O roteiro escrito por Robert Lord traz a história de Frank Taylor (Bogart), um homem casado, pai de família e que tem um bom relacionamento com todos que o cercam. Aparentemente não tem grandes vícios e apenas uma ambição: chegar ao cargo de chefia. Quando a chance chega, é Joe Dombrowski (Henry Brandon), um operário polonês, que é indicado no seu lugar.
Embora Joe tenha maior capacidade, estudando à finco e contribuindo mais positivamente ao cargo, Frank não esquece de observar que ele é um estrangeiro, e começa a cultuar uma antipatia por ele, iniciando um movimento de ira contra o sistema que julga inferiorizar os americanos.
Após escutar no rádio um programa sobre idéias fascistas, é levado a se encontrar com um grupo chamado Legião Negra. Jurando fidelidade, vê sua vida virar pelo avesso. O homem bom e honesto, bom marido e pai, passa a se tornar um violento membro da gangue que mata sem piedade quem não concorda com seus valores vazios. O grupo passa a perseguir pessoas que julgam inimigas, invadindo e queimando casas, assustando a todos.
Frank passa a humilhar sua esposa, levando-a a abandoná-lo. Sem culpas ou medos, o homem destila todo o seu ódio e recruta outros membros para a gangue, se tornando um idólatra. Quando seu amigo de longa data, Ed (Dick Foran), tenta chama-lo para a realidade, Frank decide dar um basta e assustá-lo. O plano dá errado e o amigo acaba assassinado.
Dirigido por Archie Mayo, a história foi baseada em um caso real ocorrido em Michigan, quando uma organização xenofóbica e racista chamada Legião Negra, assassinou o operário Charles Poole. O grupo desejava “limpar” a América de estrangeiros e primar pela pureza da raça de dos “bons costumes”. O grupo foi fundado no início da década de 20 e era uma filiar da KKK (Ku Klux Klan).
O ódio pelos negros, judeus, católicos, comunistas, sindicatos e imigrantes fez com que seus membros utilizassem de força coercitiva e intensa violência contra quem não entrasse em suas regras. O apoio de muitos políticos foi fundamental para sua existência.
Mas esse não foi o primeiro filme sobre o fato ocorrido com Charles Poole. Em 1936 a Colúmbia lançou Legião do Terror, dirigido por Charles C. Coleman e trazendo Bruce Cabot no papel que seria destinado a Bogart. Em Legião Negra houve um apuro técnico para trazer maior veracidade, reproduzindo os trajes e rituais do grupo. Tal apuro acabou resultando em um curioso processo da KKK, que reclamava a patente do símbolo utilizado. O caso acabou sendo arquivado.
O tema forte causou controvérsia e o filme chegou a ser proibido em diversos países, mas em geral trouxe bons elogios da crítica e do público, sobretudo a Bogart. É importante frisar o quanto esse filme contribuiu para a carreira de Humphrey Bogart, que se tornaria um grande astro somente a partir da década de 40, com filmes como Relíquia Macabra e Casablanca.
Mas entre 1936 e 1940 ele faria participações em 28 produções, algumas esquecíveis, e na maioria com pequenos destaques. Era mais solicitado para papéis de gansters ou bandidos, como foi o caso de Floresta Petrificada (1936), onde atuou ao lado de Bette Davis.
Em Legião Negra ele mostrava que estava apto para ser protagonista de grandes produções, e traz uma das atuações mais soberbas de sua carreira. Aqui ele dá vida ao homem que traz nuances diferenciadas, e que acolhe o drama das mudanças em sua vida. De homem pacato, se torna um violento membro da gangue, culminando em um arrependimento tardio ao final do filme. Sua interpretação foi muito elogiada pelos críticos, trazendo boas oportunidades nos anos seguintes.
Sem dúvida um filme necessário para entender um pouco o quanto certos conceitos permanecem assustadoramente atuais. Se envolver com grupos extremistas fazem mal não só às vítimas, mas também a quem aceita fazer parte deles.
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