19 de abril de 2025

Quando os Musicais Reinavam: A Era de Ouro do Cinema que Encantou o Mundo

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Os musicais nasceram praticamente com os filmes falados. Depois de anos de experimentações, “Don Juan” (1926), de Alan Crosland, tornou-se o primeiro filme com partes faladas. No ano seguinte, “O Cantor de Jazz”, do mesmo diretor, entrou para a história como o primeiro longa-metragem totalmente sonorizado. Dois anos depois, o cinema falado já representava metade da produção cinematográfica mundial.

O Surgimento do Primeiro Grande Musical

Em 1929, surgia “Hollywood Revue of 1929”, considerado o primeiro grande musical da história. O filme apresentava a primeira versão de “Singin’ in the Rain”, interpretada por Cliff Edwards, e era um verdadeiro desfile de estrelas, incluindo: Joan Crawford (em sua estreia), Lionel Barrymore, Marion Davies, Buster Keaton, Marie Dressler e Ramon Novarro.

A produção, no entanto, resumia-se a esquetes isoladas de sapateado e canto, sem uma narrativa contínua.

“Hollywood revue of 1929”

A Consolidação do Gênero e a Fórmula de Sucesso

Seguindo a fórmula de grandes espetáculos“Broadway Melody of 1929” conquistou o Oscar de Melhor Filme, consolidando o gênero. A MGM descobriu um novo filão: histórias que retratavam os bastidores do teatro, com conflitos entre atores, ensaios caóticos e um grande número final. Essa estrutura dominaria os musicais por décadas.

Musicais como Escape Durante a Guerra

Em 1936“The Great Ziegfeld” também venceu o Oscar de Melhor Filme, impressionando com cenas grandiosas, como um enorme bolo repleto de dançarinos. Durante a Segunda Guerra Mundial, os musicais tornaram-se uma forma de escape para o público. A iluminação deslumbrante, as Coreografias elaboradas e os Figurinos luxuosos.

Tudo isso fazia as pessoas esquecerem, por algumas horas, as dificuldades da guerra. Curiosamente, enquanto muitos filmes eram censurados, os musicais passavam facilmente, mesmo com: Dançarinas usando pouca roupae Coreografias com alto teor erótico.

O nível técnico e artístico atingido era tão alto que se tornou difícil de superar, marcando o ápice da era dourada dos musicais.

“The Great Ziegfeld”, 1936

Uma das parcerias mais bem-sucedidas do cinema musical foi a dupla Nelson Eddy e Jeanette MacDonald, que estrelaram clássicos como:

  • “Naughty Marietta” (1935)
  • “Rose Marie” (1936)
  • “Maytime” (1937)

Outro grande nome foi Mario Lanza, considerado um dos tenores mais potentes do cinema. Seu desempenho em “The Toast of New Orleans” (1950), ao lado de Kathryn Grayson, marcou época. Embora tenha feito apenas sete filmes, sua interpretação de Enrico Caruso em “The Great Caruso” (1951) entrou para a história.

Bing Crosby, outro ícone, brilhou em produções como:

  • “Fuzarca a Bordo” (1942)
  • “Os Sinos de Santa Maria” (1945)
  • “High Society” (1956)

Quando os Atores se Arriscaram nos Musicais

Com o sucesso estrondoso dos musicais, muitos atores foram convidados a cantar e dançar, nem sempre com resultados brilhantes. Alguns casos curiosos:

  • Elizabeth Taylor cantou razoavelmente bem em “Cynthia” (1947), mas foi dublada em “Date with Judy” (1948).
  • Peter Lawford estrelou musicais, mas admitia: “Nunca fui bailarino e não tinha como competir com Astaire ou Kelly. Só fazia o que me mandavam”.
  • Robert Montgomery parecia pouco à vontade até ao lado de Joan Crawford em “Forsaking All Others” (1934).
  • Jean Harlow, a primeira “blondie” de Hollywood, foi dublada em “Reckless” (1935).
  • Cary Grant, surpreendentemente, cantou muito bem em “Suzy” (1936).
  • James Stewart interpretou uma música de Cole Porter em “Born to Dance” (1936) e brincou: “A música era tão boa que, apesar de mim, ficaria ótima”.
  • Clark Gable foi um verdadeiro desastre ao cantar e dançar em “Idiot’s Delight” (1939). O público odiou ver seu maior galã em cenas musicais.
Jeanette MacDonald, Nelson Eddy em Naughty Marietta

A Ascensão dos Ídolos Juvenis nos Anos 1940

Na década de 1940, surgiram os filmes familiares e musicais voltados ao público jovem, revelando novos talentos:

  • June Allyson – Estrelou “Words and Music” (1948) e “Good News” (1947), tornando-se uma das favoritas da juventude.
  • Debbie Reynolds – Consagrou-se em “Cantando na Chuva” (1952).
  • Jane Powell – Brilhou em “Royal Wedding” (1951) com Fred Astaire e “Seven Brides for Seven Brothers” (1954).
  • Deanna Durbin – Salvou a Universal com seus musicais na década de 1930 e 1940.
  • Mickey Rooney – Estreou aos 10 anos em “Broadway to Hollywood” (1933) e, aos 17, já era um veterano.
  • Judy Garland – Tornou-se lenda com “O Mágico de Oz” (1939) e “Easter Parade” (1948).
Gene Kelly e Frank Sinatra

Judy Garland: De Dorothy a Lenda do Cinema

Judy Garland estrelou alguns dos maiores sucessos musicais da era de ouro de Hollywood. Seus filmes seguiam uma fórmula barata e popular: jovens em busca do sucesso na Broadway, teatro ou teatro escolar, sempre com um final triunfante. Essa fórmula simples encantava o público.

  • Aos 12 anos, cantou para Clark Gable.
  • Aos 15, tornou-se eterna como Dorothy em “O Mágico de Oz” (1939), conquistando o Oscar Juvenil e consolidando uma carreira que transcendeu as telas.
Judy Garland e Mickey Rooney

Fred Astaire: O Gênio da Dança que Revolucionou os Musicais

Os filmes musicais devem muito a Fred Astaire. Seu visual impecável – fraque, chapéu-coco e elegância – tornou-se sua marca registrada, assim como seu perfeccionismo extremo. Ele podia passar meses ensaiando uma única coreografia, sempre buscando inovação e precisão.

  • Iniciou sua carreira aos 5 anos, formando dupla com sua irmã Adele Astaire.
  • Estreou no cinema em 1933, em “Dancing Lady”, mas seu grande sucesso veio ao lado de Ginger Rogers, com quem fez 10 filmes.

A Parceria Perfeita (mesmo sem Amizade)

Apesar de não se darem bem pessoalmente, Astaire e Rogers eram imbatíveis nas telas. Além dela, Fred dançou com outras lendas: Rita Hayworth, Judy Garland, Joan Crawford, Cyd Charisse e Jane Powell.

Nada mal para um homem baixinho, magro e com entradas – mas que dançava como ninguém. Astaire tinha um talento único: fazia até objetos inanimados parecerem dançarinos.

O Legado de um Gênio

Fred Astaire: Atuou em mais de 40 filmes, Coreografou espetáculos icônicos, Gravou 18 discos (trilhas sonoras) e Ganhou um Oscar Honorário em 1950.

Hoje, é considerado o maior dançarino do século XX, um artista que elevou os musicais a uma forma de arte.

Ginger Rogers e Fred Astaire
The barkleys of Broadway

Gene Kelly: O Atleta dos Musicais

Fred Astaire não reinou sozinho no mundo dos musicais. Gene Kelly, seu grande contemporâneo, também começou no teatro ainda criança, ao lado de seus irmãos. Diferente do estilo elegante de Astaire, Kelly trouxe um toque esportivo e acrobático às suas coreografias, criando um estilo mais jovial e dinâmico.

  • Estreou no cinema em “For Me and My Gal” (1942), ao lado de Judy Garland.
  • Seu grande salto veio quando foi emprestado à Columbia Pictures para estrelar “Cover Girl” (1944) com Rita Hayworth.
  • Depois desse sucesso, a MGM nunca mais o liberou para outros estúdios.

O Mestre da Inovação

Gene Kelly era um perfeccionista que adorava desafios:

  • Fazia cenas complexas subindo em árvores, muros e até voando entre cortinas.
  • Quebrou regras (e alguns ossos) para criar números memoráveis.
  • Tornou-se um símbolo dos musicais dos anos 1950.

Seus Maiores Clássicos

Entre suas obras-primas estão:
✅ “Um Americano em Paris” (1951)
✅ “Brigadoon” (1954)
✅ “Marujos do Amor” (1945)
✅ “Um Dia em Nova York” (1949)
✅ “Cantando na Chuva” (1952) – considerado por muitos o melhor musical de todos os tempos.

Kelly aposentou-se nos anos 1980, mas ainda trabalhou como coreógrafo, inclusive para Madonna em sua turnê de 1993.

Judy Garland e Gene Kelly em For Me and My Gal

Donald O’Connor: O Gênio Esquecido dos Musicais

Enquanto Gene Kelly e Fred Astaire brilhavam, outro grande dançarino ficou um pouco à sombraDonald O’Connor.

  • Estreou em 1937, mas só ganhou fama em “Cantando na Chuva” (1952).
  • Seu número “Make ‘Em Laugh” (uma releitura de uma cena de Judy Garland e Gene Kelly em “O Pirata”) é um dos mais icônicos da história do cinema.
  • A coreografia tão intensa o deixou machucado e exigiu dias de repouso.

O Legado da Vaudeville

O’Connor trouxe para Hollywood a experiência dos palcos de vaudeville, com:

  • Saltos impressionantes
  • Piruetas precisas
  • Timing cômico impecável

Apesar de menos lembrado, seu talento foi fundamental para o sucesso dos grandes musicais.

Donald O’connor na sequência Make in Laugh

Donald O’Connor começou sua carreira cinematográfica ainda criança:

  • Aos 12 anos, estreou em “Melody for Two” (1937), mas sua cena foi cortada.
  • No mesmo ano, apareceu em “Sing You Sinners” (1938).
  • Nos anos seguintes, atuou em musicais considerados de segunda linha, até seu grande momento em 1949.

O Papel que Mudou sua Carreira

Em 1949, O’Connor conquistou seu primeiro papel de destaque em:
✅ “Francis the Talking Mule” – onde sua veia cômica brilhou ao conversar com uma mula, cativando o público infantil.

Sucessos nos Musicais dos Anos 1950

Após esse marco, Donald estrelou outros filmes memoráveis:

  • “I Love Melvin” (1953)
  • “Call Me Madam” (1953)
  • “There’s No Business Like Show Business” (1954)

Em 1957, interpretou Buster Keaton na biografia “The Buster Keaton Story”, mostrando sua versatilidade como ator.

O Declínio da Carreira e o Reconhecimento que Nunca Veio

  • Abandonou o cinema nos anos 1970, fazendo apenas participações esporádicas na TV e em filmes de baixo orçamento.
  • Nunca foi indicado ao Oscar, apesar de sua brincadeira icônica:

“Gostaria de agradecer à Academia por meu prêmio pelo conjunto da obra que um dia eu eventualmente receberei.”

Por que Donald O’Connor Merecia Mais Reconhecimento?

  • Dançarino excepcional – seu número “Make ‘Em Laugh” em “Cantando na Chuva” (1952) é um dos mais difíceis da história do cinema.
  • Ator cômico talentoso – roubou a cena em “Francis the Talking Mule”.
  • Versatilidade – transitou entre musicais, comédia e drama.
Cyd Charisse e Gene Kelly

Cyd Charisse: A Diva das Pernas de US$ 5 Milhões

Cyd Charisse entrou para a história como a atriz com as pernas mais famosas do cinema, seguradas por um seguro de US$ 5 milhões na época. Estrelou alguns dos maiores musicais da era de ouro:

  • “Cantando na Chuva” (1952) – ao lado de Gene Kelly
  • “Roda da Fortuna” (1953) – com Fred Astaire
  • “Party Girl” (1958) – onde mostrou seu talento dramático

Formação Clássica, Versatilidade Moderna

Com formação em balé clássico desde os 6 anos, Cyd tinha:

  • Técnica impecável
  • Agilidade para transitar entre estilos
  • Presença magnética em duetos

Ela não era conhecida por solos, mas brilhava em parcerias, especialmente com Astaire e Kelly, que consideravam-na uma das melhores parceiras de dança.

Ann Miller: A Estrela que Dançou para Curar-se

Enquanto Cyd era a rainha das duplas, Ann Miller dominava os solos espetaculares. Em 60 anos de carreira e mais de 40 filmes, destacou-se:

✅ “Desfile de Páscoa” (1948) – ao lado de Fred Astaire
✅ “Um Dia em Nova York” (1949)
✅ “Garota do Interior” (1945)
✅ “Do Mundo Nada se Leva” (1938)
✅ “O Belo Sexo” (1953)

Uma Carreira que Começou com um Segredo

A dança foi terapia para Ann, que era raquítica na infância. Sua carreira começou cedo:

  • Aos 13 anos foi contratada pela RKO
  • Entrou no cinema com documentos falsos que a faziam parecer ter 18
  • Nunca foi protagonista, mas roubava a cena com seus números de dança

Legados Diferentes, Talento Igual

Enquanto Cyd era a elegância e técnica refinadaAnn era energia pura e ritmo acelerado. Juntas, representam o melhor da era dos musicais:

  • Cyd Charisse: 3 filmes com Astaire, 2 com Kelly
  • Ann Miller: 1 filme com Astaire, mas dezenas de solos memoráveis

Ambas provaram que o musical precisava tanto de duetos perfeitos quanto de solos arrebatadores.

Ann Miller em Easter Parade

Esther Williams: A Sereia da MGM

Esther Williams, ex-campeã de natação e modelo, foi descoberta por olheiros da MGM e se tornou um ícone dos musicais aquáticos. Para ela, o estúdio construiu piscinas gigantescas, começando por “Bathing Beauty” (1944), que deu início a uma série de produções espetaculares.

  • Seus filmes mostravam coreografias aquáticas inovadoras, com saltos impressionantes que ficavam mais ousados conforme sua fama crescia.
  • Entre seus parceiros de elenco estiveram:
    ✅ Jimmy Durante
    ✅ Ricardo Montalbán
    ✅ Tom e Jerry (em “Dangerous When Wet”, 1953)
Esther Williams

Outros Grandes Nomes dos Musicais

Além de Esther, o gênero foi impulsionado por estrelas e diretores lendários:

Dançarinas que Marcaram Época

  • Eleanor Powell – Rainha do sapateado.
  • Judy Garland – Voz e carisma inigualáveis.
  • Rita Hayworth – Sensualidade e ritmo.

Os Mestres por Trás das Câmeras

  • Vincente Minnelli – Diretor de clássicos como “Um Americano em Paris”.
  • Busby Berkeley – O gênio das coreografias dos anos 1930, conhecido por suas formações geométricas e cenas grandiosas.

O Declínio dos Musicais Clássicos

Hoje, o gênero é considerado obsoleto, com tentativas ocasionais de revivê-lo:

  • “Vem Dançar Comigo” (2004)
  • “Moulin Rouge!” (2001)
  • “Dirty Dancing” (1987)

No entanto, falta o glamour e a técnica dos astros que dedicavam suas vidas à dança. Muitos filmes atuais são feitos com atores que se esforçam, mas sem alcançar a mesma magia. O resultado? Apenas mais um filme, sem o brilho dos clássicos.

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