A Canção Inesquecível (1946)

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Aqui estão Fred Astaire e Ginger Rogers cantando (e dançando) “Day and Night”, do filme The Gay Divorcee (1934) uma das minhas músicas preferidas do Cole Porter:

Vejam bem, 1934. O cinema começou a falar em 1927 (com a exibição de O Cantor de Jazz e a explosão dos grandes musicais), e em 1934 as composições de Cole reinavam absolutas. E se você assistiu a filmes clássicos muito provavelmente ouviu pelo menos cinco ou seis dessas músicas, embora não saibam da autoria. Ter Porter como compositor já era uma boa garantia para boa trilha sonora e retornos infalíveis, e aliar isto a bons intérpretes era o sonho de qualquer produtor. E todos queriam interpretá-las, desde Frank Sinatra, Judy Garland, Bob Hope, Bing Crosby… Se podemos dizer algo sobre ele, é que era uma unanimidade.

Agora se tem uma coisa que é certa em Hollywood é que nenhum sucesso é duradouro, e durante a década de 40, ele já sentia uma queda na popularidade. É a tal coisa, todos sabem que você é muito bom, mas o novo sempre vem. E apesar de ter canções populares em filmes de sucesso, ele começava a perder público, contando com ferrenhas críticas. Mesmo assim veio a ideia de em 1946 fazer-lhe uma homenagem com um filme biográfico. Já falei por aqui o quanto vejo as biografias quando o retratado ainda está na flor da idade, então é pior ainda ~ Cole estava com 55 anos quando foi realizado este filme.

Esta biografia ainda traz um agravante por refazerem de forma ficcional a sua vida. Isso porque as pessoas não estavam preparadas para encararem a vida como ela é, por acharem chocante o fato do compositor na verdade ser gay. Com certeza Hollywood não se chocava com isso, pois alguns dos maiores expoentes das artes foram e são gays, mas o público sim.

A Canção Inesquecível (Night and Day) traz o grande astro Cary Grant e Alexis Smith como o compositor e sua esposa. Muitos fatos foram mudados, inclusive a ocasião em que se deu o casamento de ambos, e é tentador pensar que o roteiro tenha insinuações quanto a verdadeira sexualidade do astro quando coloca-se um Cole fugindo intensamente de um casamento sem que haja um motivo aparente para isto. Cary também empresta seu charme ao compositor, e se o roteiro não mostra claramente, suas nuances insinuam o verdadeiro motivo.

O fato é que Cole foi casado com Linda durante 34 anos, o que não o impediu que vivesse suas aventuras extra-conjugais. No filme ele é um homem fiel à sua música, única que detém seus olhos e corpo. Um ponto curioso é ver a Jane Wyman, que na década seguinte brilharia em melodramas, como uma dançarina e cantora neste aqui. É possível admirar sua voz nas canções “I’m in Love Again” e “Let’s Do It”, composições da década de 20. Mas o que compensa mesmo são as lembranças das músicas de Cole espalhadas em cada parte do filme. E elas são muitas.

* Você pode conferir o filme que foi lançado no Brasil pela Classicline e encontra-se à venda nas principais lojas do ramo.

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