As Garçonetes de Harvey (1946)

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Tadinha

Houve um tempo em que eu devorava todos os filmes de Judy Garland. Quem é mais antigo como eu sabe o quanto era difícil conseguir os filmes antigos, e era uma verdadeira tortura encontra-los em dvds ou para baixar. Assisti As Garçonetes de Harvey pela primeira vez em um arquivo com dublagem em italiano. Pouco tempo depois soube que saíra um dvd no Brasil e não tardei em adquiri-lo. É uma das jóias de minha coleção por motivos óbvios.

É curioso notar que de fato as garçonetes de Harvey existiram, e embora a história não seja real tem traços de realidade, com fatos que poderiam ter acontecido. Os restaurantes de Fred Harvey começaram a se espalhar no Oeste por volta de 1870 e visavam prestar hospedagem e comida baratas, além de oferecer um ambiente limpo e agradável para os visitantes. O negócio deu tão certo que chegaram a existir 84 dessas casas nos Estados Unidos. Abaixo, algumas fotos das verdadeiras garçonetes:

O primeiro vislumbre que temos de Judy como Susan Bradley é num trem, cantando In the Valley enquanto aguarda a chegada em sua nova cidade. Ela compoe um grupo de garotas que está indo para uma cidade do velho Oeste para trabalhar em uma rede de restaurantes. Susan sonha em mudar de vida, algo bastante comum, já que muitas garotas que chegam à cidade acabam por se casar com homens locais. Ela já dera o primeiro passo para isso quando começou a se corresponder com um rapaz da cidade através de cartas. E já sonha com o belo príncipe encantado que encontrará. Mas quando chega ao local, decepção: descobre que seu suposto noivo era apenas um caipira e que as cartas tinham sido escritas por Ned Trend (John Hodiak), dono do saloon local. Que tristeza, Susan. Mas ela não se abala. Resolve levar a vida da melhor maneira possível e junto com as novas amigas começa a aprender seu novo ofício.

Falei sobre o saloon logo acima. É aqui que o bicho pega. Enquanto as garçonetes são “moças casamenteiras”, as do saloon são animadas e atraem os homens da cidade. A história tem aquele tom moralista que preza pelos bons costumes e Susan parece ser a figura ideal. Claro que lá pelo final ela mesma considera que tenha exagerado em suas convicções sobre mulheres certas ou erradas. O fato é que, como todo filme moralista, com o tempo as meninas conseguem ir colocando um pouco de juízo na cabeça dos rapazes, e é aí que começam as brigas com as moças do saloon, lideradas pela linda Em (Angela Lansbury). Quero dizer aqui que embora eu ame Judy do fundo do meu coração, ainda sou team Em. Como não ficar fascinada por esses vestidos e sua liberdade? Embora seja uma garota livre, Em é presa pelo amor de Ned. E claro que ela e Susan vão disputar o amor desse homem que ora pende para um lado, ora pende para o outro.


Apenas olhe esse vestido

Glamour, meu amor

Algumas Curiosidades

A produção demorou um total de seis meses para ser findada. Isso por causa dos constantes atrasos de Judy, que estava tendo muitos ataques de ansiedade e pânico, resultados de uma agenda estafante que ela estava cumprindo desde que fora contratada pela MGM aliada ao uso de medicamentos fortes para manter a forma. Apenas observe como aqui ela aparece visivelmente mais magra do que quando apareceu no seu maior sucesso, O Mágico de Oz. Bochechas de Judy, onde estão?

Cadê?
A MGM não se importava muito, já que havia um médico indicando medicamentos entre os artistas. E isso era inclusive incentivado, já que não havia um conhecimento sobre o quanto isso era prejudicial. O resultado estava lá: atrasos, ataques de pânico e choros que se tornariam constantes na vida artística de Judy. Dessa maneira, muitas cenas tiveram que ser feitas sem sua presença, usando outra atriz que ficava de costas. A atriz futuramente relembrou esse período dizendo: “Eu estava uma pilha de nervos por dormir tão pouco. Não estava em condições de suportar a tensão do estúdio. O estúdio tornara-se uma casa assombrada. Eu fazia tudo para não gritar cada vez que um diretor olhava pra mim”.

A demora no fim das filmagens acabou prejudicando Virginia O’Brien, que engravidou durante as filmagens e teve que se afastar. Sua participação acabou sendo menor do que o esperado, e sua personagem desaparece misteriosamente após o número “Wild, Wild West”.

Dividindo a tela com Judy estavam Ray Bolger (que já havia trabalhado com ela em O Mágico de Oz e dá um show nas cenas musicais), John Hodiak (que no período era uma estrela em ascensão, mas que se tornaria um veneno de bilheteria. Ele faleceria aos 41 de um ataque cardíaco), Virginia O’Brien (que se tornaria bastante popular em comédias e musicais daquela década) e Cyd Charisse (as pernas do cinema musical). Outro destaque é a simpática Marjorie Main, que aparecia em vários filmes como coadjuvante e trabalhou ao lado de Judy em Agora Seremos Felizes.

Muito frio!

Todas essas garotas foram vestidas por Helen Rose, uma das poucas mulheres que se tornaram designers chefes de um grande estúdio de cinema. Seu estilo era elegante e discreto e sua especialidade era o chiffon, um tecido difícil para alguns. Ela havia sido contratada pela MGM em 1943 visando substituir Adrian, permanecendo lá até 1966.


A Angela Lansbury sempre foi uma boa cantora, mas como acontecia com muitas estrelas naquele período (Audrey Hepburn que o diga), os produtores preferiram investir em uma cantora profissional. A atriz acabou sendo dublada por Virginia Rees. Assim também aconteceu com Cyd Charisse, que teve sua voz dublada nas canções por Marion Doenges.

Um dos maiores destaques é a direção de arte, que é esplendorosa. Os cenários internos e externos foram inspirados pelo Castaneda Harvey House, que ficava em Las Vegas. Ele ainda está de pé como um marco histórico do Novo México. Também como na história do filme, havia um grande saloon em frente ao Castaneda, mas o mesmo foi destruído e já encontrava-se em ruínas durante as filmagens.

Mesmo que hoje não imaginemos, As Garçonetes de Harvey foi pensado como uma produção para Lana Turner e Clark Gable. Mas daí o produtor Arthur Freed decidiu que era melhor investir numa versão musical. Foi aí que surgiu o nome de Judy Garland, que já tinha cantado para Gable a famosa versão Dear Mr. Gable. Mas o astro, que voltava da guerra, preferiu investir em um drama, Aventura (1945). Melhor né? As músicas escritas por Harry Warren e Johnny Mercer se tornaram um grande sucesso, sendo lançadas em um disco pela Decca. Seu maior hit acabou sendo o “On the Atchison, Topela e Santa Fe”, lançada antes ainda de terminar o filme e se tornando um sucesso imediato nas rádios.

Particularmente acho que esse é um dos grandes musicais da era de ouro da MGM. Uma explosão em technicolor que nem a presença insossa do John Hudiak consegue prejudicar. Apesar dos problemas pessoais, Judy provava porque era a garota dos olhos da companhia, rendendo aos cofres da MGM milhares de dólares.

Referências e curiosidades tiradas dos sites:

http://www.thejudyroom.com/theharveygirls.html
http://www.thejudyroom.com/

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