Hollywood fabricou muitos ícones ao longo das décadas, mas nem sempre eles estiveram à frente das telas. Uma delas ajudou a criar estrelas, dando um toque de classe e ousadia em seus figurinos. Edith Head tornou-se a estrela principal dentre os figurinistas.
Nascida em 28 de outubro de 1897 em San Bernardino, Califórnia, Edith Claire Posener curiosamente se formou em Letras. Ela também fez mestrado em línguas românicas pela Universidade de Stanford. Não duvido que poderia seguir uma carreira acadêmica de destaque, mas os baixos salários fizeram com que ela buscasse melhores condições. E foi com esperança que ela viu um anúncio no jornal: Howard Greer, o figurinista chefe da Paramount, precisava de desenhistas de croquis para lhe auxiliar. Edith sabia pouco sobre o assunto, mas vendo ali uma oportunidade, resolveu estudar mais sobre o assunto, pegando desenhos de amigos da Chouinard, e juntando aos seus. No dia da entrevista conseguiu a vaga. Sim, Edith passou no teste levando modelos criados por outras pessoas.
Ela aprendia dia a dia com as tarefas que lhe eram dadas, criando um nome aos poucos durante a década de 30. Howard era o grande figurinista na Paramount, mas logo foi afastado, deixando Travis Banton como chefe. Pouco tempo depois, Banton se afastava devido ao alcoolismo que se tornava acentuado. O estilista deixou a cargo dela os figurinos dos filmes B e os masculinos (que naquela época normalmente eram comprados diretamente das lojas). Banton a ensinou sobre uso de tecidos e texturas, e como transformar uma mulher fazendo-a brilhar nas telas.
Com a saída de Banton do estúdio, Edith assumiu seu posto e em 1938 foi nomeada designer chefe da Paramount, onde ficaria por 43 anos. Sinônimo de qualidade, seria indicada 34 vezes ao Oscar, vencendo oito. Se tornava assim a mulher com mais prêmios na Academia.
A Figurinista preferida de várias estrelas
Edith virou sinônimo de confiança. Geralmente tinha um bom relacionamento profissional com todos. Para evitar desentendimentos, preferia fazer vários modelos diferentes e leva-los para que as atrizes e diretores escolhessem. Segundo ela, para ter sucesso na indústria, era necessária uma combinação de psiquiatria, artista, estilista, costureira, historiadora, enfermeira e agente de compras. A primeira indicação veio por The Emperor Waltz (1948), de Billy Wilder.
Em 1951 ela foi chamada para criar os figurinos de Bette Davis em A Malvada. Foi um trabalho feito nas pressas, já que elas tinham apenas alguns dias antes do início das filmagens e Bette só dispunha do horário da noite para provas. Ao vestir, a atriz percebeu que o caimento não estava perfeito nos ombros. Como não houve tempo hábil para fazer os ajustes, Bette deixou as mangas caírem em seus ombros. Foi brilhante!
Um dos vestidos mais conhecidos foi aquele criado para Elizabeth Taylor em Um Lugar ao Sol. O vestido foi uma homenagem aos típicos modelos usados nos anos 50: top sem alças coberto com pétalas de seda. Acabou se tornando o vestido de baile preferido das adolescentes americanas.
Grace Kelly foi uma das atrizes mais beneficiadas por seus modelos. A atriz usava os modelos criados pela estilista nos filmes dirigidos por Hithcock. Foi dela também o modelo usado na cerimônia em que levou o Oscar de Melhor atriz em 1954. A amizade ficou um pouco abalada depois que Helen Rose foi escolhida para criar o vestido de casamento da futura princesa de Mônaco. Dentre os mais icônicos modelos criados para Hithcock, estão os do filme Ladrão de Casaca. Dediquei uma matéria específica para falar sobre eles:
Lembra que no início falei sobre a facilidade com que a figurinista assumiu projetos de amigos para entrar na Paramount? Pois bem, embora fosse de fato uma profissional de qualidade, Edith também assinava projetos feitos por outros figurinistas. Roman Holiday (1954) lhe rendeu um Oscar. Mas na verdade, o famoso modelo capri que a Audrey Hepburn vestiu foi criado por Sonja de Lennard.
Além disso, maioria dos conjuntos parisienses usados por Audrey em Sabrina foram desenhados por Hubert de Givenchy e escolhidos pela própria atriz. Como elas foram feitas no departamento de roupas da Paramount, levaram o nome de Head.
Aproveitando sua facilidade para escrever, uniu o útil ao agradável e lançou dois livros: The Dress Doctor (1959) e How To Dress For Success (1967). No último, dá dicas sobre como se vestir bem. Edith não chegou a se aposentar. Edith trabalhou até a fim na Universal, onde entrou após sua saída da Paramount em 1967.
Em 2004 ela foi homenageada pela Pixar no filme Os Incríveis. A personagem Edna Mode evidentemente foi baseada nela:
Edith foi casada duas vezes. A primeira em 1925, com Charles Head. Após o divórcio em 1936 ela continuou usando o sobrenome que a tornou conhecida. O segundo casamento ocorreu em 1940, com Wiard Ihnen. Os dois permaneceram juntos até a morte dele em 1979. Em 1974 ela recebeu uma estrela no Hollywood Walk of fame. Edith morreu em 24 de outubro de 1981 de uma doença na medula óssea.
Os números são impressionantes. Segundo o IMDB, ela é creditada em 444 trabalhos, mas possivelmente contribuiu em mais durante o período em que estagiou. Seu talento e alta produtividade a transformaram na maior figurinista de Hollywood, transformando ela própria em uma grande celebridade.
CONFIRA ALGUNS DE SUAS CRIAÇÕES.
Fontes:Edith Head, the legendary Hollywood Designer, Edith Head – Hollywood’s Infamous Costume Designer, Grandes Figurinistas do Cinema Clássico