Estava revendo dois filmes de Al Pacino que eu gosto, Dia de Cão e O poderoso chefão, e de repente me dei conta de um ator que hoje é pouco conhecido, e que eu acho injusto não estar nas listas de melhores. John Cazale. Curiosa como sou, fui em busca de sua biografia, e surpresa. Ele só havia feito cinco filmes. É. Só três a mais que o meu James Dean. Mas não fez qualquer um. Ele só fez top de linha. Seus filmes estão no top 250 da IMDB (Bíblia do cinema) e todos, eu disse, todos, e também foram indicados para Melhor Filme (alguns ganharam).
Nascido em Boston, em 15 de agosto de 1935, Cazale era descendente de sicilianos. Estudou teatro em Nova York, onde conheceu Alfredo James, mais conhecido posteriormente como Al Pacino, e que se tornaria seu amigo por toda a vida. Bom, mas a vida não era fácil, e ele precisava ganhar dinheiro para viver, claro, e financiar seu sonho de se tornar ator, trabalhando como mensageiro de uma empresa de petróleo.
Ganhou vários Awards, por sua performance com os espetáculos “The Indian Wants the Bronx” e “The Line”. E após já ter feito um filme, The American Way, fez testes, juntamente com seu amigo Pacino, para O poderoso chefão, saga que contaria com Robert Duvall e Marlon Brando no elenco. O resto é história. Acabou ficando com o papel de Fredo, irmão mais velho e fraco emocionalmente, de Michael. Um dos papéis mais importantes, e que teria, na segunda parte, participação ainda mais ampliada. O filme, antes menosprezado pelos estúdios, acabou alcançando grandes bilheterias e Cazale, assim como o outro quase desconhecido Al, foi finalmente lançado ao estrelato.
Em 1974 voltou a trabalhar ao lado de Francis Ford Coppola, que lhe dirigiu e a Harrison Ford, em The conversation (A conversação). Em “A Day afternoon” (Dia de cão) trabalharia novamente ao lado de Al Pacino, no papel de Sal, amigo de Sonny, e dessa vez o ator foi indicado ao Globo de ouro de melhor ator coadjuvante. Não ganhou, mas no mesmo ano ele faria a segunda parte do Poderoso chefão. Em 1976 conheceu a jovem Meryl Streep, que ele conhecera no New York Public Theater’s e os dois ficaram noivos.
Em 1977 ele foi diagnosticado com câncer ósseo, mas quis continuar trabalhando. Seu último filme acabou sendo The Dear Hunter (O franco atirador), onde apareceu ao lado da sua então esposa, Meryl Streep e Robert De Niro. Os estúdios, sabendo de sua doença, temiam em continuar as filmagens, mas o diretor Michael Cirmino e Streep fizeram questão que ele continuasse as filmagens até o fim. Devido à doença,todas as suas cenas foram adiantadas e ele acabou morrendo em 12 de março de 1978, pouco tempo depois de fazer suas últimas cenas.
Apesar de seus personagens terem sempre uma carga pesada de violência nos seus filmes, ele é descrito para os que o conheceram como uma pessoa doce, tímida e sensível. Imagens de arquivos anteriores do personagem Fredo foram utilizadas no último O poderoso Chefão. A sua morte, sem sombra de dúvida, arrancou-nos a oportunidade de vê-lo em mais projetos, haja vista o seu currículo tão invejável para tão pouco tempo. Mas, podemos homenageá-lo vendo e revendo seus trabalhos, grandes e inesquecíveis, como o ator que esteve neles.
* Texto publicado originalmente pela autora em 2008 no JcOnline