A Divina Vivien Leigh

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Mais de 30 anos de carreira, que poderiam ter rendido mais do que os 19 filmes, mas que mesmo assim mostraram várias facetas de seu trabalho que lhe rendeu 2 prêmios da Academia. O casamento com um dos maiores atores ingleses, que acabou colocando-os num patamar de nobreza britânica. A fama de beleza e felicidade, mas que escondia  do grande público uma doença constante e progressiva: a bipolaridade.

Hoje, quatro décadas após sua morte, a sua obra é reconhecível, mas sua personalidade permanece intocada, nunca verdadeiramente conhecida ou entendida. Ainda ficamos maravilhados com a sua beleza e talento levados aos filmes e a sua performance naqueles que são considerado dois dos maiores papéis femininos já criados, Blanche Dubois e Scarlett O’Hara. Essa é Vivien Leigh.

Ela costumava dizer que havia um pouco dela em cada personagem que representava, fosse a Cynthia de “Fogo sobre a Inglaterra”, Elsa de “Um Ianque em Oxford” ou Scarlett de “E o vento levou”, mas foi  Blanche de “Um bonde Chamado desejo”, com toda a sua inconstância,  quem chegou mais perto de sua real personalidade.

Vivian Mary Hartley nasceu em 1913, na Índia, onde seu pai trabalhava como corretor da Bolsa de valores, passando boa parte de sua primeira infância lá. Seu pai gostava de teatro, e se emocionou com a primeira performance teatral de sua filha, aos 3 anos, recitando poesias. Aos 6 , sua mãe achou que ela deveria ter uma educação inglesa, e a garota foi mandada para um convento, onde permaneceu longe da família. Lá ela fazia pequenas peças, tornando-se uma das garotas mais populares da escola.
Aos 15 voltou a viver com os pais, e a viajar. Aos 19 anos casou-se com Leigh Holman, advogado, 12 anos mais velho que ela, e no ano seguinte já era mãe. Após o parto, Vivian foi estudar na Royal Academy of Dramatic Arts, conseguindo pouco tempo depois algumas pontas em filmes. Foi então que mudou seu nome de Vivian para Vivien, acrescentando o sobrenome do marido, Leigh.
“Look up and laugh” de 1935 foi um dos seus primeiros filmes. Sua voz fina e seu rosto rechonchudo levavam a crer que não teria muito futuro, mas ela seguiu no teatro, e fez um enorme sucesso com  “The mask of Virtue”, chamando a atenção do ator Laurence Olivier. Olivier já tinha a carreira estabilizada no teatro, e Vivien, assim como todos, desejava trabalhar ao seu lado. O inevitável aconteceu e eles cabaram se apaixonando. Foi um relacionamento problemático no início, pois ambos eram casados e com filhos.  Em 1937 estrelaria seu primeiro filme ao lado de Olivier, “Fogo sobre a Inglaterra”.
Olivier e Vivien em “Fogo sobre a Inglaterra”
Em “Tempestade num copo d’água”, ao lado de Rex Harrison, ela provou que podia fazer comédias. No mesmo ano ela faria sucesso ao lado de Charles Laughton, como uma artista de rua em “St. Martin’s Lane”.
Apesar de ter aparecido em 10 peças e 10 filmes ainda não era reconhecida fora da Inglaterra. Foi quando soube dos testes para elenco de “E o vento levou”, versão cinematográfica do livro de Margaret Mitchell, ambientado na guerra civil americana. Ela decidiu ir à América para tentar, e foi a 244ª atriz a fazer os testes. Tinha 26 anos.
Sua escolha causou enorme surpresa aos fãs da obra, pois o papel de uma heroína tipicamente sulista era entregue a uma inglesinha. Deixara para trás atrizes como Paulette Goddard, Katherine Hepburn e até mesmo Bette Davis. Mas o resultado provou ser justo, e a Scarlett de Vivien cativou milhares de fãs no mundo inteiro. Com o filme ganhou o seu primeiro Oscar.
Em 1940 a atriz voltou a contracenar com Robert Taylor, em “A ponte de Waterloo”, que ela considerava seu filme favorito. Neste mesmo ano ela divorciou-se de Leigh, dando-lhe a guarda de Suzana, sua filha de 6 anos, e casou-se com Olivier. Estrelaram mais um filme juntos, “Lady Hamilton, a divina Dama”. Vivien seguiu paralelamente sua carreira no cinema e no teatro, encenando peças de Bernard Shaw. Quando filmava “Cesar e Cleopatra”, a atriz caiu no set e sofreu um aborto. Foi também durante esse período começaram a surgir os primeiros sintomas de sua doença emocional.
Em 1945 Vivien aceitou outro papel no teatro  em “The skin of our Teeth”, tendo seu primeiro esgotamento físico e sendo forçada a se retirar da peça por ser diagnosticada com tuberculose. Vivien também sentia-se frustrada, pois, sabendo dos planos de seu marido Olivier, de trazer “Hamlet” para as telas, ofereceu-se para o papel de Ofélia, mas ele acabou escolhendo uma atriz mais jovem. Ela seguiria fazendo “Anna Karenina”, ao lado de Ralph Richardson, no cinema, um de seus grandes fracassos.
Com Olivier
 Em 1950 a atriz aceitou o desafio que ficaria marcado como um dos pontos altos de sua carreira. Blanche, de “Um bonde chamado desejo”, de Tennessee Williams. Teria Marlon Brando como parceiro. Uma verdadeira provação, em que ela exibia aspectos de sua própria personalidade conturbada, que estavam se tornando difíceis de dissimular. Para esquecer os problemas emocionais, ela passaria a trabalhar cada vez mais e mais. O esgotamento lhe renderia alguns ataques de nervos e seu 2º Oscar.
Com o elenco de Um Bonde Chamado Desejo
 As suas mudanças de humor se tornavam cada vez mais freqüentes, fazendo com que em momentos de fúria quebrasse janelas, atacasse pessoas, fizesse cenas para depois se desculpar quando se acalmava.  Nas clínicas, passava por tratamentos de choque, que se tornavam ineficientes. Para Olivier, a pressão tornava-se quase insuportável, e ele costumava dizer que Vivien havia lhe dado alguns dos melhores momentos de sua vida, e também alguns dos piores. Aos 40 anos a estrela de Vivien começava a cair. Em 1956 ela fez “Tito Adronico” no teatro, ao lado de Olivier. Ele, um enorme sucesso no papel principal, ela, num papel minúsculo. Ela passava então, por enormes problemas, com ataques maníacos cada vez mais constantes.
 Olivier acabara por deixá-la por uma mulher mais jovem. Em 1964 Vivien viveu seu último papel no cinema,  “A nau dos Insensatos”, onde interpretava uma mulher de idade avançada, com dificuldades para aceitar a sua idade. Durante as filmagens a atriz teve novos problemas de saúde, passando por mais tratamentos de choque, sendo obrigada a ausentar-se dos sets por estar tremendo em algumas cenas. Estava claro que os tratamentos não faziam efeito.
O círculo estava se fechando. Ela que amava tanto a magia, era agora uma mulher doente. Em 1967 Vivien morreu, de tuberculose. Foram 53 anos de todos os humores possíveis. Se fosse possível escolher uma frase que resumisse a sua vida, seria esta de Blanche Dubois, que ela tão bem viveu no cinema:
“Há coisas que não são imperdoáveis. A crueldade deliberada é uma delas. Isso é uma coisa que para mim é imperdoável. E eu nunca, nunca serei culpada disso.”

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