Ricardo Cortez, no início de sua carreira, ficou conhecido como um dos primeiros amantes latinos de Hollywood. Na verdade, sua origem em nada tinha a ver com a de Rodolfo Valentino, italiano de sangue quente. Ricardo se chamava Jacob Krantz e era filho de um açougueiro judeu, nascido e criado nas ruas de Nova York.
Começou a vida trabalhando como corretor na Wall Street enquanto fazia pequenos esquetes durante a noite. Logo chamou a atenção por sua beleza e foi chamado para testes numa indústria que crescia assustadoramente: o cinema, que aprendia a dar os primeiros passos. A Paramount contratou o jovem alto e belo e deu-lhe vários papéis pequenos. Com o tempo vieram papéis mais substanciais. Cortez foi a estrela principal por um breve período do cinema mudo. Sua aparência latina logo o levou a fazer papéis correlatos, levando-o a ser um concorrente direto de outros astros como Rodolfo Valentino, Ramon Navarro e Antonio Moreno.
Em 1965 Ricardo concedeu uma entrevista ao historiador Kevin Brownlow, e publicada no The Parade’s Gone Por. Browlow fazia um estudo sobre o aclamado diretor de filmes mudos, D.W. Griffith, que havia dirigido Cortez em “The Sorrows of Satan” (1926).
“Lembro-me claramente a época em que fiz ‘The Sorrows of Satan’. Ele (Griffith) levou muito tempo para produzir o filme. Fui para a Califórnia durante oito semanas, e filmei ‘Eagle of the Sea’, enquanto o diretor continuou com Lya de Putti, Adolph Menjou e Carol Dempster.: “Griffith era um tipo estranho de homem, e muito calmo. Parecia haver uma barreira invisível em torno dele, que ele fazia questão de deixar lá. Fiquei com a impressão de que era um homem muito solitário, embora com o tempo fosse conhecendo ele melhor. Senti-me terrivelmente triste por ele, quando o fui visitar no Hotel Astor. Ele saía para caminhar e terminava na estação Pensilvânia, onde se sentava sozinho em um banco e começava a observar as pessoas.
Houve uma cena que eu estava filmando em um sótão, e que ele se irritou profundamente comigo porque eu não conseguia fazer como ele queria e eu perdi a paciência quando ele me disse: ‘Se você soubesse alguma coisa sobre atuação, não iria fazer isso’, no que eu respondi que se eu não sabia nada sobre como agir em determinada situação, ele, como diretor é que deveria me ensinar.”
Cortez foi escolhido para estrelar ao lado de uma nova estrela que L.B. Mayer havia trazido da Suécia. Na época, Cortez, aos 26 anos, estava trabalhando já há quatro anos, e sua fama era tanta que ele era considerado uma forte ameaça ao reinado de Valentino. Cortez ficou ressentido desde o início. Ele estava profundamente ofendido ao ser relegado a trabalhar com uma atriz sueca que achava “gordinha e burra” e que não falava uma palavra em inglês, conforme seu entendimento.
Pois essa gordinha era Greta Garbo. “Torrent”, primeiro filme americano de Greta foi o único filme em que seu nome constou em segundo nos letreiros. Seja como for, o filme se tornou um grande sucesso, alavancando a carreira de Garbo, tornando-a uma das grandes lendas do cinema a partir de então. Logo ela tinha cacife para escolher com quem trabalhar, e Cortez nunca mais apareceria em um filme seu.
O ator casou-se em 1926 com a atriz Alma Rubens. Alma foi uma das maiores estrelas do cinema mudo, mas como quase todas as estrelas, tinha um lado autodestrutivo que acabou levando-a às drogas como cocaína e heroína, e que contribuiu para um casamento infernal. Alma, em um de seus estados perturbados, chegou a declarar para os jornais:
“Muitas pessoas que acompanharam minha carreira nas telas e nos palcos pensavam que eu era uma judia. Essa crença foi reforçada quando me casei com Ricardo Cortez, meu terceiro marido, o único que verdadeiramente amei, e de quem agora estou tentando me divorciar. Cortez, não é um cavaleiro galante espanhol que eu acreditava ser, ele é na verdade o filho de um açougueiro judeu que tinha uma loja na First Avenue em Nova York. E seu verdadeiro nome é Jacob Krantz.”
Alma, que morreria aos 33 anos vítima de entorpecentes e vida errática, estava querendo prejudicar a carreira de Cortez. À essa altura o som já tinha chegado aos filmes e Cortez, assim como grande parte do astros, estava aguardando para ver no que ia dar a mudança. Claro que seu público que passara a amá-lo como um amante latino não ia se conformar com um galã de sotaque claramente nova-iorquino. A solução foi mudar sua imagem para a de um galã latino para um ator de múltiplas facetas.
Cortez apareceu em mais de 100 filmes, e trabalhou com as principais estrelas como Louise Dressler. Adolphe Menjou, Betty Bronson, Lon Chaney, Bebe Daniels, Barbara Stanwyck, Mary Astor, Joan Crawford, dentre tantas outras.
Em meados dos anos trinta, os bons papéis foram ficando mais difíceis e o ator passou a dirigir filmes tipo B entre 1939 e 1940. Estava insatisfeito com o trabalho. Ele acabou se aposentando do cinema e voltando às origens, indo trabalhar na Wall Street, construindo uma carreira de sucesso. Sua última aparição foi em um episódio de Bonanza, em 1960.