Quando o livro Anthony Adverse foi lançado em 1933, se tornou um dos maiores best seller do momento. Esgotando-se rapidamente das prateleiras, se tornou objeto de desejo dos estúdios. Finalmente a Warner saiu na frente da disputa, comprando os direitos de filmagem. Em 1934 foram realizados vários testes de elenco para o filme que seria o mais caro lançado pela Companhia até então. Errol Flynn, Robert Donat, Leslie Howard e Humphrey Bogart foram testados para o papel principal e até mesmo Bette Davis, uma atriz que já começava a galgar seu caminho de sucesso, participou de sessões de testes. O elenco principal foi finalmente definido, trazendo Olivia de Havilland (como Angela Guessippi), Fredric March (como Anthony Adverse), Anita Louise (como Maria), Claude Rains (como Don Luis) e a estreante Gale Sondergaard (como Faith).
Quando a história inicia-se, somos apresentados a apaixonada e triste Maria. Obrigada a se casar com um senhor de meia idade, o nobre Don Luis, ela traz no ventre o fruto de seu amor com Denis. Maria decide fugir para ir de encontro com seu amado, mas a desventura faz com que seu marido descubra tudo, obrigando-a a viajar com ele para a Europa. Denis a segue, e num confronto com Don Luis, perde a vida. Maria passa os últimos meses da gravidez desesperada, até que morre de parto. Don Luis abandona a criança nascida em um convento, junto com algumas moedas de ouro e um oratório que pertencera a Maria. Chegando no convento no dia de Santo Antonio, o bebê recebe o nome do padroeiro e cresce em meio a freiras.
Percebendo que Anthony já está ficando crescido, as freiras decidem que é hora dele encontrar um lar, e aos onze anos de idade, ele é entregue a John Bonnyfeather , um comerciante da cidade. Ele não sabe, mas John é seu avô que percebe a semelhança da criança com sua filha morta assim que o vê. O idoso mantém o segredo quanto às origens dele, e lhe dá o sobrenome Adverse: aquele vindo da adversidade.
Anthony Adverse cresce, se apaixonando por sua amiga Angela Giuseppe, filha do cozinheiro. Os dois se casam, mas logo após a cerimônia ele parte para Havana para salvar a fortuna de seu avô. Uma série de desencontros fazem com que ele e Angela não consigam viver o seu amor e Anthony pensa que ela o esqueceu. Anos se passam até que os dois se encontrem novamente e ele tem uma grande surpresa.
Adversidade fala sobre a educação de um homem e o quanto o poder pode fascina-lo e destruir sua personalidade. Os personagens desta trama não trazem apenas o bem ou mal dentro de si, mas são a soma de todas as facetas humanas. Algumas mais e outras menos.
Concebido de um livro de 1200 páginas, era extremamente complicado compilar toda a sua história em um filme de 141 minutos. Apesar de um trabalho conciso, o roteirista Sheridan Gibney deixou a narrativa em alguns momentos demasiada arrastada. Esse foi um dos motivos que fizeram com que o filme se tornasse em alguns momentos desconexo e com uma narrativa que prejudica a intenção do título original. O uso de subtítulos, algo bastante comum em um cinema que ainda estava bastante influenciado pela estética dos filmes mudos, tenta preencher essa lacuna entre as épocas retratadas, tornando tudo um pouco mais cansativo.
No entanto temos que reconhecer que além de um excelente figurino e decupagem das cenas, um dos pontos principais do filme é o elenco escolhido que consegue cumprir com todas as exigências de um drama histórico como este. Claude Rains se tornaria um ator com uma presença magnética que rouba cenas em todos os trabalhos que participa. Vide seu personagem em Casablanca. Aqui, como o vilão Don Luis, ele empresta seu talento em mais um personagem que de forma alguma ficou caricato. Ao lado da estreante Gale Sondeergard, com seu olhar de desprezo e inveja, formam uma dupla imbatível e sinistra.
Fredric March, que naquela época gozava de grande status, desbancou grandes atores e assegurou a vaga do personagem título. Ele é a própria encarnação de Anthony, um homem de personalidade forte por natureza, mas que não deixa de cair nas armadilhas da vida. Com uma interpretação sólida, mantém o ritmo mesmo quando o roteiro não ajuda. Sua companheira de cena, Olivia de Havilland, mostra o porquê foi considerada uma das atrizes mais versáteis de sua época.
Adversidade é um filme, que apesar de seus paradoxos, merece ser revisitado e visto com maior carinho. Os conjuntos são belos, e mesmo os atores menos conhecidos entregam-se em seus breves momentos a uma boa interpretação.
Assisti ao filme que foi lançado em DVD pela Obras Primas do Cinema. O dvd traz ainda um pequeno making of e trailer, além de do inédito Curta “You Cant Foll a Camera”. Você pode compra-lo diretamente no site da empresa clicando aqui.