Vanja Orico, a Musa do Cinema Brasileiro e de Fellini

1960

Vanja Orico foi uma das mais internacionais estrelas que tivemos. A musa do cangaço também trabalhou ao lado de Federico Fellini

 

Vanja Orico nasceu no Rio de Janeiro em 15 de novembro de 1931 mas passou boa parte de sua juventude na Europa, pois seu pai era diplomata. Tendo em seu sangue descendência indígena e italiana, sentia-se a mais brasileira das brasileiras. Talvez por isso circulou tão livremente entre tão diversas culturas. Vibrou ao som de músicas genuinamente brasileiras, mas também dedicou igual amor à qualquer trabalho ao qual se dedicou.

Quando atuou em Mulheres e Luzes (1951), dirigido por Federico Fellini e Alberto Lattuada, dois conceituados cineastas italianos, se tornou a única brasileira a aparecer em um filme deles. Ela aparece cantando, no auge de sua juventude a música Meu Limão, Meu Limoeiro. Tinha apenas 16 anos.

Ela conseguiu uma participação após fazer um curso de teatro ainda em Paris, tendo como mestre René Simon. Após um curso em Roma, conseguiu uma participação no filme em questão. Essa participação catapultou sua carreira de diversas maneiras. Afinal, estrear em um filme Felliniano era um passaporte em tanto para qualquer ator que se preze.

Havia planos de outro trabalho ao lado de Lattuada. Segundo a atriz, em entrevista à revista Cinelândia de 1953, ele pensava em vir ao Brasil para filmar “O Fogo” no norte do Paraná. O ator Folco Luri seria o co-protagonista, mas por algum motivo o projeto não foi à frente.

Já no Brasil, foi chamada por Lima Barreto para estrelar O Cangaceiro (1953) ao lado de Marisa Prado e Alberto Ruschel. O filme ganhou o prêmio de Melhor trilha sonora e Aventura no famoso Festival de Cannes. Realizado pela Vera Cruz, trazia como fonte de inspiração a história do mais famoso cangaceiro brasileiro, o lendário Lampião. Em um dos momentos mais belos, ela canta a inesquecível Sodade, meu bem, Sodade. Apenas vejam que lindeza que ajudou a divulgar a nossa bela música mundo afora:

Com o sucesso na Europa,ela se apresentou em diversas partes do mundo, da América à África, gravando discos inclusive na França. Nessas apresentações ela cantava músicas tipicamente brasileiras. Sua participação em filmes com a temática do cangaço a transformou em uma espécie de musa do ciclo do cangaço no Brasil.

A atriz também apareceu em um filme alemão, Conchita und der Ingenieur (1954), e chegou a dirigir um filme, O Segredo da Rosa (1974). Ser filha de um diplomata com certeza abria muitas portas para ela, e falar cinco línguas facilitava sua caminhada nos mais diversos países onde chegou a atuar.

Em 1959 a atriz casou-se com o francês André Rosenthal. Os dois se conheceram durante um espetáculo que ela apresentou no Teatro Alhambra em Paris. André sempre foi um homem muito discreto e apesar de saber da fama da esposa, raramente aceitava tirar fotos ao seu lado. O casal teve apenas um filho, Adolfo Rosenthal, nascido em 1961 e que se tornaria diretor e produtor independente.

Um raro flagra do casal em 1959. Fonte: O Cruzeiro

Mas Vanja também ficou conhecida por seu engajamento político. A atriz lutou ativamente contra a ditadura militar e durante o enterro de um estudante morto pela repressão, foi fotografada de joelhos em frente a carros do exército em 1968. Ela chegou a ser presa e torturada após enfrentar os policiais.

Vanja participou de vários filmes no Brasil e no exterior, sendo uma das atrizes mais reconhecidas internacionalmente. Há um projeto para um filme sobre sua vida, dirigido por seu filho Adolfo Rosenthal. O documentário falará um pouco mais sobre sua carreira e personalidade, além de mostrar como a atriz sempre lutou pela democracia.

A atriz faleceu em 28 de janeiro 2015, aos 85 anos no Rio de Janeiro. Ela tinha alzheimer e também lutava contra um câncer no intestino, tendo passado várias semanas internadas. Mas fica sua história de luta e coragem. Uma atriz que apesar de seus privilégios, não esqueceu de suas raízes.

Vanja em 2014 vendo uma placa em sua homenagem

 

Fontes:
Vanja Orico: A arte de defender o povo

Revistas Cruzeiro e Cinelândia em Memoriabn

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