Em 28 de dezembro de 1895, quando os Irmãos Lumière exibiam a sua primeira projeção de filmes e davam início ao cinema, George Meliès estava presente na sala. Ele não sabia, mas participava de um momento histórico, e faria parte dela como membro atuante.
Nascido em 1861, Maries Georges Jean Méliès, desde a primeira infância demonstrou interesse em marionetes e ilusionismo. Estudando na École des Beaux-Arts em Paris, continuou seus estudos em Londres. Seus pais tencionavam que ele aprendesse inglês e continuasse o trabalho da família em uma empresa de calçados. Retornando à França, foi trabalhar como gerente após a aposentadora de seu pai. Com boas condições financeiras, conseguiu juntar dinheiro suficiente para comprar o famoso Teatro Robert Houdin, quando este foi colocado à venda em 1888.
Era o suficiente para que ele se entregasse de corpo e alma ao trabalho teatral em performances onde explorava o ilusionismo e criava seus próprios truques. Quando os Irmãos Lumière mostraram L’Arrivée d’un train à La Ciotat (A chegada do trem na estação) para um público fascinado e assustado, Meliès estava presente. E o que testemunhou teve um efeito marcante sobre ele. Após a exibição, conversou com os Lumière e propôs comprar o cinematógrafo, mas eles prontamente recusaram.Meliès não se abateu e logo procurou o inventor Robert W. Paul em Londres, que lhe forneceu sua primeira câmera e em 4 de abril de 1896, ele exibia suas primeiras criações. Eram filmes curtos, que duravam no máximo 1 minuto.
Nesse mesmo ano ocorreu um evento que mudou a forma como ele via os filmes. Enquanto filmava uma cena de rua simples, a sua câmera teve um problema que ele levou alguns minutos para resolver, voltando a filmar em seguida. Mais tarde quando ele processou o filme, reparou que objetos sumiam e apareciam outros no lugar. A partir do incidente Melies percebeu que podia manipular e distorcer o tempo e os objetos. Expandindo suas ideias, inventou alguns efeitos especiais mais complexos e se tornou pioneiro de diversas formas: criou a primeira dupla exposição, colocou artistas para atuarem com eles mesmos e fez com que pessoas desaparecessem da tela, como magia.
Embora a fantasia seja a que hoje em dia mais é conhecida, Meliès trabalhou diversos gêneros de filmes desde os publicitários até dramas, sendo também o primeiro cineasta a trazer cenas mais picantes, com “Après le Bal”.
Diante de um mercado cada vez maior e em expansão, o público logo se cansou de seus filmes e ele parou a produção em 1912, ainda tentando uma volta em 1915. Mas não teve jeito, em 1923 ele foi à falência com a demolição de seu teatro. O criador quase desaparece na obscuridade, mas ainda na década de 20 os franceses reconheceram sua contribuição para o cinema e a Legião de Honra o presenteou com um apartamento onde ele passou o resto de seus dias.
Alguns filmes realizados por ele foram vendidos para fábricas de celuloide para que fossem reciclados e transformados em sapatos que seriam usados por soldados. Arrasado com tudo o que lhe acontecia, ele também chegou a destruir boa parte do que restava. O precursor morreu em 1938 deixando como legado mais quinhentos filmes.