A americana Barbara Stanwick emprestou seu talento para mais de 85 filmes numa carreira que durou 60 anos. Dividida entre o cinema e a televisão, foi indicada Oscar quatro vezes, por Stella Dallas (1937), Bola de Fogo (1941), Double Indemnity (1944) e Sorry, Wrong Number (1948), mas infelizmente é uma daquelas atrizes que, como Irene Dunne, foi esquecida pela Academia. Ela recebeu um prêmio honorário pela carreira em 1982.
Uma profissional versátil, trazia uma presença fascinante às telas, com personagens diversificadas e atraindo os olhares de cineastas experientes, que a julgavam uma das melhores atrizes de seu tempo, como Cecil B. DeMille e Frank Capra. Mas a sua carreira vai além dos prêmios e indicações e temos finalmente o lançamento pelo Selo Obras Primas do Cinema de dois de seus filmes inéditos no Brasil, o noir Casei-me com um Morto (1950) e Triunfos e Mulher (1931). Os filmes vem com legendas em português e com dois cards exclusivos.
Após ter a vaga negada pela enfermeira chefe, Lora Hart (Barbara Stanwyck) tropeça em um dos médicos chefe e acaba contratada para trabalhar como estagiária em um grande hospital. Ela logo faz amizade com a jovem Maloney (Joan Blondell), uma enfermeira que vive de forma leve a vida, e sabe lidar bem com os destemperos da enfermeira chefe. Juntas elas lidam com a rotina estafante do local e se tornam grandes companheiras até a formatura de ambas. Em um dos plantões Lora conhece Mortie (Ben Lyon), um mafioso. Ela tira a bala que estava alojada em seu ombro, e ele lhe fica grato pelo favor, passando a protegê-la, surgindo sempre em momentos pontuais, e salvando-a de algum empecilho. Já formada, Lora vai trabalhar como enfermeira em uma casa onde duas crianças se encontram doentes e começa a perceber que elas parecem nunca melhorar. As crianças são filhas de uma mãe alcoólatra, e ao tentar descobrir o motivo delas viverem abandonadas, é impedida pelo chofer Nick (Clark Gable), um homem violento e que bate em qualquer pessoa que apareça para acabar com seus planos.
Apesar de um roteiro rocambolesco, é interessante observar alguns pontos que pouco a pouco seriam retirados do cinema americano após a censura que se abateu sobre os filmes com o Código Hays de 1934. Aqui o personagem mafioso ganha ares de gentleman, sempre socorrendo Lora em momentos cruciais do filme, algo que seria estritamente proibido anos mais tarde. Ben Lyon, que interpreta o simpático mafioso, começou a atuar em 1918 ainda na época do cinema silencioso, e era por essa época o nome mais forte do elenco, já tendo atuado ao lado de grandes divas como Pola Negri, Barbara La Marr, Viola Dana e Mary Astor, Jean Harlow dentre outras.
Joan Blondell também aparece como um destaque, e naquela época, assim como Stanwyck, era uma grande promessa para as telas. Ela está à vontade no papel da amiga enfermeira, e as cenas de saída das duas colegas em roupas íntimas seria algo chocante a partir de 1934. Talvez o ponto mais decepcionante do filme seja mesmo a presença do fraco Clark Gable, também um iniciante mas mostrando de forma caricata o que seria um vilão.
Exagerado demais, irritado demais, com gritinhos cuspidos e braços sempre em riste, herdou o papel que seria interpretado por James Cagney. Cagney, já naquela época colhendo os louros de seu sucesso em Inimigo Público, lançado naquele verão com sucesso absoluto, começava a achar que um papel secundário era pouco para ele, e deixou o caminho aberto para o futuro Rhett Butler. De forma totalmente amadora, Gable aparece como um brutamontes que grita e se descontrola de forma pouco convincente.
O final é decepcionante e o filme vale mais como curiosidade do que como obra de arte em si e é incrível a nota 7 que ele abocanha no site IMBD. De qualquer maneira vale a pena pelo trio Stanwyck, Blondell e Lyon, afinados em seus papéis principais.