“Senhor Chaplin, já fui casada, sou divorciada. Quero conhecer e me dar bem com o maior ator de Hollywood, e é o senhor”.
Foi assim que Paulette apareceu na vida de Chaplin. “Logo de cara ela me mostrou sua honestidade. Disse-me exatamente a que vinha!”, disse o grande criador do personagem Carlitos. Paulette afirmava ter nascido em 3 de junho de 1911, mas há rumores de que tenha nascido mesmo em 1905. Filha de pai judeu e mãe católica, sofreu com o fim do casamento dos pais e pulou de colégio em colégio durante toda a infância. Chegou a trabalhar na lavoura. As coisas melhoraram quando a mãe tornou-se amante de um homem rico. E foi ele quem conseguiu para a enteada um teste para se tornar uma das Ziegfeld Folies. Tinha 14 anos.
Entre as lendas acerca de Paulette, há uma que diz que ela chegou a trabalhar como “isca” de um trapaceiro profissional. Ela viajava em transatlânticos e, fingindo ser uma pobre e ingênua garotinha, fazia os homens enveredarem em grandes apostas. Douglas Fairbanks Jr. chegou a lhe perguntar certa vez se isso fora verdade, e a atriz, sorrindo, admitiu que sim. “Ele era um cara legal. Era o príncipe dos jogadores. O Robin Hood dos jogadores. Roubava dos ricos e dava pra mim!”.
Sempre mascando chiclete, era conhecida pelos amigos como “sugar” (Docinho). Curiosamente fizera a estréia no cinema em um curta de “O Gordo e o Magro” (Berth Maks), mas abandonou o projeto de ser atriz durante o período em que conheceu e se casou com o herdeiro Edgar James. Foram necessários apenas 2 anos para que ela retornasse a Hollywood, agora rica e dirigindo um poderoso conversível.
Depois de dois casamentos mal fadados Chaplin foi logo se envolver com Paulette. Mas saber que ela era divorciada e que tinha agora muito dinheiro, fez com que ele se tranquilizasse a respeito do relacionamento. Talvez ela realmente gostasse dele e não de seu dinheiro!
Paulette era uma garota divertida e falava pelos cotovelos, jogava tênis como ninguém e fazia Chaplin esquecer-se ele próprio de suas neuras. Poucos dias depois de lhe conhecer, ele a convenceu de mudar a cor dos cabelos: “Você combina melhor morena”, no que ela respondeu resignada que “A vida era bem mais fácil para uma loura, pois eu não precisava falar, só andar…” Mesmo assim deixou os cabelos na cor natural, castanhos.
Passaram a ser par constante em cruzeiros. Algumas semanas depois de se conhecerem já moravam juntos. Ele também começou a moldá-la, contratando uma professora de etiqueta e artes. Paulette passou a ler clássicos, livros de arte,história, aprendeu a falar francês e espanhol e começou a colecionar objetos de arte. Ele comprou seu contrato e começou a preparar um filme para que atuassem juntos, Tempos Modernos.
Para Tempos Modernos, Paulette chegara ao estúdio vestida como uma diva: maquiada e de unhas feitas. Ao vê-la em roupas de órfã (seu papel no filme), Chaplin não se acanhou nem teve pena e destruiu todo o seu penteado, esfregando um pouco de pó no rosto para dar a impressão de que ela estava suja. Paulette não gostara nem um pouco. Os dois trabalhariam juntos também em O Grande Ditador.
Logo ela conquistou também os amigos de Chaplin, seus filhos Junior e Sydney Earle e convenceu o comediante a vê-los com mais frequência. Os quatro iam juntos a piqueniques, festas e passeios. Ela lhes comprava brinquedos, e parecia um deles quando brincavam. Foi graças a ela que Chaplin pôde enfim começar a agir e ser um pai para os garotos.
Vieram os boatos de que eles estavam para se casar, logo substituídos por um de que haviam casado a bordo de um navio. Depois de muito disse me disse eles anunciaram o casamento. Paulette deu tudo de si para que o relacionamento desse certo. Segundo Sidney Chaplin, “ele é de um caráter um tanto rabugento, e o bom humor dela ajudou-o um bocado”. Mas logo a paciência dela se esgotou: traida a todo momento, não iria ficar esperando. Partiu para o ataque, e também arrumou seus amantes. Ele parecia saber dos casos, mas fingia ignorar. Os dois passaram a fazer um jogo de engana engana.
Apesar de viverem quase 10 anos juntos, os dois nunca formalizaram o relacionamento: “Quando eles pensavam que não estávamos casados, morávamos juntos. E quando pensavam que estávamos, já tínhamos nos separado.”, disse ela.
Após a separação continuaram amigos. E ele chegou a admitir que, de todas as mulheres que haviam se relacionado com ele até então, Paulette fora a única que o amara verdadeiramente. Ela chegou a se casar mais duas vezes, com Burgess Meredith e Erich Maria Remarque, com quem ficou até a morte dele. Curiosamente morou seus últimos anos na Suíça, e era vizinha de ninguém menos que Charles Chaplin, agora casado com Oona O’neil.