Violência, crueldade, dor, morte, sociedade de consumo. Esses são alguns dos temas trazidos por Michael Haneke em seus filmes. Quando fala em amor, o mais nobre dos sentimentos, dá a ele nuances que na maioria das vezes não pensaríamos: Em Amour (2012) temos a fragilidade de um homem desesperado ao ver sua esposa inerte em uma cama. O que seria capaz de fazer ao ver uma pessoa por quem nutre amor sofrendo intermitentemente e sem esperanças de melhora?
O fato não é novo. O cineasta alemão já dava as primeiras provas a que viria em seu primeiro longa, O Sétimo Continente (1989), primeiro de sua conhecida
Trilogia da Frieza. Nele, acompanhamos a saga de uma família aparentemente normal. As demoradas cenas mostram os membros em atividades triviais como comer, levantar, ir às compras, pagar contas, trabalhar, fingir estar doente, ir à escola. O ritmo lento parece seguir a monótona vida deles, ao mesmo tempo que prepara lentamente uma grande surpresa. O pacto sinistro dos membros da família, que inclui uma criança, lança o questionamento sobre o sentido da vida.
Em O Vídeo de Benny, o choque é mais rápido e nem por isso indolor. Na primeira cena, chocante, adentramos no mundo vivido por Benny: ele assiste inerte a um vídeo de um porco sendo morto. Repete, volta lentamente e fixa-se no momento da dor do animal. Ele leva uma vida aparentemente normal. E aqui, mais uma vez, somos levados a acompanhar seu dia a dia, que inclui as idas à escola e os jantares com a família. Um dia, Benny convida uma garota a adentrar em seu mundo. Não se sabe se propositalmente, acaba atingindo-a com uma arma. O movimento posterior denota um desespero aliado à falta de tato: Benny acaba matando-a por não aguentar ver seus gritos. Filma a cena. A vê repetidas vezes. Confessa à família, que tem uma atitude ainda mais insana: decide ocultar o cadáver de forma que ninguém mais a encontre.
O que choca de fato é sua incapacidade de se colocar no lugar do outro, de se comprazer da dor alheia. Ao terminar o filme ficamos com vários questionamentos. As atitudes de Benny seriam um reflexo do ambiente familiar? A aparente secura não seria consequência da longa exposição a esses vídeos nocivos? Ou o rapaz busca uma atividade que contemple sua ânsia de matar sem ser descoberto?
Os filmes de Haneke impossibilitam maratonas. São daqueles que quando terminam nos levam a vários questionamentos sobre os personagens e sobre o mundo que nos rodeia. Ele toca na veia de nossos desejos, nossas atitudes. O que deseja, Haneke? Talvez nos fazer atentar sobre o monstro que habita pessoas aparentemente normais.
A Obras Primas do cinema está lançando um box com os três filmes que compoem a Trilogia da Frieza: são eles O Sétimo Continente, O Vídeo de Benny e 71 Fragmentos de uma Cronologia do Acaso. O box pode ser encontrado em qualquer loja do ramo ou você pode compra-lo online clicando na imagem abaixo:
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