.
Os musicais viviam seu ápice durante as décadas de 40 e 50 e nomes como Judy Garland, Cyd Charisse e os granes Gene Kelly e Fred Astaire se tornavam absolutos num período de guerra e no pós. Basicamente, o público queria ir aos cinemas para esquecer um pouco dos problemas, e tudo o que queriam era assistir a musicais leves, repletos de cores e representados por astros com um alto astral.
A publicidade da Metro mantinha o nome de Williams e de outros nos jornais, fotografando-os em diversas atividades de seu dia e em eventos sociais. Uma das mais queridas de seu tempo, era comum encontra-la enfeitando capas diversas. Do início da década de 40 até o final dos anos 50, quando encerrou seu contrato na MGM, Esther tinha participado de vinte e seis filmes. A carreira da atriz também serviu muito à natação, ajudando a promover a competitiva e sincronizada e popularizando as categorias.
Alguns problemas foram enfrentados desde o início de sua vida em Hollywood. Um deles eram os trajes. Como era algo novo para os figurinistas, acostumados com o peso de outros trajes, fizeram de início maiôs que não eram práticos. O resultado era que a nadadora mergulhava na piscina e simplesmente afundada. Marcou demais os presentes que a viram arrancar as vestes para não morrer afogada e nadar nua na piscina até alcançar as bordas. Em Million Dollar Mermaid ainda, ela usava uma coroa de ouro que trazia 50.000 lantejoulas. Ao mergulhar foi direto para o fundo. Como resultado ela teve quebrou alguns ossos e ficou seis meses usando um molde. As dores de cabeça a acompanhariam durante toda a vida.
Ao contrário de muitos de seus colegas que resistiam a reconhecer o óbvio, Williams sabia que a fama era transitória. Ela como vem, vai. Muitos se frustam, mas é movimento da vida que uns chegam quando outros partem. Sabendo disso, desde cedo a atriz começou a investir em outros negócios que poderiam garantir seu futuro. Colocou seu nome em uma linha de maiôs e de produtos para piscinas.
Sentindo que poderia alçar outro tipo de filme, Esther solicitou que a escalassem em outro tipo de filme, em dramas. A Metro, assim como outros estúdios da época, tinham um sistema que simplesmente não facilitava isso. Os atores eram produzidos para serem ou heróis, ou vilões, ou mocinhas, ou atuarem em dramas, ou musicais. Isso com certeza facilitava para o público identificarem o tipo de filme que viam, mas fazia com que os atores fossem desmotivados nas escolhas, e tivessem poucas opções de ampliar seus talentos.
Uma conhecida desse sistema e que se frustrou profundamente foi Marilyn Monroe, apenas escalada para fazer louras burras. Mas o público também não ajudava. Quando Esther finalmente fez dramas, não foi bem recepcionada: “The Hoodlum Santo” (1946) e “The Unguarded Moment ” (1956) se transformaram em grandes fiascos.
Após recusar-se a participar de The Opposite Sex, seu contrato foi suspenso pela Metro. Em 1956 ela partiu para a Universal, aparecendo em um filme dramático The Moment Unguarded (1956). Claramente seus melhores momentos nas telas já tinham passado e a partir dali faria pequenas participações. Sua aposentadoria viria no início da década de 60, quando passou a se dedicar cada vez mais à carreira de empresária. Vendendo desde malhas até acessórios para piscina, conseguiu garantir o seu futuro. Relembrando seus bons tempos da natação, foi comentarista nos Jogos olímpicos de 1984.
Amores, amores
Esther se casou quatro vezes, a primeira aos 17 anos. Ela participava do Los Angeles Citu College quando conheceu Leonard Kovner. Desde o início ela o achou belíssimo porém sem brilho. O casamento foi conturbado desde o principio e a atriz conseguiu o divórcio apenas depois de assinar um acordo dando ao ex 1500 dólares.
O segundo casamento ocorreu em 25 de novembro de 1945 com o cantor Ben Gage. Durou dez anos e os dois tiveram três filhos (Benjamin, Kimball e Susan). Esther teve muitas dores de cabeça com esse marido, pois ele era alcoólatra e gastava todo o dinheiro dela em farras, jogos de sorte e mulheres. Após o divórcio (que ela também pagou) descobriu que ele deixara de pagar os impostos e teve que desembolsar 750 mil dólares em dívidas.
Com o casamento em crise, Esther envolveu-se com alguns colegas. Victor Mature foi um deles. Outro amante desde período foi Jeff Clandler. Clandler acabou se tornando uma polêmica na autobiografia escrita por Esther. Lá ela conta que os dois estavam emocionalmente envolvidos e durante um jantar com Tony Curtis e Janet Leigh, ela foi até o quarto dele e lá se deparou com o galã de cabelos brancos com um vestido.
Acontece que Clandler era cross-dresser (homens heteros que gostam de se vestir com roupas femininas) e ela naquele momento não soube lidar com o fato. Alguns antigos amigos de Chandler ficaram horrorizados com a revelação, e outros, como Jane Russell, chegou a afirmar que era mentira: Ele era doce e extremamente masculino, disse em uma ocasião.
O casamento com Ben terminaria em 1959 e somente dez anos depois ela iria casar-se novamente. Desta vez com Fernando Lamas, que conhecera nas filmagens de “Dangerous When Wet” (1953). No período, ele tinha um romance conturbado com a estrela Lana Turner, o que não impediu dos dois terem um rápido envolvimento. O casamento aconteceria em 31 de dezembro de 1969 e segundo Esther, foi o primeiro homem que não tirou dinheiro dela.
Apesar de ficarem juntos até a morte dele, Esther teve que abrir mão dos filhos (Fernando não os queria morando com eles), da liberdade e exigia dela total submissão. Em troca ele lhe daria certa estabilidade. Seja como for, Esther abriu mão de si mesma e permaneceu junto a ele até seus últimos dias, quando numa tarde de 1982 ele faleceu de câncer.
Seis anos após a morte de Lamas ela iria se unir pela quarta e última vez com o professor Edward Bell. Os dois permaneceram juntos até a morte da atriz.Williams teve uma vida plena, apesar dos percalços que todos nós temos. E a alegria que ela passa nas telas não é por acaso. Amava o que fazia, e a água era o local onde gostava sempre de estar. “Não importa o que eu estava fazendo, o momento em que eu me sentia mais feliz era quando eu estava nadando”, disse em sua autobiografia. Em 2007 a veterana atriz sofreu um AVC, vindo a falecer seis anos mais tarde, em 6 de junho de 2013 de causas naturais. Morava em sua casa em Los Angeles e tinha 91 anos.
Serviram de base para esse texto informações tiradas do livro autobiográfico e os links abaixo: