Se na década de 30 Shirley Temple brilhou majestosamente, na década seguinte um nome encantou a todos: Margaret O’Brien. A pequena atriz chegou a ser uma das mais populares da MGM e recebeu o Oscar aos 7 anos, mas ele seria roubado pouco tempo depois…
Angela Maxine O’Brien nasceu em 15 de janeiro de 1937. Filha da dançarina de flamenco Gladys Flores, não teve a oportunidade de conhecer seu pai, um artista de circo que faleceu quando Gladys estava grávida. É espantoso ver que aos três aninhos, a garotinha já era muito esperta em sua primeira participação na frente das telas. Foi em Calouros na Broadway (1941), filme estrelado por Judy Garland e Mickey Rooney. Confira o momento:
Seu nome foi mudado para Margaret O’Brien somente em 1942, após sua participação em Sublime Alvorada (Journey for Margaret, 1942), da MGM. No filme, ela interpretava uma pequena órfã de guerra chamada Margaret.
Como dá para perceber, o talento da garota era nato, e em pouco tempo ela foi emprestada para a FOX. Lá trabalhou ao lado de Elizabeth Taylor em Jane Eyre (1944). Seria a primeira vez que atuaria ao seu lado. As duas dividiriam a cena mais tarde. Em 1944, iria estrelar um de seus filmes mais inesquecíveis: Agora Seremos Felizes:
https://www.youtube.com/watch?v=s8qpMcrEtTg
Embora tenha sido um veículo para Garland, que na época tinha 22 anos, quem também brilha é Margaret aos sete anos e interpretando a espevitada filha mais nova. Em depoimentos recentes, a atriz chegou a comentar o relacionamento com a atriz principal e como Judy se preocupava que a pequena fosse bem tratada. A preocupação de Judy não era a toa, já que ela passara por maus momentos em sua chegada à MGM. Há mesmo uma lenda sobre como o diretor Minnelli conseguiu com que a atriz mirim chorasse com tanta vontade diante das telas: o boato fala que ela chorou após o diretor lhe informar que seu cachorrinho havia morrido. Mas, segundo Margaret, a verdade passa longe disso. Minnelli sempre a tratou bem, e ela era capaz de chorar caso fosse preciso.
Os filmes que traziam crianças e adolescentes estavam fazendo muito sucesso, e se mostravam rentáveis. Era necessário porém manter-se dentro das leis trabalhistas. Assim, os artistas mirins contratados estudavam com tutores contratados especialmente para eles. Margaret, assim como Taylor, Judy Garland e o já citado Mickey Rooney, não escapavam à regra.
O Oscar Roubado
Em 1944 Margaret ganhou um Oscar especial concedido às pequenas estrelas. A atriz guardou o prêmio em uma sala especial em sua casa. Quando tinha 17 anos, sua empregada perguntou se não podia levar a estatueta para mostrar a alguns parentes. Ela autorizou. Pouco tempo depois, a mãe da artista faleceu, e ela esqueceu durante um tempo do caso. Posteriormente, ao tentar contactar a empregada, descobriu que a mesma havia sumido e sem deixar qualquer notícia.
Margaret passou boa parte de sua vida frequentando mostras de memorabilia e lojas de antiguidades tentando reaver seu prêmio. Finalmente, em 1995, foi avisada que o mesmo havia sido encontrado em um mercado de pulgas. Em 7 de fevereiro de 1995, 40 anos após ser roubada, Margaret conseguia reaver seu Oscar original.
Margaret viveu seu auge nessa época, tornando-se um grande fenômeno das telas, geralmente interpretando irmãs mais novas e crianças inteligentes e meigas. Nesta edição do jornal A Manhã de 8 de setembro de 1944, ela é chamada de “A nova namoradinha do Brasil”, e comparada à grande atriz Sarah Bernhardt:
O final da década de 40 traria os seus últimos sucessos: Quatro Destinos, onde atuou ao lado de Elizabeth Taylor e interpretou a pequena Beth:
E o maior deles, o grande clássico O Jardim Encantado. Adaptação do livro infantil de Frances Hodgson Burnett, O Jardim Encantado já tinha sido adaptado para o cinema em 1919. O filme conta a história de Mary Lennox (Margaret O’Brien) que viveu na Índia toda a sua vida, mas quando seus pais morrem ela é forçada a se mudar para a Inglaterra para viver com seu tio recluso:
Margaret se casou duas vezes. A primeira com Harold Allen Jr. em 1959. A separação viria em 1968. A segunda vez com Roy Thorsen em 1974. Da relação nasceria sua única filha, Mara, nascida em 1977. O casal permanece unido.
Como ocorreu com a maior parte das estrelinhas infantis, seu reinado acabou quando ela chegou na adolescência. A atriz perdia pouco a pouco o espaço, mas não parou de trabalhar. Margaret afirma que ter tido uma boa estrutura fez com que superasse um problema comum às estrelas infantis: não se adaptar às mudanças e sofrer. Assim, como Shirley Temple, ela soube lidar com a chegada da maturidade e seguiu em frente.
Aos 20 anos começou a trabalhar na televisão, desempenhando bons papéis porém sem o glamour alcançado anteriormente. Ao longo das décadas trabalhou constantemente, porém em menor escala. Seu último trabalho foi em Sunset After Dark, em 1996. Ela aproveitou para dedicar seu tempo livre trabalhando para instituições de caridade relacionadas à AIDS. Nas últimas décadas, a ex-atriz tem participado de congressos e festivais de cinema e homenagens.
Aproveite para ouvir o podcast que a atriz fez em 2014 para o Hollywood Reporter:
Fontes: Nndb, Margaret O’Brien Remembers MGM, Where a Teenage Elizabeth Taylor Kept Pet Chipmunks, Hollywoodrevue, There Will Never Be Another Shirley Temple, Site oficial
Livro:
Margaret O’Brien: A Career Chronicle and Biography