Irmãos gêmeos sempre foram um assunto interessante para a psicologia e de um modo geral para o cinema. Este último aproveitou-se diversas vezes do tema, atendo-se principalmente à temática de irmãos que embora fossem idênticos, tinham um caráter diferente. E geralmente focando na velha história de bom x mau.
E eu imagino que todo bom ator gostaria de interpretar gêmeos em algum de seus trabalhos. Lembro-me de boas atuações de Bette Davis em Uma Vida Roubada (1946), Jeremy Irons em Gêmeos: Mórbida semelhança (1988). Ia citar o garotinho de A Inocente Face do Terror (1972), mas depois lembrei-me que os gêmeos foram feitos por dois irmãos mesmo, o Chris e o Martin Udvarnoky. E quem também se entregou de corpo e alma a esse tipo de filme foi Olivia de Havilland, em Espelhos D’Alma (The Dark Mirror, 1946), dirigido por Robert Siodmak.
Na primeira sequência vemos que um homem foi assassinado. E após uma série de interrogatórios, o policial Stevenson (Mitchell) chega a uma moça chamada Ruth Collins. Ele parte para seu trabalho, indo investiga-la, perguntando-a onde passara a noite do crime. Com uma intensa calma, Ruth responde a cada uma de suas perguntas, mas quando o policial vai em sua casa, descobre que ela tem uma irmã gêmea chamada Terry. E elas são idênticas.
Sua certeza de que Ruth seria a assassina cai por terra, já que ele não tem como provar que foi ela mesmo quem fez ou sua irmã ou nenhuma delas. Não querendo dar-se por vencido, o policial vai em busca de uma ajudinha extra. E é aí que a coisa fica interessante. O Dr. Scott Elliott (interpretado pelo excelente Lew Ayres) aplica o que há de mais moderno naquela época, fazendo testes diferenciados que tentarão provar qual das duas é a verdadeira assassina. E vejam bem, o psiquiatra irá se apaixonar por uma delas, ativando justamente o que ele chama de natural competição entre as irmãs.
Olivia de Havilland é uma atriz tão extraordinária que nem precisaríamos dos colares ou pingentes usados para sabermos que estamos diante de Ruth ou de Terry. Enquanto Ruth é calma, boa e ingênua (close na lembrança de Mulheres de Areia), Terry é altiva, ciumenta e dona da razão. Enciumada, Terry também comete gaslighting com sua irmã, tentando faz-ê-la achar que está ficando maluca.
Outra coisa que chama a atenção no filme são os espelhos. O título original reflete de fato o que as irmãs são: uma reflete a outra de maneira má. E espelhos são espalhados por todo o filme. Apenas observe algumas dessas fotos que coloco ao longo do texto e confira.
O filme é bem roteirizado, tanto que Vladimir Pozner chegou a ser indicado ao Oscar naquele ano, e é uma boa oportunidade de ver como os filmes antigos resolviam o problema de colocar uma atriz para interpretar com ela mesma. E este aqui os efeitos são perfeitos. Em outros momentos, o truque é colocar a dublê de costas, ou no escuro, mas o show é dado mesmo quando fazem uma dupla exposição, com a Olivia dialogando com ela mesma.
Indico esse filme fortemente.