Quando se tentou estudar a atividade dos espanhóis exilados pela guerra civil na América, o capítulo do cinema foi um dos menos conhecidos e evitados com mais freqüência, apesar de sua importância. Alguns nomes muito famosos (Luis Buñuel, Carlos Velo, María Casares…) foram esquecidos. (…) Da fuga cinematográfica, cujos contingentes técnicos e artísticos se aprisionaram nos quadros do filme sonoro espanhol do período Republicano (outro mal conhecido até pouco tempo), o maior número se dirigiu ao México e Argentina, nesta ordem, onde sua atividade foi bastante copiosa e relevante. Podem exemplificá-lo, entre outras, o trabalho do pintor e cenógrafo Gori Muñoz e o fotógrafo José María Beltrán no cinema argentino, ou de Carlos Velo e Luis Alcoriza, diretores cuja maior (ou total) obra artística se desenvolve no México. Junto a eles há muito mais coisas: atores, roteiristas, diretores, técnicos, que se integraram paulatinamente à industria desses países, colhendo às vezes importantes prêmios e uma posição destacada na indústria.
Não houve discriminação contra eles: nem em termos de trabalho, tampouco em termos artísticos. E curiosamente, Luis Buñuel, quem teve uma carreira americana mais árdua. Provavelmente porque suas metas eram mais exigentes e difíceis. Por outra parte, ainda que sua atividade no México fosse importantíssima, não se pode assimilar o cinema azteca em si, como fator aglutinador de tendências estéticas, nem como centro de inspiração para aqueles que tratavam de elevar o medíocre nível geral de sua indústria. Buñuel sempre foi um solitário, um criador sem discípulos, cujo mundo se sobrepunha a circunstância tanto no México como em Paris. Sem dúvida, seu período Mexicano não só é o mais extenso de sua carreira (sua filmografia espanhola era mínima: só um documentário, Tierra sin pan e supervisões como diretor e produtor entre 1935 e 1936, mais seus documentários da guerra civil) em si que ali recobrará – lentamente – um impulso criador que quase sempre havia ficado inédito desde as suas fulgurantes iniciações na vanguarda francesa surrealista: Un chien andalou (1929) e L`age d`Or (1930).
(…) Luis Buñuel ficou muito tempo em Los Angeles, sem trabalho. Foi auxiliado pelo escultor Alexander Calder e finalmente obteve um emprego no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, onde teve que renunciar ante pressões de elementos conservadores, entre eles o do reverendo Mc Clafferty, secretário da Legião de Decência e claro precursor do senador McCarthy… Acusado de “esquerdista e surrealista”, Buñuel abandou Nova Iorque e foi a Hollywood, onde foi contratado pela Warner Bros como supervisor de versões espanholas, mas terminou nas obscuras tarefas de dublagem. Sua partida até o México, ante a possibilidade de dirigir, foi propiciada pela produtora francesa Denisa Tual, para preparar uma adaptação cinematográfica de Casa de Bernarda Alba, de Lorca.
Este projeto fracassou ante a impossibilidade de obter os direitos da obra, e vários meses depois de sua chegada (havia desembarcado em junho de 1946) obteve sem dúvida, um contrato do produtor Oscar Dancigers para rodar um filme comercial costumeiro: um musical entitulado Gran Casino, protagonizados por dois astros da época: a argentina Libertad Lamarque e o mexicano Jorge Negrete. Salvo alguns fugazes detalhes que demonstram o humor de Buñuel, o filme foi um produto mais do baixo nível médio da indústria mexicana, sem nenhuma pretensão artística. Por acréscimo não teve boa repercussão comercial pelo qual Buñuel ficou sem trabalho durante dois anos”.
O texto acima foi extraído do livro:
MAHIEU, José Augustín. Panorama del Cine Iberoamericano. Ediciones de Cultura Hispánica. Ensayo.
Descrição por Magda Miranda