Alla Nazimova, a exótica musa do Jardim de Alá

1822

Esta russa era considerada uma das mais exóticas atrizes estrangeiras que chegaram em Hollywood. Alla também se tornaria conhecida por seu talento, pioneirismo e grandes festas dadas em seu conhecido Jardim de Alá.

Mariam Edez Adelaida, mais conhecida como Alla Nazimova, nasceu em 22 de maio de 1879 na cidade Yalta, Rússia. Era a terceira de três filhos, e sofreu durante a infância com um pai extremamente violento e alcoólatra. Após a separação dos pais, a pequena de apenas 8 anos passou um bom tempo vivendo entre instituições e casas de parentes. Mesmo com uma educação deficitária, desenvolveu um gosto pessoal pelas artes, e em especial pelo teatro. Após estudar no Conservatório de San Petersburgo, teve também aulas com Konstantin Stanislavsky e Máximo Gorki. Em 1899 viajou por várias cidades se apresentando nos palcos e também se casou com o russo Sergei Golovin. Por volta de 1903 ela já tinha um nome conhecido dos palcos de Moscou.

A estréia nos palcos da Broadway veio em 1906, e logo ela se tornava uma estrela também na América, se tornando bastante popular. Claro que isso lhe renderia um convite para entrar na indústria do cinema, uma indústria que crescia cada vez mais. Finalmente em 1916 Alla chegava às telas numa adaptação de War Brides, de Herbert Brenon, já encenada por ela nos palcos.

War Brides (1916)

Após uma série de filmes, seu nome estava firmado. Em 1921 ela faria um dos seus trabalhos mais conhecidos, a Camille de A Dama das Camélias (1921), adaptação da obra de Alexandre Dumas. O filme tinha cenários em art decó feitos por Natacha Rambova, amante da atriz e esposa do ator Rodolfo Valentino. A atriz estava com 44 anos e sua Camille é uma curiosa figura que em quase nada lembra a trágica personagem também interpretada por sua contemporânea Greta Garbo alguns anos depois. Vale a pena dar uma olhada nesta versão que pode ser encontrada completa no youtube.

Alla Nazimova w Rudolph Valentino em Camille (1921)

Outro filme bastante marcante foi Salomé (1922), baseado na obra de Oscar Wilde. Sempre atenta ao mundo ao seu redor, a atriz também se sentiu à vontade para dirigir e investir no drama. E ela parecia bastante à vontade no papel da dançarina sedutora que pede a cabeça de João Batista. Em homenagem a Wilde, todo o elenco e equipe técnica participante era homo ou bissexual. Inclusive algumas personagens femininas foram interpretadas por homens. Confira um pedaço:

Mas aí veio o tormento da maioria dos astros daquela época: a chegada do cinema falado. Com isso, muitas carreiras acabaram sendo prejudicadas, em especial os estrangeiros ou aqueles que possuíam sotaques diferenciados. Havia um agravante. Depois do fracasso comercial de Salomé, Alla não tinha mais como investir em novos filmes. Decidiu voltar-se novamente para os palcos. E foi lá que seguiu uma carreira de relativo sucesso. Foi somente na década de 40 que a atriz faria pequenas participações em alguns trabalhos como Escape (1940) e Sangue e Areia (1941), interpretando em geral mães. O filme estrelado por Rita Hayworth e Tyrone Power é uma oportunidade de ouvir sua voz e vê-la em technicolor. Confira o trailer:

https://www.youtube.com/watch?v=vNmJnQK3lqQ

Além do casamento com Sergei Golovin, Alla também se uniu ao ator Charles Bryant por volta de 1912.  Consta, porém, que os dois na verdade eram apenas amigos em uma América que exigia que seus atores fingissem uma heteronormatividade. Mas o segredo não foi guardado durante muito tempo, e na década de 20 os fãs recebiam a notícia de que o casamento dos dois fora apenas uma grande farsa. Alla era uma das mulheres mais influentes de sua época. De espírito livre, teve muitas amantes, dentre elas Dorothy Arzner, Mercedes Acosta, Eva Le  Gallienne, formando um conhecido círculo de lésbicas em Hollywood.

Alla Nazimova em In Our Time (1944)

Ela se tornou conhecida também por sua vida social intensa, dava inúmeras festas em sua casa, conhecida como “Garden of Alah” (Jardim de Alá). Nas festas regadas a muita agitação, os personagens podiam ficar à vontade para serem o que tanto escondiam nas telas. Dentre seus frequentadores ilustres estavam astros como John Barrymore, Tallulah Bakhead, Mildred Harris (ex-esposa de Charles Chaplin), Marlene Dietrich e Nita Naldi, dentre outros. A mansão ficou em suas mãos até por volta de 1926, quando então se converteu em um hotel. Alla permaneceria morando lá até morrer em 13 de julho de 1945 de uma trombose coronária. Tinha 66 anos. O Jardim de Alá seria demolido em 1959.

Fontes: Alla Nazimova SocietyWomen Film Pioneers ProjectIn the Galleries: Alla Nazimova and Her Garden of Allah

Veja também:

Traje Usado por Alla Nazimova é encontrado em um sótão

 

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