Crescer não é uma situação fácil, crescer na frente das telas, sob os olhares do mundo, cobrando posturas, imagens e modelos, é pior ainda. A primeira atriz mirim que alcançou grande notoriedade foi Mary Pickford, canadense, que realizou filmes como The Poor Little Rich Girl, Stella Maris, Pollyanna, na era do cinema mudo. Mas, apesar de sua imagem angelical, de ter menos de 1:50 de altura e se vestir com trajes infantis, a atriz já tinha quase 30 anos quando fazia papéis de criança, isso fez com que ela não sofresse traumas que outros astros soufressem posteriormente. A imagem em preto e branco ajudava. Seus filmes acabaram servindo de inspiração para outra atriz mirim que viria posteriormente, Shirley Temple.
Depois de tantos filmes em que fazia sempre o papel de crianças ou adolescentes, Mary cansou-se dessa imagem angelical e tão diferente de sua personalidade e lançar-se como uma atriz adulta. Cortou os cachinhos e fez “Coquette”, seu primeiro filme falado que rendeu-lhe um Oscar. Sua carreira, porém, não sobreviveria aos “falados”, embora Pickford tenha se tornado uma das atrizes mais ricas e influentes do cinema silencioso.
Outros astros mirins trabalhavam nas produções, mas sem grandes destaques, como Edward Peil Jr., Lewis Sargent, Wesley Barry, Breezy Eason Jr., Baby Blanche Pickert, Gladys Egan, Zoe Rae, entre outros. Mas a primeira grande sensação infantil verdadeiramente, chamava-se Baby Peggy (Margarete Montgomery), uma das mais populares atrizes do cinema mudo, tendo realizado mais de 15 filmes. Todos achavam bonitinha a tentativa da pequena em imitar atrizes como Pola Negra e a própria Mary Pickford.
Sua fama foi tão grande que começaram a vender bonecas e artigos com o seu nome. Judy Garland, ainda criança, era uma de suas fãs, e tinha uma de suas bonecas. “Era uma de minhas grandes ídolas”, diria mais tarde. Seu maior “rival” era Jackie Coogan na época. Sua fama, porém, também não sobreviveu a adolescência, e ela retirou-se da vida pública no final da década de 30, devido, em parte, a brigas familiares em torno do dinheiro. Alguns filmes seus foram regravados por Shirley Temple, uma década depois, como “Captain January”. Hoje seus filmes são raríssimos de serem encontrados e o que temos dela são somente imagens fotográficas.
Jackie Coogan, o primeiro mega astro infantil, surgiria para a fama depois de ser descoberto no teatro por ninguém menos que Charles Chaplin. Com ele brilhou em “The Kid” (O garoto). Depois disso seus pais começaram a explorá-lo em papéis parecidos com o garoto. Considerado o primeiro grande star mirim e foi na época um dos mais bem pagos, faturando algo em torno de 4 milhões de dólares até a adolescência, época que também teve que despedir das telas. Com o divórcio dos pais, ficou sem dinheiro algum, o que levou a criar uma lei de proteção às crianças que trabalham no cinema, conhecida como a Lei Coogan, que os protege justamente desses casos. Coogan ficou pobre e teve que recorrer a quem lhe deu a mão pela primeira vez: Charles Chaplin. Chaplin lhe deu uma ajuda de custo, mas Jackie só voltaria às telas já quase idoso, em filmes de terror e na série televisiva Família Addams.
O final da década de 30 traria outro grande fenômeno, Shirley Temple. A garota que todos os pais queriam ter e todas as meninas queriam ser virou febre nos Estados Unidos, estampando roupas, bonecas, cadernos… Shirley, aos 5 anos atuava, sapateava, cantava, dançava e encantava a todos com as covinhas e cachinhos que lhe eram tão marcantes. Exatamente 52 cachinhos, segundo sua mãe Gertrude.
Alguns filmes de Mary Pickford foram refeitos com ela, como “Miss Annie Rooney”, mas seus grandes sucessos foram mesmo “Heidi” e “The blue bird” (O pássaro azul). Judy Garland, já uma adolescente na época, foi a primeira opção, mas como era desconhecida do público, Shirley foi convidada para interpretar Dorothy em “O Mágico de Oz”. Foram feitos testes de voz, já que o filme seria musical, mas Shirley não agradou, apesar dela ter cantado em outros filmes. Mas em questão de voz, como ela haveria de competir com Judy Garland? Além disso, o estúdio pôs empecilhos e não quis emprestá-la de qualquer maneira, colocando-a para interpretar The Blue Bird no mesmo ano. Judy acabou ficando com aquele que acabou sendo o filme de sua vida, e Shirley com a decepção da sua.
O interessante é que tanto O Mágico de Oz quanto O Pássaro Azul são ótimos filmes. Tivessem sido lançados em anos diferentes o efeito teria sido diferente, mas o filme de Shirley foi totalmente ofuscado pelo de Judy Garland. Além disso a estrelinha começava a crescer e a perder a graça de antes. A adolescência chegou, e a atriz retirou-se para uma “vida comum”, terminando seus estudos. Ainda fez mais alguns filmes adolescentes, porém a carreira não decolou. Shirley dedicou-se a vida política, posteriormente, tornando-se membro do Partido Republicano e embaixadora, afastando-se definitivamente das telas.
Outro ator que parece ter nascido nos palcos: aos 5 anos já fazia participações em filmes mudos, porém seu boom aconteceu na década de 30, onde se tornou o garoto tipicamente americano foi Mickey Rooney. Ele é um dos maiores atores já visto em Hollywood: ia da comédia ao drama ou musical, e foi um dos poucos que conseguiram ultrapassar a barreira da infância.
Durante a década de 40 foi responsável por boa parte das comédias familiares, participando de filmes de entretenimento num período de guerra. Só a série de filmes Andy Hardy (em que ele tinha o nome homônimo) teve 16 episódios, com a participação de atrizes que mais tarde fariam sucesso próprio, como Judy Garland e Lana Turner, dentre outros. Mickey atuou até pouco tempo antes de sua morte, tornando-se portanto um dos atores com a carreira mais estável. O único ator que atuou no cinema silencioso (ainda vivo) e atuante. Nada mal para um baixinho, rechonchudo e de certa forma feio. Prova que para alguns, Hollywood não foi vilão de suas vidas.
Outra que iniciou cedo a carreira foi Elizabeth Taylor. Sua mãe tencionava criá-la para ser uma dama e casá-la com um um homem aristocrata. Mas os planos mudaram quando eles saíram da Inglaterra para os Estados Unidos. Sua carreira iniciou-se aos 10 anos em ” There’s One Born Every Minute”, mas só foi deslanchar mesmo em “Lassie Come Home”.
Pode-se dizer que Elizabeth foi uma das poucas que não tiveram dificuldades em ultrapassar a barreira do tempo, pois sua carreira segui-se por toda a vida. Durante a adolescência passou tranquilamente com filmes como “Cynthia”, “A Date with Judy” e “Little Women”. E quando ela casou-se os estúdios aproveitaram para lança-la como atriz adulta em “Father of the Bride” e “Father’s Little Dividend”. Durante a fase adulta vieram sucessos como The Last Time I Saw Paris, Giant, Suddenly, Last Summer, Cat on a Hot Tin Roof, Who’s Afraid of Virginia Woolf?, dentre outros. Realmente uma das poucas a sobreviver ao ostracismo.
Margaret O’Brien já nasceu numa família circence.Chamou a atenção como Tootie no filme Meet me in St. Louis em que dançava ao lado de Judy Garland. Segundo Margaret, Judy, que teria sofrido horrores ao crescer nos estúdios a teria chamado em um canto e dito que sentia pena dela, que cuidaria dela durante as filmagens e que não deixaria ninguém tratá-la mal. Mas Margaret contou, anos depois que nunca chegaram a tratá-la mal, talvez por causa das leis que já obrigavam os estúdios a não explorarem as crianças de uma forma abusiva. Apesar de ter feito mais alguns filmes, sua carreira não passou dos anos 50 e da adolescência.
Patty Duke iniciou a carreira em comerciais e fazendo participações em programas de Tv. Seguiu para o teatro, onde ficou em cartaz na Broadway por quase dois anos com “The miracle worker” (O milagre de Ann Sullivan). Posteriormente a peça teve os créditos comprados para o cinema, e transformou Patty em atração, com uma atuação única e marcante de Hellen, uma garota cega e surda, que a grosso modo é educada para sobreviver por Ann Sullivan.
O papel acabou lhe rendendo um Oscar de Melhor atriz coadjuvante. Após alguns filmes, a atriz ganhou um programa de tv com seu próprio nome, “The Patty Duke show”, que durou três temporadas, sendo indicada ao Emmy. Filha de pai alcoólatra e mãe maníaco depressiva, após a separação deles, Anna Marie (seu nome verdadeiro) foi “preparada” para ser uma atriz pelos seus tutores, John e Ethel Ross, que lhe submetiam a treinos extenuantes e não a deixavam descansar, fazendo-a sentir-se uma prisioneira em sua própria casa, enquanto na frente das câmeras posavam de família perfeita. Segundo Patty, durante o período em que esteve sob tutela dos Ross, sofreu os mais diversos tipos de abuso, do sexual ao psicológico. Finalmente, aos 18 anos, livrou-se deles e pôde seguir sua vida. Participações em filmes e programas de tv fazem parte de sua rotina.
Outra jovem atriz teve problemas emocionais. Tatum O’neal estreou ao lado do seu pai Ryan O’Neal, no filme “Paper Moon” (Lua de papel), e neste mesmo ano arrebatou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, deixando para trás atrizes como Linda Blair e Candy Clark. Tinha só 10 anos e foi a mais jovem atriz a receber um Oscar na categoria. Seguiram-se The bad news Bears (Garotos em ponto de bala) e Little Darlings, dentre outros sucessos. “Certain Fury” (Choque mortal) foi seu último filme de destaque. Problemas com drogas, perda de guarda dos seus 3 filhos, abuso sexual na infância pelo próprio pai, traumas, tudo isso foi colocado na auto biografia de Tatum, “Uma vida de papel”; trazendo-a de novo aos holofotes, com a chocante história por trás da menina de ouro de Hollywood.
Alicia Christian Foster, mais conhecida por Jodie Foster, também começou sua carreira em comerciais, aos 2 anos de idade. Seguiu fazendo pequenos papéis, mas o boom de sua carreira aconteceu já na sua adolescência, quando fez a controversa prostituta em Táxi Driver, de Martin Scorcese. Sua atuação foi tão marcante que “inspirou” um psicopata a tentar assassinar o presidente dos Estados Unidos, deixando a atriz bastante abalada ao saber que ele o fizera para chamar a sua atenção. Jodie continua na ativa, tendo passado a infância, adolescência e hoje firmando-se como uma das melhores atrizes de sua geração, como produtora, diretora, atriz e ganhadora de 02 Oscars.
De outro lado a tradição: a família Barrymore vem há mais de um século trabalhando no meio artístico: neta de John Barrymore e sobrinha-neta de Ethel e Lionel, Drew Barrymore parece ter sido destinada às artes. Aos 9 meses aparecia em comerciais, e aos 2 tinha sua estréia no filme “Suddenly love”. 1982 trouxe o fenômeno “ET” (O estraterrestre), e todos se apaixonaram pela garotinha de 7 anos. Ela já tinha feito testes para ser a Carol Ann em “Poltergeist”. Drew entregou-se às drogas e bebidas logo cedo, perdendo papéis e ganhando fama de garota problemática: tinha tudo para ser uma estrela decadente, aparecendo somente em péssimos filmes. Adolescente, lançou um livro auto biográfico, “Little girl lost”, onde falava dos problemas que tinha enfrentado até então. Na década de 90, a atriz começou a dar a volta por cima e seguir sua vida e carreira, recuperando-se dos vícios que iniciou aos 8 anos. Drew hoje é atriz e produtora, sendo considerada uma das queridinhas dos Estados Unidos.
Outros nomes recentes, como Haley Joel Osment (Forrest Gump e The Sixt Sense – O sexto sentido), Emma Watson, Daniel Radcliffe e Rupert Grint (da série de filmes Harry Potter) e Dakota Fanning (Dreammer – Sonhadora) são os novos astros que surgem a cada dia. Uns terão vida curta na mídia, outros sobreviverão. Nem todos deixarão marcas. Eles não estão aí para dar exemplos, estão para viver. Mas a vida não é fácil. Para nenhum de nós. Tantos seriam os citados aqui, como bons ou maus exemplos. Mas equivocados estaríamos mais uma vez, pois não se trata de quem seja ou não bom, mas quem teve ou não divulgada a sua real condição humana. Aguardemos o futuro, para visualizar estes que aqui estão. Dizíamos no início que não é nada fácil crescer em meio aos holofotes. Menos fácil ainda é sobreviver a eles e contar sua própria história.