Corações e Mentes (1974)

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Um documentário tem o poder de nos fazer entrar em contato direto com a matéria principal, apresentando nuances reais sobre um tema pouco abordado no campo ficcional. Muitas vezes renegado a segundo plano, ou como extra de algum dvd ou como complemento (os famosos making offs são também bons), acabam sendo considerados na maior parte das vezes apenas como um detalhe a mais na arte ficcional. Mas não são. O documentário como gênero que é traz também grandes momentos ao retratar com maior fidelidade uma situação, e tem também seus grandes momentos. Posso citar dois que merecem ser vistos: o gigantesco SHOAH (nove horas dedicadas a revisitação a um dos momentos mais delicados da humanidade, quando há um retorno às antigas prisões nazistas) e Corações e Mentes, que tentaremos detalhar agora com mais cuidado.

Dirigido por Peter Davis, Corações e Mentes capturou imagens ainda chocantes sobre a Guerra do Vietnã, tirando do Vietnã e seu povo o peso de único culpado da guerra. Sabemos que na guerra não existem apenas vilões ou mocinhos, e que quem hoje te cumprimenta pode ser teu algoz dali a alguns dias. O patriotismo exaltador do americano, no entanto, entende que ele é o herói que abateu mais de um milhão de vietnamitas, entre militares e civis. Através de Corações e Mentes temos uma desconstrução desse povo, mostrando pessoas comuns como um pai desesperado em meio às ruínas em busca de seus filhos, a agonia no retorno às suas casas e o olhar desesperado de quem encontra apenas um abismo e morte. Em contrapartida temos uma entrevista cruel de um general que afirma que o oriental não dá valor a vida e não se apegam aos outros, pouco ligando quando um deles morre. O corte em seguida, cruel, mostra uma mãe a chorar pelo filho perdido.
O filme ganhou o Oscar de Melhor Documentário de 1974, trazendo um desconforto aos patriotas e em suas entrevistas assustadoramente atuais, voltamos mais uma vez os olhos para uma potência que até hoje sente-se acima de todas as outras. Corações e Mentes é uma crítica à guerra e também à exaltação do governo americano sobre suas tropas.

Finalmente temos o lançamento do documentário através da Obras Primas do Cinema. Essa distribuidora traz uma edição definitiva de um filme necessário, e que completa em 2016 vinte e dois anos. Além do documentário, o material traz um dvd extra com material não usado por Davis: entrevistas de ativistas e pessoas que vivenciaram o terror da guerra. Além disso temos também um livreto de 48 páginas com reflexões e informações acerca da produção e da guerra que dizimou milhares de vidas e acabou com tantas outras que ficaram. Extremamente necessário.

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