Norma Desmond encontra-se em sua janela, observando Joe Gillis, um jovem que pensa ser astuto, mas que cai na teia da atriz decadente. Ele foge de seus credores e vai parar na velha mansão de Desmond, tão desmoronada quanto a vida da dona. Ela, em sua juventude, fora atriz de enorme sucesso no cinema mudo, mas sua fama se esvaiu com o tempo e ela vive enclausurada nessa velha casa em ruínas, ao lado do seu fiel mordomo, Max (Erich Von Stroheim). Ao saber que Gillis é roteirista, resolve lhe fazer uma proposta de trabalho: que ele trabalhe em um péssimo roteiro escrito por ela mesma.
A mansão transpassa em seu ar um passado mal conservado em tintas fortes: Mabel Normand, Mary Pickford, Rodolfo Valentino, todos citados como freqüentadores da casa agora envolta em penumbra. O que resta é somente sombra do que se foi, paredes descascadas como o rosto do passado, a piscina cheia de ratos, como a mente de Norma.
Ela ressente-se de ter sido deixada para trás, por ter deixado a juventude esvair-se e não ser mais a grande diva de outros tempos. Tudo culpa do cinema falado, dos “talkies”, sentencia. Em sua loucura, conta com o apaixonado Max, que lhe acompanha desde a época do sucesso, como seu diretor, amante e amigo. A loucura da casa é tão latente, que o pobre Joe acaba por sucumbir e ver-se envolvido com ela. Em todos os sentidos.
O noir foi lançado em 1950. Billy Wilder queria Montgomery Clift como Joe Gillis, mas o ator acabou desistindo o papel. Melhor para Willian Holden, que assumiria soberbamente. DeMille fez uma ponta, como ele mesmo como um diretor bondoso que é um dos poucos a ter pena daquela “menina” que ele viu ascender às telas. Gloria Swanson foi a última das opções, depois Mae West, Mary Pickford e Pola Negri. Billy buscava uma atriz experiente, que tivesse vivido a época retratada por Norma. Em algumas cenas somos presenteados por cenas de filmes protagonizados pela própria Glória, inclusive o inacabado Rainha Kelly. Mas o filme surpreende-nos mesmo com frases marcantes, como no momento em que define-se como alguém tão grande que não cabe nos filmes: “Eu sou grande. Os filmes é que ficaram pequenos.”
Bem característico dos noirs, o filme é narrado em flashback, com um narrador-defunto. Inteligentemente mostrado já na cena inicial, o “corpo” boiando na piscina propõe-se a contar sua história. A ideia inicial era mostrar vários mortos no necrotério, trocando idéias de como cada um morrera. Numa sessão pré estréia porém, o público começou a achar graça e Wilder teve que voltar atrás, modificando para um tom mais sério. Diálogos curtos e humor refinado, envoltos numa atmosfera noir. O filme não foi uma unanimidade: falar de Hollywood em Hollywood não era um assunto que deixasse a nata do cinema satisfeita, e Billy foi aclamado e criticado ao mesmo tempo. Com isso o filme ganhou 2 Oscars, o de Melhor roteiro (escrito pelo próprio Wilder ao lado de Charles Brackett e D.M. Marshman Jr,), Direção de Arte e Trilha sonora.
O título original, Sunset Boulevard é uma clara referência à famosa localidade de Los Angeles, onde a fictícia residência de Norma se localiza. A passagem dos anos em Hollywood não foi poupada, assim como a vida dos sobreviventes de uma época áurea do cinema, nos fazendo refletir no que seria melhor para o astro: morrer ou sobreviver a todos os outros contemporâneos.