Em 1969 os Beatles estavam se separando, a guerra do Vietnã ainda estava longe de acabar, os conflitos raciais que sempre abalaram a América tomavam ares de revolta e junto com as discussões acaloradas surgia em contrapartida uma geração Paz e Amor, que tinha a liberdade como principal meta. Com o surgimento da pílula anticoncepcional as mulheres podiam finalmente decidir sobre o seu corpo e uma revolução sexual mudava convenções e padrões sociais aceitos até as décadas passadas e muitas dessas ideias acabaram por influenciar gerações futuras que viram no período um marco de inovações.
Acompanhando o movimento, o cinema, como forma de retratar uma realidade, não podia ficar de fora, e nesse período Doris Day e suas comédias românticas extremamente adocicadas e moralmente ultrapassadas começavam a serem colocadas de lado. Nesse encalço, surgiu “Bob & Carol & Ted & Alice”, dirigida por Paul Mazursky. A comédia mexe com as relações entre casais em meio a essa revolução e toca em assuntos como a troca de parceiros, a monogamia e a fidelidade no sentido de falar sempre a verdade, seja qual ela for.
Vários atores foram sondados para participar da produção, como Robert Redford, Steve McQueen, Warren Beatty, Jane Fonda e Faye Dunaway, nomes fortíssimos na décadas de 60 e 70. Karen Black chegou a fazer um teste para o papel de Alice, assim como Paula Prentiss. O quarteto principal coube no entanto a Natalie Wood (Juventude Transviada), Dyan Cannon (O Céu Pode Esperar), Robert Culp (Columbo) e Elliott Gould (MASH).
Após participarem de uma terapia em grupo, o casal Bob e Carol estão cheios de amor, um amor tão transbordante que eles querem transmitir para toda a humanidade. Estão dispostos a mudar a forma como enxergam sua relação, decidindo variar um pouco e experimentar novos parceiros.
Os dois também aconselham seus amigos Ted e Alice a seguirem suas convicções, mas Alice ainda é bem conservadora e se choca inicialmente quando seu marido admite ter tido um caso extra conjugal. Ela fica perturbada com a revelação e não sabe lidar isso. Alice sugere uma orgia durante uma viagem a Las Vegas. Mas estariam eles dispostos a uma mudança tão radical de paradigma? As tensões tomam conta dos casais quando chega a hora.
Embora tenha um desenvolvimento lento, o filme traz bons diálogos e reflexões, causando um grande impacto na época em que foi lançado. O tema forte de infidelidade e troca de casais acabou por influenciar outros filmes que trataram também sobre o assunto. E embora um pouco ultrapassado hoje em dia é uma boa base para que saibamos a realidade vivida por naqueles tempos.
E apesar de qualquer polêmica que possa existir em torno do assunto, há um ponto interessante a ser observado no filme. É a questão da verdade. Será possível mesmo falar sempre a verdade dentro de uma relação? Até que ponto as pessoas estão preparadas para serem sinceras todo o tempo? A honestidade constante acaba sendo uma faca de dois gumes, oferecendo a segurança e também a mágoa, caso a verdade dita não agrade aos ouvidos.
O filme que trata sobre a crise moral pela qual passavam casais de média idade na época é difícil de ser simplesmente colocado como uma comédia, se pensarmos no drama vivido por seus personagens.
Mas é sempre bom rever Natalie Wood, principal nome do elenco, e que manteve durante toda a sua vida uma carreira constante, desde os infantis “De Ilusão também se Vive”, passando por dramas adolescentes como o inesquecível “Juventude Transviada” e “Clamor do Sexo”. A atriz que teria um final trágico (ela afogou-se durante um passeio em um iate) emprestou seu talento a esse filme, considerado por Paul Mazursky o seu preferido.
O filme está sendo lançado pela Obras Primas no box Coleção Dose Dupla Natalie Wood. O outro filme que compõe a coleção é À Procura do Destino.
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