Ao nascer em 23 de janeiro de 1928 em Paris, ela não sabia, mas se tornaria uma das atrizes mais consagradas da França. Sua mãe talvez já previsse, já que foi uma das maiores incentivadoras e também amava as artes, já que era dançarina e chegou a dançar no Folies-Bergère.
Durante a guerra e a garota se refugiou nos livros, que lia com uma constância absurda. Tempos difíceis. Foi uma aluna aplicada até os quinze anos, mas a partir daí perdeu o fascínio. Seu pai a proibia de frequentar cinemas e teatros, e todos já sabemos: a proibição atiça ainda mais a curiosidade, e com Jeanne não foi diferente. A partir daí seu interesse pelas artes se acentuou e ela chegava a faltar às aulas para ir aos teatros. Durante uma dessas fugas, viu a performance de Jean Anouilh em Antigone, e isso acabou por ter um efeito duradouro sobre ela.
A partir desse dia decidiu se tornar uma . Seu pai, um notório viciado em bebidas, foi totalmente contra a decisão da filha, chegando a bater nela diversas vezes. Sua mãe, no entanto, decidiu dar aquela força à filha, levando-a para uma audição no Conservatório Nacional de Arte Dramática.
O Início de Tudo
Após um ano de estudos, estava pronta para estrear na Comédie Française. Seus pais se separaram, sua mãe partiu para a Inglaterra com sua irmã e ela preferiu ficar na França com o pai. Em quatro anos de Comédie Française já tinha participado de vinte e duas peças. Jeanne conheceu e casou-se com Jean-Louis Richard, seu colega do conservatório. Pouco tempo depois do nascimento de seu filho Jérome, a atriz estava de volta à ribalta. O casamento terminou pouco tempo depois, mas Jeanne e Jean permaneceram amigos íntimos por toda a vida.
A paixão que a movia pelo teatro não era suficiente para que ela permanecesse na Companhia, e em 1952 ela fazia suas malas, dando adeus à Comédie Française e entrando para o Teatro Nacional Populaire. Lá conheceu Gerard Philipe, que já estava se transformando em um ator celebrado. O trágico ator faleceria ainda jovem, aos 36 anos de idade, mas naquele momento vivia seu auge. O maior papel de sucesso de Jeanne na companhia foi na peça L’Heure Eblouissante, realizando 500 performances. Atuando em peças cada vez mais reconhecida, atuou textos fortes de George Bernanrd Shaw e Tennessee Williams.
A Chegada ao Cinema
Jeanne não se sentia à vontade nas telas e preferia o teatro desde o início. Segundo Louis Malle, que a dirigiu em Ascenseur pour l’Echafaud, havia uma grande questão: muitos não sabiam como usa-la nos filmes. A atriz também pontua que tal sentimento era ampliado pela sensação de não ser bonita. No filme dirigido por Malle, ela é Florence, uma mulher casada com um milionário e apaixonada por Julien, um ex-militar com quem planeja assassinar o marido. Nele atua ao lado de Maurice Ronet.
Aqui Jeanne prova ser uma atriz talentosa, tanto que Malle não pensou em outra para o filme que preparava para o próximo ano: Les Amants. Aqui ela é uma mulher que abandona sua família para viver um caso de amor. O filme que teve problemas com a censura, algo que ela sofreria durante boa parte de seus filmes. Mas os resultados acabaram se tornando promissores, e o filme ganhou o Festival de Veneza. Seu nome começava a ser impresso na história do cinema. Jeanne ficou não se conformava com a censura, e chegou a pensar em abandonar a carreira cinematográfica, voltando-se ao teatro. Durante esse período conheceu François Truffaut.
Os dois se envolveram amorosamente e um relacionamento de amizade duradoura começava a surgir. O diretor a apresentou a outros cineastas e intelectuais. Foi a partir desse momento que Jeanne começou a ver o audiovisual com outros olhos, voltando a trabalhar com toda empolgação. Em 1959 ela voltava a se encontrar com Gerard Philipe em Les liaisons dangereuses. Essa se configura em uma das melhores versões do romance de Pierre Choderlos de Laclos.
No mesmo ano faria uma participação especial em Les Quatre cents coups, de Truffaut. Durante as filmagens de Moderato Cantibile, onde atuou ao lado de Jean-Paul Belmondo, sofreu um dos maiores choques de sua vida, quando seu filho sofreu um acidente ao lado do ator. O garoto passou duas semanas em coma, mas acabou se recuperando. O acidente a despertou para a vida, fazendo com que aproveitasse cada segundo ao lado dos entes queridos e amigos.
Dirigida por Michelangelo Antonioni, esteve ao lado de Marcello Mastroianni em La Notte (1961). Antonioni era um diretor admirável, mas segundo as memórias da atriz, não era fácil trabalhar ao seu lado e ter que trabalhar durante muitos períodos noturnos. Essa foi uma de suas personagens mais odiadas, e ela também detestava o ponto de vista pessimista do diretor. E de fato devem ter sido difíceis as filmagens porque Marcello Mastroianni também recordava do período em que trabalhou com o diretor como uma das mais difíceis de sua carreira.Seu astral melhorou quando foi convidada por Truffaut para trabalhar em Jules et Jim. A adaptação do romance de Henri-Pierre Roché conta a história de dois amigos que se apaixonam pela mesma mulher, interpretada por Jeanne Moreau. Esse período marcou também o auge do romance entre o diretor e a atriz, e os dois chegaram a dividir o mesmo teto durante alguns meses. O resultado de tanto amor envolvido foi um absoluto sucesso de crítica e público em todo o mundo, com o filme recebendo vários prêmios.
A imagem de sua personagem configurava as mulheres de sua época, livres e liberadas, o retrato dos anos sessenta e da nouvelle vague. O início da década trouxe seu envolvimento com o designer Jeanne Pierre Cardin, com quem se relacionaria durante cinco anos e faria inúmeras viagens. Jeanne se tornaria a musa de Cardin, posando para ele em várias cidades pela Europa. Dentre os maiores admiradores de Jeanne estava o americano Orson Welles, que a considerava a maior atriz do mundo. Finalmente em 1963 os dois conseguiram trabalhar juntos em The Trial, primeiro de quatro colaborações entre a dupla.
Sua fama ultrapassou a França e ela recebeu convites para estrelar em outros países. Na Inglaterra, atuou em The Victors (1963), de Carl Foreman e The Yellow Rolls Royce (1964), de Anthony Asquith. Outro grande fã dela foi Luis Buñuel, que a chamou para estrelar Journal d’une femme de chambre. “Quando ela anda seu pé treme um pouco sobre o salto alto, e isso sugere uma certa tensão e instabilidade”, comentou Buñuel em sua autobiografia. A recíproca era verdadeira, e a atriz o considerava um pai. “Quando trabalhamos juntos não precisávamos conversar. Bastava um olhar e sabíamos o que queríamos”.
Jeanne atuou ao lado de outra grande estrela francesa, Brigitte Bardot, em Viva Maria!, de Louis Malle. O filme teve enorme publicidade e as filmagens chegaram a ser interrompidas diversas vezes por causa da invasão da imprensa e fãs que buscavam algum modo de chegar perto das atrizes. A suposta rivalidade entre as duas também alimentou tabloides ávidos por alguma confusão. De qualquer maneira, sua personagem ajudou a consolidar sua carreira internacional. Mais um escândalo estava garantido quando ela estrelou Mademoiselle, de Tony Richardson. Interpretando uma professora neurótica e sádica, causou surpresa e reações diversas no Festival de Cannes de 1966 pelo seu teor altamente sexual.
Ela foi uma das atrizes que receberam convites para interpretar Mrs. Robinson de The Graduate, mas acabou recusando por causa de outros projetos. Nesse mesmo ano voltaria a trabalhar com Truffaut em La Mariée était en Noir (1968). Sua personagem trazia uma mulher vingativa que busca um por um os homens que mataram seu marido. Um dos melhores filmes de Truffaut, foi sucesso de público, recebendo diversas indicações.
Mais Tarde
Após trabalhar com Orson Welles, a atriz precisou de um tempo para se recuperar. Estava exausta e decidiu se recolher em sua fazenda. Durante quase um ano em sua fazenda, viveu de maneira simples, curtindo sua família e amigos. Em 1970 ela voltaria ao trabalho graças às ofertas que chegavam.
Após trabalhar com tantos cineastas de sucesso, ela estava pronta para colocar em prática tudo o que aprendera com eles, e em 1975 dirigiria seu primeiro filme: Lumière. O filme narra uma semana na vida de quatro atrizes de diferentes idades, trazendo um vislumbre sobre seus relacionamentos e carreiras. Satisfeita com o resultado, dirigiria ainda L’adolescente (1979), um filme que narra a vida de Marie, uma adolescente que viaja com seus pais para uma pequena cidade perto de Avgnon. Lá ela se apaixona por um jovem médico que a trata como uma criança. Após o lançamento, ela ficou um bom tempo sem trabalhar, cuidando de sua saúde e só retornando em 1982 em Querelle, de Rainer Werner Fassbinder. O diretor morreu e a atriz ficou responsável por todo o trabalho de promoção do filme.
Após mais quatro anos de férias – período que ela aproveitou para viajar pelo mundo – ela trabalhou em projetos pessoais e dois filmes para a televisão, L’Arbre (1984) e The Last Séance (1986). Seus amigos começavam a partir, e ela sentia a ausência de Orson Welles, François Truffaut e Luis Buñuel, que morreram na década de oitenta. Uma atriz consagrada, chegava naquela idade em que muitas mulheres começam a serem colocadas de lado ela ainda recebia propostas para papéis importantes em uma série de filmes como Le Paltoquet (1986) e Sauve Toi, Lola (1986). Nesse último ela interpretava uma mulher que sofria de câncer. A atriz também voltava-se a se dedicar à sua grande paixão, o teatro, viajando com sua peça Le Récit de la Servante Zéline ao redor do mundo.
Com uma carreira consagrada que dura mais de sessenta anos, Jeanne tem em seu currículo mais de 146 produções, e continua na ativa. Foi a primeira atriz não norte-americana a aparecer na primeira página da TIME e coleciona prêmios e homenagens por todo o mundo. Ela sobreviveu a vários de seus amigos, que considerava seus grandes amores e hoje se considera uma mulher realizada.Fontes: