A Porta de Ouro (1941)

A premiação do Oscar de 1941 é lembrado por muitos como aquela que deu o prêmio máximo para “Como era Verde o Meu Vale” preterindo “Cidadão Kane”, produção considerada em termos técnicos superior à primeira. Filmes como Perfídia, Relíquia Macabra e A Porta de Ouro corriam por fora. A Porta de Ouro não tinha grandes expectativas, mas conseguiu indicações às principais categorias como o já citado Melhor Filme, Atriz, Fotografia, Roteiro Adaptado e Direção de Arte. Olivia de Havilland competia neste ano com Joan Fontaine, e sua irmã acabou abocanhando o Oscar por sua atuação em Suspeita, de Alfred Hitchcock.
Revendo “A Porta de Ouro” recentemente, me perguntei como um filme com tal currículo ficou durante tanto tempo esquecido. Para começar, Billy Wilder e Charles Brackett assinaram o roteiro, e se irritaram profundamente quando uma das cenas foi sumariamente tirada da edição final por decisão do diretor Mitchell Leisen e do ator Charles Boyer, que acharam ridícula a cena do personagem Georges falando com uma barata. Mas tal discussão acabou sendo proveitosa para Wilder, que a partir de então passou a dirigir seus próprios filmes.
Iniciamos com um desalentado Georges Iscovescu (Boyer) adentrando nos estúdios da Paramount para tentar vender um roteiro. A história seria inspirada em sua própria vida. A polícia está em seu encalço e ele tem pouco tempo para explicar. O diretor concorda em ouvir e ele começa. Nascido na Romênia, Georges é um dançarino e gigolô que busca alguma forma de emigrar para os Estados Unidos. Para isso ele foi para uma cidade próxima à fronteira do país com o México. Sua amante Anita (Goddard) lhe conta como conseguiu seu visto permanente: casando-se com um homem norte-americano. George parte em busca de uma vítima, tencionando unir-se a ela e tão logo abandoná-la após conseguir o que deseja. E encontra na figura da doce Emmy (Havilland), uma professora que veio ao México com seus pequenos alunos para visitar a feira anual. Seduzindo-a, ele lhe propõe casamento.


Com atuações muito sólidas, destaco a de Charles Boyer, um ator francês que estreloumais de oitenta películas, a grande maioria na América. Neste período ele gozava de grande fama, atuando ao lado de grandes estrelas como Bette Davis, Marlene Dietrich, Irene Dunne, Claudette Colbert e Ingrid Bergman. O papel de um gigolô charmoso lhe caía muito bem devido ao tom cínico que ele carregava no olhar. Suas companheiras de tela não estão menos mal. Ambas em seu estilo, Olivia com um tom interpretativo sempre calcado na leveza e Goddard acendendo seu lado sapeca visto em tantos outros filmes.
Uma curiosidade do filme: quando Georges entra no estúdio para falar com o diretor, vemos Veronica Lake e Richard Webb ensaiando para uma cena do filme I Wanted Wings. É muito interessante essa intertextualidade com outra produção, porque fica aquela sensação de espiar pelos bastidores dos filmes. I Wanted Wings estreou também em 1941.