Este foi o primeiro filme realizado pela dupla Marlene Dietrich e Josef von Sternberg já na América. Eles fariam juntos sete colaborações. Esta foi a segunda após o sucesso conseguido com O Anjo Azul, lançado neste mesmo ano. Não se trata do melhor dos trabalhos deles, mas existem alguns motivos históricos que justificam uma conferida.
Marrocos foi baseado no livro A Senhora de Marrakeshch, lançado por Benno Bigny em 1927. Naquele período havia uma fascinação por histórias passadas no Oriente e em países cuja cultura ainda era totalmente desconhecida do americano padrão. Explodiram histórias com esse tipo de ênfase nas décadas de 20 e 30.
Esta traz a história de uma mulher com um passado nebuloso e que chega em um navio em Marrocos. Ainda no navio, encontra um milionário que passará a lhe cortejar. Bastante fragilizada por outros relacionamentos (não tocados na história), ela desconfia de toda e qualquer ajuda.
Claro que apesar de aparentemente ser uma mulher sofrida e discreta, Amy Joly manterá sua pose de estrela. Aliás, com toda a pompa que a Marlene repetiria durante toda a sua carreira: com as luzes certas, maquiagem na medida, corpo em destaque e vestidos assinados por Travis Banton, fatalmente isso daria certo.
Ela podia estar mal e sofrendo muito, mas estaria sempre com figurinos impecáveis a qualquer hora do dia e da noite. E era isso que seu público queria ver. Uma estrela. Falando em Travis Banton, ele também esteve diretamente ligado à atriz, ao ajudar a criar seu mito. Falo um pouco sobre isso nessa matéria aqui: Travis Banton, o criador do Estilo de Marlene Dietrich.
Ao chegar à cidade, ela fará apresentações em um cabaré meio final de carreira. Ir para Marrocos era como enfrentar quase o fim do mundo, e muitas mulheres que lá chegavam jamais voltariam. Amy Joly talvez desejasse isso ao fugir de uma situação dolorosa.
Ao se apresentar no cabaré, onde conhecerá o mulherengo, magrelo e apaixonante soltado Tom Brown (Gary Cooper). Ele é tudo o que uma mulher tentando se recuperar de um caso de amor mal resolvido não precisa. Ela irá a todo custo se afastar do soldado que está sempre cercado pelas moças? CLARO QUE NÃO!! Ela é fatalmente atraída pelo jovem que nada tem a lhe oferecer.
Imaturo, Tom a abandonará na primeira oportunidade. É tudo o que o apaixonado e irreal Monsieur La Bessiere queria. Aqui, Adolphe Menjou dominando naquilo que mais fazia: papéis em que representa uma classe mais abastarda.
Vale lembrar que a cena em que Amy e Tom se conhecem acaba sendo uma das mais importantes do cinema, embora o filme não mantenha um bom ritmo depois disso. Aqui temos Marlene, cantando vestida num smooking e flertando com todos: homens e mulheres.
O beijo em uma mulher e a insinuação causou o reboliço que Marrocos precisava para ser impulsionado. Tudo ideia da própria Marlene. Depois disso, seu nome se estabeleceu e ela se tornou uma das deusas da era de ouro do cinema.
Um adendo: este foi o único filme com o qual Marlene concorreu ao Oscar. Ela jamais ganhou um. Além de Melhor Atriz, Marrocos também recebeu indicações para Melhor Direção artística, Fotografia e Direção.
O filme está sendo lançado no Brasil em DVD
A Obras Primas do Cinema lançou recentemente um box com quatro filmes de Marlene Dietrich: Marrocos (1930), A Vênus Loira (1932), O Expresso de Shanghai (1932) e Desonrada (1931). Além dos filmes, o box traz também dois documentários sobre Marlene Dietrich. Vale a pena conferir. Para adquirir o box clique na imagem abaixo: