Você não nasceu glamourosa, o Glamour é Criado!
O cinema surgiu no século 19, mas somente a partir da segunda metade da década de 10 começou a se tornar um negócio lucrável para os envolvidos. Não sejamos românticos. Essa indústria de arte visava não só satisfazer o desejo dos espectadores, mas também lucrar com a paixão crescente de quem via naqueles filmes, momentos de fuga da realidade. É preciso que se desligue a ideia de uma arte pura que não objetifica os ganhos financeiros.
E para investir era preciso ter a certeza de um retorno garantido. Tendo em vista isto, os grandes estúdios criaram um sistema que visava fortalecer a imagem de seus contratados. Uma máquina cujo potencial alcançou as grades massas através de propagandas variadas. Tornou-se bastante comum propagandas através das rádios (meio de comunicação de maior alcance naquele período), anúncios de revistas (surgiam as especializadas em fofocas de cinema) e cartazes espalhados pela cidade.
Os atores e atrizes contratados seguiam regras de conduta que diziam o que podiam fazer com seus corpos e suas vidas, e até com quem se relacionavam. Em troca, seus rostos estampavam anúncios de revistas, cartazes e outdoors que vendiam suas imagens. Era necessário que estivessem sempre bem vestidos, as mulheres maquiadas e com os coques sempre em dia. Nem um fio de cabelo fora do lugar. Escândalos deviam ser evitados a todo custo.
A junção de tudo isso criou-se a ilusão para o público de que eles eram divindades que não tinham defeitos, sendo naturalmente belos, puros e felizes. Essa junção de atitudes atraia cada vez mais pessoas às salas de exibição, trazendo lucro para todos. Mas como criar essa ilusão? Vamos começar como devemos: pelo começo.
O Início de Tudo
O polonês Max Factor iniciou a carreira vendendo cosméticos artesanais na Rússia. Em 1902 partiu para a América com sua família. Inicialmente morou no Missouri, mas algum tempo depois estabeleceu-se em Los Angeles com sua Max Factor & Company. Ele tinha um motivo justo para escolher o local: estava de olho no cinema.
Ele achava que a maquiagem utilizada nos filmes eram aterrorizantes. E tinha razão. Mas isso era perfeitamente explicado por volta de 1914. No início do cinema, os atores trouxeram para as telas maquiagens que utilizavam nos teatros. Bem, isso não funcionava bem nas telas, pois as películas eram extremamente sensíveis aos tons azulados, trazendo distorções na transformação para os tons cinzas.
Você já deve ter visto alguma imagem de películas do cinema mudo e percebeu seus rostos fantasmagoricamente pintados de branco, correto? Os atores (sim, eles mesmos se maquiavam) foram percebendo que menos pior do que pintar o rosto de branco era deixa-los naturais. Os pigmentos da pele eram escurecidos pelas lentes, assim como determinados tons não refletiam bem. Assim, os rostos eram pintados de branco, os olhos destacados com tinta (para demarcar o local) e os lábios pintados de amarelo (melhor tom para a fotografia). Apenas imaginando alguém assim a olho nu. Todo o conceito também se aplicava às roupas.
Isso foi sendo sanado com o tempo, quando os cinegrafistas foram criando filtros que diminuíram esses efeitos de tons. Mas aí surgia um novo problema: como disfarçar as imperfeições? Max Factor trouxe com sua maquiagem a possibilidade de tornar as feições dos astros mais humanas. Uma das primeiras contribuições foi o creme Supreme Greasepaint. Melhorando o conceito do creme que já era utilizado, ele passou a comercializa-lo em tubos flexíveis e que poderia ser aplicado facilmente, evitando também o craqueamento do produto comercializado até então. Esse creme resolvia também o problema da iluminação intensa que era utilizada para controlar os tons.
Além de trazer benefícios para o cinema, Max Factor também pregava que qualquer uma podia ser glamourosa ao utilizar seus produtos, passando a comercializa-lo em grande escala. No início da década de 20 a empresa já estava firmada no mercado e nascia o conceito de make-up. A indústria do cinema e a de cosméticos firmavam uma parceria indissolúvel. E os astros e estrelas? Uma vez contratados, colocavam suas vidas nas mãos de seus chefes, que os encaminhavam para as mudanças necessárias em seus visuais. Estrelas como Ava Gardner, Lana Turner, Jean Harlow, Marlene Dietrich dificilmente sairiam em público sem estar devidamente preparadas.
A empresa também introduziu conceito sobre uso das cores e harmonização das mesmas de acordo com a característica pessoal de cada um. E isso incluíam conceitos sobre cores de rostos e cabelos, muitas vezes substituídos por perucas. Em 1928 ele trazia uma grande inovação: a Lip Pomade, mais conhecida por nós como o brilho labial. ele dava aquele efeito brilhante e saudável aos lábios.
Agora olhe esse instrumento abaixo que mais parece uma máquina de tortura:
Bem, ele pode parecer, mas o calibrador de beleza (ou Beauty Calibrator) tinha uma função interessante. com o instrumento, o inventor media as dimensões exatas do rosto, criando a perfeição dos traços. Com essas medidas era possível estabelecer o tamanho ideal dos olhos e iguala-los através de maquiagem. O tamanho dos lábios perfeitos também eram medidos, criando-se pessoas perfeitas ou com imperfeições minimizadas a olho nu.
As invenções de Max Factor foram tão essenciais que em 1929 o inventor recebeu um Oscar por sua contribuição à indústria cinematográfica. Ninguém duvida, não é mesmo? Mas o trabalho não estava finalizado, pois com a chegada dos filmes coloridos, foram necessários novos estudos para adequações de cores. Mas isso é assunto para outra matéria.
A beleza das grandes estrelas de Hollywood eram fruto de muitos trabalhos que envolviam estudos de maquiagem e por vezes cirurgias plásticas. Lembre-se disso antes de dizer que a beleza antigamente era natural e sem artifícios.
Em tempo: Max Factor morreu aos 66 anos de idade em 1938. Seu filho assumiu a empresa e continuou servindo Hollywood durante décadas.
Fontes: Max Factor, Cosmeticsandskin, Thehollywoodmuseum
Livros sobre o assunto:
Max Factor: The Man Who Changed the Faces of the World, de Fred E. Basten
Max Factor and Hollywood: A Glamorous History
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