Buster Keaton era mais conhecido como o palhaço que não ri. Ficou famoso por sua agilidade acrobática, dispensando dublês nas cenas mais perigosas. Quebrou dedos, machucou braços e pernas. Numa época em que era necessária a criatividade num cinema que ainda engatinhava, ele coreografava suas cenas milimetricamente, escrevia-as, dirigia e criava até mesmo os cenários.
Burter Keaton nasceu em outubro de 1895, no Kansas (EUA), filho de pais que trabalhavam no teatro de Variedades (Vaudeville) com o mágico Houdini. O apelido “Buster”, inclusive, foi dado a ele pelo famoso mágico. A família apresentava-se como os “The three Keatons”, mas o grupo acabou e o jovem ator resolveu procurar emprego em teatros e, como muitos estavam fazendo naquela época, também no cinema.
Em um dos testes, em 1917, conheceu Roscoe “Fatty” Arbuckle, ator da Keystone (aqui no Brasil conhecido como Chico Bóia), que lhe ajudou a conseguir uma ponta em “The butcher boy”, no mesmo ano. Depois de pequenas participações, Buster começou a ganhar destaque.
Seu primeiro grande sucesso em longas foi “The saphead” , de 1921. Pouco menos de 3 anos, e 16 películas depois, ele já dirigia seus próprios filmes. Dentre os mais famosos, destacam-se “The Three Ages” (1923), “Our Hospitality” (1923), “The Navigator” (1924), “Sherlock Jr.” (1924), “Seven Chances” (1925), “Battling Butler” (1926), “College” (1927) e “Steamboat Bill Jr” (1928).
“The General’ foi um dos mais caros, e também um dos menos reconhecidos na época. Keaton preocupou-s com os mínimos detalhes, roupas, cenários, figurantes, minúcias nas batalhas e efeitos de sobreposição e edição de imagem; embora tivesse todo esse cuidado, as platéias não deram o devido valor ao filme, que acabou lhe causando prejuízos. Hoje em dia o filme é considerado uma das obras primas do cinema mudo e não raro constando nas listas dos melhores já realizados.
Embora tenha ganhado uma boa quantia em dinheiro ainda jovem, Buster permanecia como empregado da MGM, e tinha que seguir as regras de Louis B. Mayer, o que, inevitavelmente, limitou sua criatividade. Após perder quase tudo para sua ex-esposa Natalie, tornou-se alcoólatra e teve sua carreira abalada. Depois disso, a chegada do cinema sonoro, e poucos eram os produtores que estavam dispostos a investir em suas comédias. Era um gênio, e apesar disso, teve que se contentar com obras ruins e de mal gosto, para sobreviver.
Fracassado nas telas e mal compreendido, Buster foi demitido da MGM por causa do alcoolismo. Seguiu fazendo pontas em alguns filmes. Em “A noiva desconhecida” (In the Good Old Summertime), de 1949, faz um empregado atrapalhado numa loja de instrumentos musicais. Dois anos depois aparece jogando cartas com Anna Nilson e Gloria Swanson, companheiras do cinema mudo, no clássico Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard). Os três formam uma espécie de melancólicos sobreviventes de uma era onde eram reconhecidos. Em 1957 sua vida foi levada às telas no filme “O palhaço que não ri”, com Donald O’Connor, no papel título.
Em 1952, Chaplin preparava um filme sobre um palhaço envelhecido (ele próprio?), Luzes da Ribalta (Limelight), e lembrou-se daquele que fora seu maior “rival” de público, durante a década de 20. Em suas memórias, a filha de Chaplin chegou a dizer que o mesmo morria de ciúmes de Keaton, por reconhecer-lhe a genialidade. Mesmo assim o procurou e presenteou-nos não com uma cena, mas com uma “mágica” do cinema: os dois dividem o mesmo palco, tocando cada qual seu instrumento. L
Chaplin de um lado, rico e reconhecido, e Buster do outro, esquecido e pobre. Mas lado a lado. Podemos visualizar dois dos maiores talentos já surgidos. Keaton morreu em 1966, de câncer, deixando um legado de criatividade que até hoje é difícil encontrar. Mais ainda vive, em seus filmes mais atuais do que na época em que foram lançados.