Está na hora de falarmos sobre um filme que é um dos melhores da dupla Doris Day e Rock Hudson: Pillow Talk. Lançado em 1959, é um daqueles Eastmancolors que fazem a alegria de quem deseja assistir a um filme descompromissadamente, e sair com a alma mais leve.
E o roteiro escrito é uma delícia. Tanto que nesse ano recebeu o Oscar de Melhor Roteiro original. Aqui Doris Day atende pelo nome de Jan Morrow, uma bem sucedida profissional que vive solitariamente em Nova York. Sua vida vai bem, mas ela se irrita profundamente por não ter uma linha de telefone livre, já que a divide com o compositor Brad Allen (Rock Hudson), um notório conquistador. Inicia-se aí uma disputa pela linha, já que Brad passa as horas conversando aparentemente com todas as moças solteiras do país.
Um dia, finalmente os dois se encontram, e Brad se sente imediatamente atraído por ela, fingindo ser outro homem para trazê-la para seus braços. Mas as personagens de Doris Day, como sabemos, só se entregam com um anel em seu dedo esquerdo, embora possam sentir alguma atração. Inicia-se aí uma disputa de quem consegue convencer quem. E Brad dá o primeiro passo, convencendo-a a viajar com ele. O romance está no ar, e tudo parece caminhar bem até que Jan descobre sua verdadeira identidade e fica chocada. Bem, de fato Jan acaba conseguindo com ̶s̶u̶a̶ ̶v̶i̶r̶g̶i̶n̶d̶a̶d̶e̶ ̶ seu charme o que nenhuma conseguiu: o amor de Brad.
De fato é uma delícia assistir aos filmes dessa dupla, mas é impossível não notar certas nuances de um passado que já era passado naquela época. É um filme extremamente datado, como todos lançados com Doris Day. Curioso como ela seguia representando a América “saudável” e conservadora. Suas personagens podiam até ser mulheres independentes, mas tinham o caráter diretamente ligados ao hímen, que ostentavam como um prêmio. E era tudo o que a velha geração gostaria de passar para os mais novos.
Há também aquela velha noção de que apesar de ser uma ótima profissional, jamais seria completa sem a presença de um varão (de preferência lindo e garanhão) ao seu lado e belos filhos para serem alimentados religiosamente. Imagino o quanto esse filme seria diferente se ao invés de Doris, tivéssemos a charmosíssima Marilyn Monroe. Ela realmente estava interessada em realizar o filme, mas não foi ouvida. Mesmo assim é possível verificar alguns subtextos bem interessantes e dubiedades em algumas cenas. Em um período em que um casal não podia dividir a mesma cama, os cineastas faziam de um tudo para disfarçar as evidências. Aqui temos os dois dividindo não só a cama, como a banheira e, claro, a linha telefônica.
É preciso que se diga que embora estivessem em 1959, quando Pillow Talk estava em vias de ser lançado já enfrentava uma aversão de muitos espectadores. Esse período já trazia muitas inovações sociais e esse tipo de roteiro já era visto como decadente. Logo chegaria uma geração de cineastas dispostos a mostrar a nova realidade da América, deixando filmes como este devidamente em seus lugares.
O que realmente vendeu o filme dirigido por Michael Gordon foi mesmo o carisma de seus personagens, e uma história que embora seja bobinha, é despretensiosa se deixar de lado a problemática envolvida nessas questões. E foi isso que levou muitos aos cinemas, transformando este em um dos maiores sucessos daquele ano. E quem resiste a uma abertura como essa?
** O filme está sendo lançado em dvd pela Classicline e já encontra-se à venda nas principais lojas do ramo ou online neste link.
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