No final dos anos 20 um subgênero de comédia começou a fascinar cineastas e público. As chamadas comédias malucas ou no termo inglês “screwball” surgiam em um momento em que as pessoas precisavam de motivos para sorrir em um mundo à beira do caos. Após a queda da bolsa que causou a Grande Depressão de 1929, milhares de famílias estavam desestruturadas e desempregadas. Ao chegar em casa após mais um dia de trabalho fazia com que esse público procurasse um escapismo nas artes. Os programas de rádio, repletos de notícias alarmantes, guardava um momento em que transmitiam algumas novelas com diálogos rápidos e ações malucas.
O cinema rapidamente absorveu esse novo tipo de linguagem e no início dos anos 30 começaram a surgir essas primeiras comédias malucas. Há um consenso geral que It Happened One Nigth, lançado em 1934 teria sido a primeira delas. Um pouco de diversão era tudo o que as pessoas queriam, e com um ingresso de cinema barato, a audiência correu para as salas de exibição. O escapismo era a palavra chave, e novos roteiristas que faziam sucesso no rádio e no teatro, correram para aproveitar essa oportunidade que surgia. Mas quais são as características desse tipo de comédia?
As comédias malucas envolviam algumas fórmulas bastante simples, dentre elas a centralização em personagens femininas, que em geral dominavam a relação e eram geralmente teimosas e autoconfiantes. Os homens da história se sentiam comumente incomodados com essa nova abordagem, e tentavam salvar suas masculinidade. Esse era um novo tema em Hollywood, que nesse período buscava maneiras de escapar da censura, vigente desde 1934 com o temeroso Código Hays. Colocando falas absurdas e rápidas nas bocas dos astros, causava-se uma tensão sexual que as imagens não podiam demonstrar claramente. Mas essas batalhas entre os sexos geralmente acabavam de maneira feliz, com os dois se reconciliando, e não raro, casando-se novamente. Outro tema bastante comum era a confusão de identidades e a combinação da farsa com a comédia pastelão.
O estilo foi tão bem recebido que alguns desses filmes constam nas listas de melhores produções realizadas nessa década. Separei aqui alguns que você pode conferir:
Levada da Breca (1938), de Howard Hawks: David Huxley (Cary Grant) é um paleontólogo que vê seu mundo virar de pernas para o ar com a chegada da socialite louquinha Susan Vance (Katharine Hepburn).
Irene, a Teimosa (1936), de Gregory La Cava: Durante a época da Grande Depressão, a mimada socialite Irene (Carole Lombard) contrata Godfrey (William Powell), um simpático mendigo que irá trabalhar como mordomo em sua casa. A postura de Godfrey faz com que Irene se apaixone por ele.
Nada é Sagrado (1937), de William A. Wellman: Hazel Flagg (Carole Lombard) mora em uma pequena cidade. Após ser diagnosticada com uma doença rara e mortal, tem sua vida acompanhada por Wallace ‘Wally’ Cook (Fredric March), um ambicioso jornalistas que deseja transformá-la em uma heroína nacional.
Mulher de Verdade (1942), de Preston Sturges: Após anos de casamento, Gerry Jeffers (Claudette Colbert) decide que a única maneira de ajudar seu marido Tom (Joel McCrea) é se divorciando dele e se casando com um homem rico. Ela tenciona com isso arrumar dinheiro para investir nos inventos do ex-marido.
A Noiva Caiu do Céu (1941), de William Keighley: Joan Winfield (Bette Davis), uma jovem milionária e impetuosa, se envolve com um músico, embora seu pai não aceite. Seu pai contrata Steve Collins (James Cagney) para que a sequestre em troca do seu peso em dinheiro, para impedir que a mesma se case. O avião cai numa cidade quase abandonada e eles acabam se apaixonando.
Fontes:
http://jfredmacdonald.com/depression.htm