Há uma parte da vida meio complicada, mas ao mesmo tempo mágica. Aquele em que as mudanças chegam com tudo e um mundo de possibilidades surgem à sua frente. A perda da infância e a consequente obrigação de resolver seus próprios problemas traz o medo do futuro. Não tem jeito, todos já passamos por isso, em menor ou maior escala: aquela vontade de abraçar a infância e não sair dela.
Assistir a “Quatro Destinos” (Little Women) é lembrar um pouco sobre desses sentimentos. O filme de 1949 traz uma das mais doces obras do cinema clássico. Um tema que dificilmente vemos ser tratado com tamanha delicadeza atualmente. O drama dirigido por Mervyn LeRoy acaba de ser lançado em dvd no Brasil pela
Classicline, e, olha a imagem está perfeita!! E é sobre o filme que vou falar agora.
O romance escrito por Louisa May Alcott foi publicado em dois volumes entre 1868 e 69 e acompanha a vida de quatro irmãs: Meg (a mais romântica), Jo (a libertária), Beth (a tímida) e Amy (a egoísta). Com relatos autobiográficos, rapidamente alcançou grande sucesso e Alcott chegou a escrever uma segunda parte chamada “Good Wives”. Os livros foram adaptados para o cinema já a partir de 1917, seguida de versões em 1918, 1933, 1949, 1978 e 1994.
Para a versão de 1949, Mervyn LeRoy selecionou um time campeão que incluía Elizabeth Taylor (Amy), Margaret O’Brien (Beth), Janet Leigh (Meg) e June Allyson (Jo). Para os demais papéis, Peter Lawford (ainda considerado um galã no papel de Laurie) e um muito jovem Rossano Brazzi, que fazia sua estréia nos cinemas americanos. Demorei um tempo para perceber que se tratava do eterno galã italiano de filmes como Quando o Coração Floresce (1955). Mary Astor tinha apenas 11 anos a mais que June Allyson, mas interpreta aqui sua mãe, e já entrara naquela fase em que passara a ser escalada para mães doces. Seu papel ganha pouquíssimo destaque, e quase não percebemos algum sentimento, já que o foco é total nas meninas.
Elizabeth Taylor, a mais lembrada das irmãs, tinha 17 anos na época. Um período assustador para astros infantis, mas não para ela, que foi preparada para o estrelato desde pequena e tinha uma beleza assustadora. Ela emplacaria um sucesso atrás do outro. Basta lembrar que no ano seguinte já faria papéis adultos em filmes como O Pai da Noiva e Um Lugar ao Sol, ao lado de Montgomery Clift.
O mesmo sucesso não teria Margaret O’Brien, que se destacara em filmes como Agora Seremos Felizes (1944). Cinco anos a separavam de Tootie, sua personagem mais famosa, e agora ela era uma adolescente de 12 anos que, apesar de ser uma ótima atriz, não conseguiria bons papéis a partir de então. Seu último destaque de fato foi em O Jardim Secreto, lançado ainda aquele ano e que tentava ainda explorar o lado infantil da atriz.
Quando lembro de Janet Leigh sempre me vem à cabeça a cena do chuveiro no famoso filme de Hithcock, Psicose. Mas antes disso, a atriz que se casara com Tony Curtis fizera muitos romances e dramas e tinha uma carreira regular.
E, por fim, June Allyson, conhecida por suas participações em comédias e romances, fazia parte do time campeão dos musicais. Ela tinha 30 anos na época em que interpretava uma adolescente de 15, e estava grávida. A atriz já tinha uma carreira sólida que duraria mais alguns anos.
Quatro irmãs vivem com sua mãe em Massachusetts. Todos passam por dificuldades devido à guerra, e sua família não é exceção. O pai está ausente, mas mata um pouco as saudades através de cartas. Jo deseja viver livremente, e não entende as convenções sociais que diferenciam meninas de meninos. Seu maior sonho é se tornar escritora, e boa parte de seu dia é em seu quarto, escrevendo. Mas logo ela conhece Laurie, o vizinho bonitão e simpático que logo se apaixona por ela. É conflitante, pois não sabemos ao certo se Jo também corresponde a esse amor e tem medo ou se de fato o tem como um irmão e amigo. O fato é que ela tem medo de se apegar e acaba rejeitando.
As irmãs tem uma tia ranzinza e que aparentemente gosta apenas de Amy, a mais egoísta das irmãs. É ela quem consegue viajar para a Europa e conseguir melhores perspectivas de vida. Meg, por sua vez, é a primeira a conseguir um bom relacionamento e se casar. A parte triste da história fica por conta da doce Beth, cujo final emociona a todos que veem essa película.
Algumas curiosidades retiradas do IMDB:
– A música original foi composta por Adolph Deutsch e Max Steiner .
– No livro, Beth é mais velha do que Amy.
– Na cena em que Beth diz a Jo que não se importa em morrer, as lágrimas de June Allyson são reais. Ela ficou tão comovida com o desempenho de Margaret O’Brien que se emocionou, sendo dispensada do trabalho mais cedo e ainda às lágrimas.
– A neve foi feita com flocos de milho.
– Esse era um dos filmes favoritos de June Allyson.
– A cestinha que a Margaret O’Brien leva foi a mesma usada por Judy Garland em O Mágico de Oz. Que legal né?
– Elizabeth Taylor quebrou a perna durante as filmagens, e acabou se afastando das filmagens por algumas semanas. Mas ela não perdeu tempo: visitou os amigos no set e pediu que eles escrevessem no seu gesso.
– A versão original de David O. Selznick seria realizada em 1946 e contaria com um elenco diferente: Jennifer Jones (Jo), Diana Lynn (Amy), Bambi Linn (Beth), Rhonda Fleming (Meg), John Dall (Laurie), Anne Revere (Marmee), Charles Coburn (avô), Philip amigo (Brooke) e Constance Collier.
Querendo rever ou assistir pela primeira vez a esse filme? Ele está sendo lançado em dvd pela Classicline e pode ser adquirido na Livraria Cultura. Também está disponível nas lojas físicas de dvd.
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