Hannah Chaplin, sua mãe, teve três filhos. O primeiro foi Sidney, o segundo Charles e ainda um terceiro: George Dryden, que foi tomado por seu pai quando tinha 6 meses. Ele chegou a trabalhar com Chaplin.
Hannah, sua mãe, enlouqueceu por causa da fome. Quando ela foi internada, Charles e seu irmão Sidney foram viver com Charles Chaplin (pai) e sua então esposa. Sofreram muito porque eles bebiam. Seu pai morreu de cirrose hepática, pobre, esquecido (ele era cantor do music hall), deixando nos bolsos das calças somente duas laranjas.
Nos tempos de fome, houve um tempo em que ele, seu irmão mais velho e sua mãe sobreviviam de um único prato de sopa, distribuído pela igreja. Suas roupas eram remendos dos velhos vestidos do teatro, de sua mãe. Na rua eram zombados por isso.
Antes da fama, Charlie foi ajudante de fábrica de vidro, balconista de loja, ajudante de barbeiro, assistente gráfico, jornaleiro, empregado doméstico. Seu primeiro papel no teatro foi em “Jim, um romance em cockayne” e o segundo em “Sherlock Holmes“, no papel de Billy. Tinha 14 anos, mas podia se passar facilmente por uma criança de dez.
Sidney foi quem o apresentou a Fred Karno, o maior produtor de teatro de variedades da época. Em 1909, Sid já era um dos principais atores da trupe. Chaplin fez muito sucesso no papel de um bêbado embriagado, em “Mumming birds” (pássaros silenciosos). Ele dizia que a graça do bêbado vinha da luta deste em provar que estava sóbrio. Stan Laurel, o magro da dupla “O gordo e o magro” foi companheiro de Chaplin na trupe.
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Sua primeira grande paixão foi por uma bela atriz da trupe de Karno, Marie Doro, que o considerava uma criança. Hetty Kelly, uma dançarina de 15 anos, foi a primeira paixão real. Em certos momentos, Chas tinha uma ânsia em saber tudo: comprava então livros e mais livros dos mais diversos assuntos, para tão logo esquecê-los. Também tinha o hábito de decorar algumas palavras que usaria nas festas, para ter sempre um assunto a tratar, já que às vezes era muito tímido.
Num período rebelde de sua vida, enquanto namorava uma garota viciada, fumou maconha e cheirou cocaína. Uma semana depois, enjoado de tudo, namorada e drogas, terminou tudo. Quanto à bebida, detestava-a, já que a ligava à morte do pai.
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Seu maior sonho, no início, era juntar bastante dinheiro e comprar uma fazenda de porcos, desta forma se aposentando. No início ele pensou também que poderia se tornar uma espécie de ator dramático. Via-se interpretando Hamlet ou Romeu. “Você pode imaginar o que senti quando me disseram que o meu primeiro personagem seria um homem manco, com dor nas costas, tentando carregar um balde de carvão na cabeça enquanto subia uma escada de mão cheia de graxa?”, disse.
No início da carreira no cinema, os outros atores chamavam-no de “pato esquisito”, por seu jeito diferente e tímido. Seu emprego também estava ameaçado, já que não se destacava de jeito nenhum. Ele entrou em pânico. Após um mês de contrato, Sennett já estava arrependido de ter contratado o inglesinho. Foi aí que surgiu o “the bond”, chapéu, colete pequeno e um bigode para parecer mais velho.
Para se acalmar, antes das filmagens, sapateava enquanto falava para si mesmo “preciso me soltar, ânimo!”.
Em 1916, seu rosto já estampava bonecos, livros e músicas eram feitas para ele. Só ele não sabia. Indo a Nova York ficou chocado com a grande recepção. Na verdade, a indústria do cinema começava a criar ídolos e Chaplin foi um dos primeiros. Percebeu que podia ganhar dinheiro com isso. Até os 32 anos já tinha feito mais de 72 filmes. Em 1916 já ganhava mais que o presidente da república.
– The Bond” surgiu em meio a esse desespero. Ele precisava de toda forma criar uma personagem marcante: pegou uma calça gigantesca, um colete pequeno, pôs um bigode para parecer mais velho. E o chapéu. Começou a ensaiar passos aprendidos no teatro. Os atores que estavam no camarim começaram a achar graça. Ele se entusiasmou e achou que podia ser sua salvação. Nascia aí, toscamente, o vagabundo.
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– O sucesso veio como um meteoro: em 1916 já ganhava mais que o presidente da república. Equivalia a 94% da folha de pagamento de todo o senado norte-americano. Em 1916, seu rosto já estampava bonecos, livros e músicas eram feitas para ele. Só ele não sabia. Indo a Nova York ficou chocado com a grande recepção. Na verdade, a indústria do cinema começava a criar ídolos e Chaplin foi um dos primeiros. Percebeu que podia ganhar dinheiro com isso.
– Até os 32 anos já tinha feito mais de 72 filmes. Foi o primeiro ator a aparecer na capa da revista Time, em 6 de julho de 1925.
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– A pirataria já existia naquele tempo! Cópias duplicadas não autorizadas dos seus filmes eram vendidos aos montes.
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– Foi considerado inapto para o serviço militar por Ter 1:62 e 58kg. O mínimo exigido era de 1:69 e 70kg. Mesmo assim a imprensa cobrou e contestou a sua dispensa, dizendo que enquanto milhares de ingleses morriam na guerra, Chaplin fazia palhaçadas. Chas era contra a guerra, e achava-a injustificável. Mas a maioria pensava que haveria de ter um motivo para sorrir, e o vagabundo era o motivo. Ele vendeu milhões de bônus de guerra e ainda comprou 350 mil dólares de bônus.
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– Jackie Coogan diz que Chaplin o dirigia com muita paciência, ouvindo suas sugestões. A cena da briga entre os garotos Coogan e Raymond foi dirigida por eles mesmos. Numa época em que os filmes mais ambiciosos eram feitos em questão de semanas, os métodos de trabalho de Chaplin eram considerados excêntricos.
– Durante as filmagens de “The circus“, um incêndiu destruiu totalmente o cenário. Depois de quase tudo pronto, na montagem, o laboratório arruinou todas as cenas e ele teve que refazer tudo de novo. Nesse período ainda divorciou-se de sua Segunda esposa Lita Grey e sua mãe faleceu.
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Em 1919 nasceu a United Artists, tendo como sócios Chaplin (famoso por sua lentidão), D.W. Griffith (famoso por sua incapacidade de controlar custos), Douglas Fairbanks (nunca um homem de negócios) e Mary Pickford (a mais ajuizada do grupo).
– Só conseguiu trazer a mãe para perto em 1921. Louca, ela quase não conseguia passar pela alfândega, ao confundiu o fiscal com Jesus Cristo. Certa vez, já velhinha e mais louca do que nunca, ao ver o filho vestido de vagabundo, Hannah ficou angustiada e queria tirá-lo dali e alimentá-lo.
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– Ao contrário do que se possa imaginar, Chaplin nunca fez parte de nenhum partido socialista. Seu único envolvimento político era com um grupo que raríssimas vezes se encontrava para debater e jantar, o “Severance Club” (Clube de ruptura). Discutiam censura, organização sindical e promoção de filmes esquerdistas.
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– Sem dúvida nenhuma, foi Marina Vargas, a mais afoita de suas fãs: ela conseguiu, não se sabe como, entrar no seu quarto e se enfiar na cama de Chaplin. Quando ele entrou no quarto deu de cara com esta surpresa. Tudo teria terminado bem, já que ele não queria prestar queixa, se não fosse pela sua namorada na época, Pola Negri, a botou para fora.
– Manias: Chaplin tinha nojo de leite e também a materiais feitos com borracha. Quando estava em processo de criação, chegava a tomar até 9 banhos por dia, além de ficar andando de lá para cá o tempo todo.
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– Ele pedia que todas as tomadas não utilizadas fossem destruídas. Felizmente, algumas vezes, ele não foi obedecido, e o que sobrou pode ser visto no documentário “The unknown Chaplin” (O Chaplin desconhecido).
– Monsieur Verdoux foi a primeira vez em que o vagabundo não aparecia. É a história de um sofisticado cavalheiro que mata esposas por profissão.
– Após terminar “Luzes da Ribalta”, fez uma viagem à Londres. Em alto mar descobriu que estava proibido de voltar aos EUA, acusado de ser comunista. Oona Oneil, diante disto, renunciou sua cidadania americana. Refugiaram-se em Corsier-sur-Vevey, na Suíça, até o fim da vida de Chaplin. Em tempo, Oona casou-se com Chaplin quando tinha apenas 18 anos e ele 54. Tiveram juntos 8 filhos, e ela não voltou a casar depois da morte dele, ficando viúva até falecer em 1992.
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– Em 1954 ganhou o prêmio do Conselho mundial da paz e o doou aos pobres de Londres. Seu irmão morreu no dia do seu aniversário, em 1965.
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– Depois que o senador McCarthy foi deposto, Chaplin pôde finalmente ser recebido nos EUA. Recebeu seu 1º oscar da academia, em reconhecimento por sua obra.
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– Com 86 anos foi condecorado pela rainha Elisabeth II e se tornou Sir. Charles.
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– Sua esposa Oona cuidou dele sozinha, até bem pouco tempo de sua morte, só admitindo uma enfermeira nos últimos tempos. Ele morreu no natal de 1977, e seu corpo ainda foi sequestrado! Oona não fez questão, dizendo que Charlie estava dentro dela e não nos seus restos. Seu corpo foi encontrado numa fazenda.
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– Endereço de sua estrela na calçada da fama: 6751 Hollywood Boulevard.
PREMIAÇÕES:
– Ganhou, em 1972, um Oscar honorário concedido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas por seu trabalho junto ao cinema e o modo como o influenciou.
– Ganhou, em 1929, um Oscar honorário concedido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas por seu trabalho dirigindo, atuando, produzindo e roteirizando “O Circo” (1928).
– Recebeu uma indicação ao Oscar, na categoria de Melhor Filme, por “O Grande Ditador” (1940).
– Recebeu uma indicação ao Oscar, na categoria de Melhor Ator, por “O Grande Ditador” (1940).
– Recebeu 2 indicações ao Oscar, na categoria de Melhor Roteiro Original, por “O Grande Ditador” (1940) e “Monsieur Verdoux” (1947).
– Ganhou o Oscar de Melhor Trilha Sonora, por “Luzes da Ribalta” (1952).
– Ganhou em 1972 um Leão de Ouro, do Festival de Veneza, em homenagem à sua carreira.
– Ganhou o Prêmio Bodil de Melhor Filme Americano, por “Monsieur Verdoux” (1947).
- Esta matéria foi publicada originalmente por mim em meu blog purviance, em 2007. Vários sites reproduziram esta matéria sem dar os devidos créditos.
Fontes: Contraditório Vagabundo, de Joyce Milton.