Eartha Kitt: A Voz Inesquecível e a Primeira Mulher-Gato Negra
Eartha Kitt brilhou como cantora, atriz e a primeira Mulher-Gato negra. Conheça sua trajetória marcada por talento, ativismo e superação.

O talento magnético de Eartha Kitt
Orson Welles a definiu como “a mulher mais emocionante do mundo”, e poucos discordariam. Eartha Kitt foi uma cantora de voz marcante, dançarina fascinante e atriz talentosa que deixou sua marca na história do entretenimento.
Além de conquistar o público com sua performance sensual e cativante nos palcos, Eartha se tornou a primeira mulher negra a interpretar a Mulher-Gato na série de TV Batman (1967), um feito revolucionário para a época. Seu flerte com o Batman de Adam West chocou a sociedade conservadora, mas consolidou sua imagem como uma artista ousada e à frente de seu tempo.
Infância difícil e a luta contra a rejeição
Os registros sobre o nascimento de Eartha são confusos. Sabe-se que ela nasceu em St. Matthews, Carolina do Sul, em 17 de janeiro, mas o ano exato pode ter sido 1926 ou 1927. Filha de Annie Mae Keitt, foi abandonada pela mãe quando esta se casou novamente.
Eartha nunca conheceu o pai, apenas sabia que ele era branco. Essa herança racial a colocou em uma posição difícil, sendo rejeitada tanto por negros quanto por brancos. Sua infância foi marcada por abusos físicos e emocionais, além do trabalho forçado na colheita de algodão.
Aos oito anos, passou a viver com uma tia em Harlem, onde encontrou na arte uma forma de expressão. Participou do coral da igreja e atuou em peças escolares, embora sua tia desejasse que ela fosse pianista – algo que Eartha odiava. Expulsa de casa, precisou sobreviver como costureira.
O encontro que mudou sua vida
O destino deu uma reviravolta quando Eartha foi abordada na rua por Katherine Dunham, renomada dançarina e professora de dança. Katherine se interessou pela jovem e a convidou para ingressar em sua escola, concedendo-lhe uma bolsa de estudos.
A partir daí, sua carreira deslanchou:
- Viajou pelos Estados Unidos e Europa em apresentações;
- Participou do filme Casbah (1948) como dançarina;
- Ganhou notoriedade ao se apresentar em boates luxuosas de Paris, onde encantou a elite artística.
Foi na capital francesa que Eartha conheceu Orson Welles, com quem teve um romance. Também se envolveu com o milionário Porfirio Rubirosa, tendo acesso a um novo círculo social refinado.
Ascensão ao estrelato nos EUA
Nos anos 1950, Eartha voltou aos Estados Unidos e consolidou sua carreira como cantora e atriz. Suas performances no clube The Blue Angel, em Nova York, geraram opiniões divididas: enquanto alguns a consideravam revolucionária, outros viam sua sensualidade como ousada demais para a época.
Alguns dos momentos mais marcantes de sua carreira incluem:
- 1956: Estrelou um espetáculo transmitido ao vivo no Sunday Night Theatre;
- 1957: Conquistou um papel de destaque no cinema em A Marca do Gavião;
- 1959: Brilhou nos filmes St. Louis Blues e Anna Lucasta;
- 1960: Casou-se com o empresário John William McDonald, com quem teve uma filha, Kitt McDonald.
A primeira Mulher-Gato negra e a polêmica na Casa Branca
Em 1967, Eartha Kitt entrou para a história ao substituir Julie Newmar no papel da Mulher-Gato na série de TV Batman. Sua atuação carismática fez enorme sucesso, mas sua vida nos Estados Unidos tomou um rumo inesperado no ano seguinte.
Durante um evento na Casa Branca, Eartha criticou publicamente a Guerra do Vietnã, o que resultou em sua inclusão na lista negra do governo norte-americano. Sem oportunidades nos EUA, mudou-se para Londres, onde continuou sua carreira.
Ativismo e legado humanitário
Apesar das dificuldades, Eartha nunca recuou em suas convicções. Seu ativismo incluiu:
- Venda de autógrafos para construir escolas na África (1974);
- Apoio a organizações de combate ao HIV/AIDS;
- Nomeação como porta-voz da UNICEF.
Nos anos 1980, finalmente retornou aos Estados Unidos, retomando sua carreira musical e recebendo indicações ao Grammy. Na década de 1990, brilhou na Broadway e continuou a se apresentar, mesmo após ser diagnosticada com câncer de cólon nos anos 2000.

A última revelação e a despedida
Cinco anos após sua morte, em 25 de dezembro de 2008, foi publicada a biografia Mistress of America: Eartha Kitt, Her Life and Times, de John Williams. O livro revelou um episódio doloroso: já idosa, Eartha finalmente obteve acesso aos documentos de seu nascimento, apenas para descobrir que o nome de seu pai estava apagado.
Seu filho, Shapiro, comentou a descoberta em uma entrevista:
“Minha mãe tinha 71 anos e, mesmo assim, estavam protegendo o nome de seu pai, embora ele já estivesse morto. Se fosse um homem negro, essa informação teria sido divulgada. Mas os tribunais ainda consideravam legal ocultar esses registros, e isso nos surpreendeu.”