Confesso que fiquei um tanto quanto confusa quando me deparei com essa sinopse: “O advogado David Blake aceita defender Angel Chavez, jovem mexicano acusado de assassinar uma adolescente branca. Ele chega a aprovar a criação de uma sociedade para angariar fundos destinados a pagar as custas judiciais. Entretanto, acaba por descobrir que tudo não passa de um plano do promotor Barney Castle, que é comunista. Barney deseja usar David e Angel para criar um mártir e, com isso, fortalecer sua organização subversiva”.
Assistindo ao filme tive um vislumbre real do que acontecia na América dos anos 50: o país vivia uma histeria causada por McCarthy, que investigava e acusava pessoas de serem comunistas e subversivas. O mundo das artes foi um que sofreu bastante, com diretores, atores e roteiristas sendo incitados a entregarem companheiros de trabalho. Aqueles cuja fama de comunista recaiu, perdeu oportunidades e empregos. Dalton Trumbo foi um deles. E foi punido por isso, sendo afastado e proibido de exercer seu trabalho como roteirista. Em um país em que o terror foi espalhado em nome de uma busca pela “paz” torna-se evidente que o que tivemos foi justamente o contrário: uma caça frenética a todos que pensavam de maneira diversa, tolhendo-lhes a liberdade, calando-os, prendendo-os e negando-lhes os direitos básicos, como o trabalho.
É um terreno bastante perigoso. Inteligentemente, o roteiro escrito por Don Mankiewicz aborda também o outro lado quando mostra a fúria desenfreada de pessoas que se voltam contra o jovem mexicano após a morte da garota branca. Para melhorar as coisas, um juiz negro (interpretado pelo porto riquenho Juano Hernandez) para julgar o caso. O primeiro juiz negro em um filme americano. Sabe o que aconteceu com isso? O caráter honesto do juiz não evitou que suas cenas fossem vistas com repulsa por muitos espectadores na época. Sabe porque? Era comum odiar. Viviam no período em que a segregação ainda era uma realidade, e as pessoas queriam ver negros apenas em papéis menores. Reparem bem: o filme trata sobre pessoas preconceituosas e tudo o que muitos conseguiam ver era apenas o fato de um juiz ser negro. E nosso personagem principal, o advogado David Blake (Glenn Ford) se vê em meio a uma comunidade rígida nos princípios que julgam certos e desumana nas resoluções dos seus casos.
Terminei o filme com a impressão que desejo revê-lo. Ele traz muitos olhares equivocados, frutos da época e da paranoia, com claros exageros sobre os movimentos. A Fúria dos Justos acaba por cumprir seu papel pelo menos nos trazendo um reflexo sobre uma América que não desejamos ver. Só uma perguntinha ficou na minha cabeça: o título nacional se refere a quais justos?
** O filme foi lançado pela Classicline e encontra-se à venda nas principais lojas do ramo. Você pode adquiri-lo online clicando na imagem abaixo:
Comente Aqui!