Os Monstros (1932)

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Hans, apesar de estar noivo da doce Frieda, apaixona-se perdidamente por Cleópatra, uma trapezista. Má e egoísta, a mulher inicialmente brinca com os sentimentos do anão, aproveitando-se para debochar dele ao lado do seu amante, o brutamontes Hércules. Ao descobrir que Hans, na verdade é um herdeiro, Cleópatra decide casar-se com ele, mata-lo e tomar sua herança. Seus planos começam durante a cerimônia de casamento, quando ela começa a envenena-lo. Ao perceber que está sendo enganado, o triste Hans irá se juntar a seus amigos freaks para tramar uma grande vingança.

O roteiro escrito por Willis Goldbeck e Tod Robbins nos leva à convivência de pessoas estranhas dentro de um circo de horrores. Oitenta e cinco anos após seu lançamento, Monstros (Freaks) ainda causa um grande impacto, e não só apenas naqueles desacostumados a lidar com o diferente. À cada releitura capturamos a sua grandeza e a apresentação desses personagens tão incomuns. Com isso, Freaks é muito além do que a exibição de um circo de horrores. Uma leitura possível, além do superficial, seria enxergar a vingança arquitetada por eles como uma união contra o desprezo da sociedade. Eles que só tem a si mesmos, e que vivem da melhor maneira que podem, apesar de suas angústias e limitações, só tem um ao outro para manter a mínima dignidade e lutar por seus direitos. Quando atacam a má Cleópatra, atacam justamente aqueles que se jogam contra suas limitações, que os usam, que os renegam. Uma visão mais realística nos aponta para a vingança dos justos contra um mundo cruel.

O diretor Tod Browning vivia um bom momento em sua carreira. Reconhecido, conseguiu ultrapassar a barreira dos filmes mudos, que dominava, seguindo um sólido trabalho no cinema falado. Seu último sucesso havia sido Drácula (1931), que trouxe a fama duradoura a Bela Lugosi. No entanto, seu maior aliado era o ator Lon Chaney, com quem trabalhara em filmes como A Trindade Maldita (1925), O Monstro do Circo (1927) e Vampiros da Meia Noite (1927). Tendo um gosto peculiar pelo estranho, seria normal que Chaney topasse a parada de entrar no elenco de Freaks. No entanto, sua morte repentina em 1930 fez com que Browning buscasse outras soluções para o roteiro.

Com o aval de Irving Thalberg, chefão da MGM e imensamente interessado na história, o diretor pode ir em busca do elenco. Não foi fácil, tendo em vista que muitos astros da época, a exemplo de Myrna Loy, não quiseram envolver seus nomes em algo que consideravam bizarro. Foram chamados para integrar a equipe Wallace Ford (que faria o palhaço), Leila Hyams (uma atriz de pouco destaque mas querida do público), Olga Baclanova (que trabalhara ao lado de Conrad Veidt em O Homem que Ri) e Henry Victor (um ator alemão que seria para sempre lembrado como o malvado Hércules). Para compor a parte chave do elenco, Browning foi em busca de uma quantidade significativa de artistas circenses, cada qual com sua peculiaridade. O resultado foi assustador.


O tema causou controvérsia e repugnância a muitos, antes de mesmo de iniciarem as filmagens. Mas é claro que a aversão às imagens tenha muito a ver com o preconceito e a dificuldade de aceitar as diferenças. Os circos de horrores eram um sucesso, e muitas vezes se configuravam na única opção de sobrevivência a essas pessoas, que se submetiam ao desprazer de serem observados como coisas e ignorados seus sentimentos. E muitos sentiam prazer no espanto de observar e se admirar com as deformidades de seres humanos como eles. Vê-los em um filme, unidos, causou mais espanto ainda, acostumados que estavam em não denotar um caráter humano àquelas pessoas que, apesar de todas as dificuldades, agiam como qualquer um de nós. Era a primeira vez em que eles eram o tema, e não uma participação bizarra num roteiro de circo.

Estamos preparando uma matéria onde falaremos de cada um desses artistas trazidos do circo. Alguns faziam enorme sucesso, e viviam de maneira digna. Outros tiveram no trabalho uma chance de chamar a atenção mas não conseguiram grande retorno, já que o filme acabou banido em vários países durante muitas décadas. A carreira de seu diretor acabou também sendo prejudicada pela avalanche de críticas. Esquecidos, foi somente na década de 60 que voltariam à luz, e seriam aclamados.

Monstros chama a atenção até hoje. E torna-se maior à cada releitura. O filme está sendo lançado no Brasil pela Obras Primas do Cinema. No dvd é possível conferir também “Freaks – The Sideshow Cinema”, um documentário especial onde podemos saber algumas curiosidades da produção, personagens e movimento por trás da produção. Também é possível conferir três versões diferentes do final, que teve que ser refeito algumas vezes para se adequar à censura.

* O filme pode ser adquirido em qualquer loja do ramo. Você pode adquirir online clicando na imagem abaixo:

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